Crítica: Amor à flor da Pele (In the Mood for Love)

19

Direção: Wong Kar-wai

Elenco: Maggie Cheung, Tony Leung, Rebecca Pan , Kelly Lai Chen, Chan Man-Lei, Roy Cheung e Paulyn Sun

Anúncios

Nota 5/5

Nossas paixões reprimidas ou não correspondidas são elementos que nos completam como indivíduos. Com o passar dos anos, imaginamos como seríamos caso tivéssemos tomado certas atitudes, vencido alguns medos ou agido como mais rapidez em relação à esses amores; ou até mesmo outras oportunidades poderiam ter surgido mais à frente e sequer notamos por ficarmos presos ao passado.

Mas Amor à Flor da Pele não é somente sobre um romance (concretizado ou não) , mas uma forma de evolução de caráter, de como lidar internamente com um sentimento mutualmente explícito, sem recompensas e atemporal.

Considerado pela Filmelier como “um dos mais belos filmes sobre amor e desgosto” já feitos, Amor à Flor da Pelecapta o deslocamento e a sensação de se ficar, em um tempo e lugar que não existe mais e para o qual sempre se anseia voltar“. A obra de Wong Kar-wai (que foi premiado pela contribuição técnica em Cannes) parece mesmo entender como poucas a relação das pessoas com suas paixões reprimidas, seus sentimentos proibidos por motivos nem sempre – mas às vezes – com peso suficiente para desencadearem aquela repressão.

O diretor criou, de maneira delicada como de praxe, um manifesto de amor, o desejo de expor seus sentimentos diante da paixão ao lado, mas magistralmente velados, contidos e proibidos. Sem tornar o desejo dos amantes em uma consumação propriamente dita, a obra faz do universo do casal traído pelos seus respectivos companheiros um ambiente em que se sentem enclausurados mesmo estando tão próximos; não sendo à toa que o diretor traz os personagens sempre enquadrados pelos seus corredores apertados e por vezes movimentados no prédio em que são vizinhos, como se a aproximação inevitável sem o toque fosse uma penitência – assim, ao trazer os parceiros sempre fora de quadro, jamais ficamos conhecendo suas faces e nos concentramos totalmente na visão do casal principal.

Portanto, sempre fazendo seus personagens como elementos fluídos dos ambientes, a fotografia de Christopher Doyle, Pun-Leung Kwan e Ping Bin Lee transita entre um verde quase cadavérico (representando o tom vivido pelo personagem Tony Leug), e o vermelho (como contra ponto) representando a personagem de Maggie Cheung; vermelho esse explodindo na tela através das cortinas e paredes dos locais de encontro como se representando o máximo que aquela paixão pudesse expor – mesmo sufocada. Elogiável, portanto, que Leug e Cheung se completem com a química necessária para sentirmos na delicadeza do não toque, nas expressões e comportamentos mais simples que possam exercer sua felicidade; como um dos encontros feitos às escondidas na chuva ou em escadarias tortuosas do local. Assim, como é recompensador para narrativa a direção usar cortes destoantes de maneira elegante para expor a urgência do desejo entre os amantes, como na cena em que Maggie Cheung desce as escadas de um hotel (algo que na mão de um diretor medíocre seria desastroso).

Assim, essa dor maior, fincada na eternidade e remetida quase como uma doutrina espiritual, talvez seja o único alento para essa angústia e solidão daqueles dois (ou da nossa própria idealização!). Vale a pena esse amor?

The following two tabs change content below.
FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Amor à flor da Pele (In the Mood for Love)

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

19 thoughts on “Crítica: Amor à flor da Pele (In the Mood for Love)

  1. um filme bom, mas nada demais, nada acima da media, vale mais pelos dois atores e principalmente pela deusa maravilhosamente linda da Maggie Cheung

  2. A beleza do filme está na maneira como Wong consegue manipular as imagens e os sons, criando uma obra única. À imagem, principalmente, o diretor confere mesmo o estatuto de realidade; há um jogo que Su Li-zhen e Mo-wan praticam durante todo o tempo que dura a sua relação e que consiste na imitação do ausente: de seus esposos, querendo saber como estes começaram seu caso, os dois simulam as situações através das quais os amantes teriam se conhecido; de Su Li-zhen com seu marido, com ela o inquirindo sobre sua traição; e, finalmente, em uma das mais tristes cenas do filme, da separação deles mesmos, causada pela volta de seus cônjuges. A mimese da possibilidade, que perpassa a totalidade do filme, está ali equacionando imagem e real. É como se Wong dissesse: tudo é cinema.

    1. ODOE
      Bem vindo

      Porquê o comentário foi uma viagem?

      Abraço

    2. Juliana
      Bem vinda

      Sua análise foi muito bonita ao captar os sentimentos envolvidos. Parabéns!
      Abraço

  3. estranho como as pessoas mesmo em situacoes assim acabