Crítica: Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us)
Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us)
Direção: Hany Abu Assad
Elenco: Kate Winslet, Idris Elba, Beau Bridges, Dermot Mulroney, Linda Sorensen e Raleigh
Depois de assistir este Depois daquela Montanha (The Mountain Between Us, no original) a pergunta mais óbvia é: como dois atores do porte de Kate Winslet e Idris Elba se envolveram neste projeto? Assim como o fato de querer saber quando os realizadores de filmes baseados em novelas aprenderão que estão lidando como uma linguagem completamente diferente da literatura e que as emoções devem ser exploradas através de uma narrativa diferente do livro. Obviamente não li o livro em que a obra foi baseada, mas é notório que alguns elementos somente podem ter saído de um romance pautado por uma linguagem mais expositiva que o cinema, e que auxiliado por uma direção vacilante, torna este longa numa experiência cansativa e rasa.
Após ter seu voo cancelado, a jornalista Alex (Winslet) propõe ao Neurocirurgião Ben (Elba), que também perdeu seu voo, dividirem as custas de uma pequena aeronave e consigam chegar aos seus destinos o mais rápido possível, uma vez que ele tem uma importante cirurgia e ela vai se casar no dia seguinte (sim, casar no dia seguinte!). Todavia, sem avisar a ninguém em terra e depois de um acidente com o bimotor em que viajavam, os dois precisam sobreviver nas gélidas montanhas em que caíram e encontrar um caminho para voltar à civilização. Bem, pelo resumo da para no mínimo suspeitar que o enredo do filme vá assumir sua veia novelesca o mais rápido possível, não? Jornalista, casamento perdido, viajar sozinha com um neurocirurgião bonitão, etc. Não?
Baseado no livro (como não suspeitei disso antes?) de Charles Martin, o longa dirigido por Hany Abu-Assad se mostra tão pedestre na construção dos seus personagens principais que, por exemplo, os dois passam mais de um ato do filme juntos e a única coisa que conseguimos saber são obviedades de duas pessoas que parecem não darem conta da situação de vida e morte em que se encontram. Como o fato dele ser um homem pouco avesso ao diálogo (vindo de seu trauma passado), cujas perguntas feitas por Alex são mais vistas por ele como resultante do fato dela ser uma jornalista (Entendeu? Jornalista, perguntas…) que propriamente na vontade de estabelecer um convívio, mesmo que forçado, para saírem dali. Fora que Ben é quase sempre representado como o herói que pouco se machuca, escapa do perigo sem qualquer explicação e possui grande instinto de sobrevivência por seus conhecimentos médicos e mantém sua posição de macho alfa.
Tanto que devido a pouca capacidade do roteiro em tentar expressar as emoções daqueles personagens, a direção precisa usar de maniqueísmos para criar alguma identificação com aquela história apenas para apenas atender convenções do próprio roteiro. E para isso o que o mesmo faz? Insere um doce e adorável labrador para fazer companhia ao casal como elemento para ajudar a criar maior empatia pelos personagens humanos – algo, ratificando, que o roteiro não tem a capacidade de fazer por si mesmo. Fora que este mesmo roteiro é feito de situações igualmente risíveis e sem lógica, como o fato Alex tentar buscar ajuda mesmo estando incapacitada apenas para fazer uma espécie de birra com Ben, ao ponto inclusive, de deixar um bilhetinho como adolescente fugindo de casa e não de uma montanha no meio do nada. Ou como na cena que antecede o acidente, a sequência é mais interpretada como tragicômica que propriamente algo que possa emitir alguma tensão devido à presença do piloto interpretado por Beau Bridges.
Assim, ao inserir metáforas e rimas temáticas com a situação em que se encontram, a direção demonstra total inabilidade em desenvolver os conflitos sem tornar tudo uma grande obviedade, expositiva e unidimensional obra. Para se ter uma ideia, o filme tenta trabalhar a dinâmica do contraste (e acaba soando vergonhoso) entre Ben e Alex pelo fato dele ser um neurocirurgião e estar sempre lidando com o cérebro das pessoas e o órgão ser o responsável pelas… emoções? Emoções estas que Ben evita por ser um homem distante devido ao abandono da esposa. Sim. E tem mais, para justificar seu estado e comportamento frio e metódico ainda temos que ouvir a frase “O coração é apenas um músculo”.
Fora que é irritante que o filme abusa da paciência do espectador ao particionar de maneira pueril (no pior sentido da palavra) os conflitos dos personagens, como o fato dele ficar carregando um gravador que Alex ouve constantemente escondida, mas somente no final do terceiro ato é que ouvimos todo o conteúdo somente para causar aquele impacto dramático – que obviamente não funciona. E quando o filme abraça – de maneira óbvia, claro – o relacionamento entre o casal, a direção tenta criar um clima tipo “vai ou não vai” de maneira igualmente gratuita. Não há problema algum, e é até verossímil, que um homem e uma mulher sozinhos se envolvam amorosamente naquelas condições, mas o problema é a direção ser incapaz de criar qualquer tipo de tensão entre os dois se tornando tudo apelativo e sem identificação alguma – mesmo que Winslet e Elba tentem tirar o máximo possível de seus personagens de um roteiro que os sabota constantemente.
O roteiro é tão cheio de furos que numa determinada cena, depois de encontrarem um refúgio seguro, que imediatamente poderíamos pensar: E se estivéssemos no lugar deles? Bom, eles se encontraram em um local que foi habitado, eles estão perto de uma estrada ou algum tipo de civilização, ok? Sim. Mas parece que o roteiro somente lembrou isso depois deles passarem dias no local sem sequer mencionar o assunto, para apenas, repetindo, atender a convenção do roteiro e ratificar algo que o espectador já tinha imaginado logo de cara. Fora que num determinado momento, para tentar engrandecer o conflito dramático, Ben se volta para Alex e diz: “Não vou embora sem você!” – Ufa ainda bem, já imaginou deixar uma pessoa ferida e sozinha no meio do nada somente para alimentar seu ego?
Mesmo que a bela fotografia de Mandy Walker explore bem as paisagens, diversificando os locais de maneira fluída para dar o tom ao isolamento do casal dentro da paisagem gelada, tudo acaba perdendo o impacto devido ao restante da narrativa. Tanto que numa determinada cena, depois de inexplicavelmente passarem a noite no relento (uma vez que já estavam alocados no tal refúgio), a direção tenta inserir novamente um clima de tensão e perigo para Ben. Mas o desfecho da cena é tão risível que a presença do adorável cão é mais que “justificável” para a sequência, pois parece que Ben aprendeu aquele truque com o próprio animal.
E se o filme vai se tornando cada vez mais óbvio e previsível, ele se assume completamente aos clichês no seu arrastado terceiro ato em que Ben e Alex resolvem seus dilemas e conflitos. Incluindo num determinado momento uma câmera subjetiva inexplicável e absurda (aparecendo somente para o diretor mostrar seu conhecimento), a direção que já tinha mostrado não ser capaz de invocar alguma emoção sincera, se entrega ao um desfecho completamente ainda mais banal e que somente faria sentido dentro de uma mente imatura. Faltou somente os dois correndo em direção um ao outro em câmera lenta….ops !
Nota 2/5
Rodrigo Rodrigues
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como foi que atores tao bons se meteram numa enrrascada dessas???
nossa parabens pela analise, eu vi o filme e vim ler alguma coisa a respeito e bateu com tudo que eu pensei sobre ele, concordo em genero numero e grau
Almeida
Bem vindo
Obrigado pelo comentário e ter ajudado a compreender mais um pouco sobre o filme.
Justin
Bem vindo
Obrigado pelo comentário.
Realmente nem sempre as opiniões são unanimes. Por isso, é importante ao criticar um filmes apresentar exemplos através da linguagem cinematográfica. A pessoa pode até não concordar, mas entenderá como você chegou aquela opinião.
Abraços
muito boa critica… so via gente elogiando esse filme, mas sempre sem qualquer contexto, é só “é legal”, “gostei muito”, “achei demais” e eu sinceramente achei fraquissimo, concordo com tudo q vc falou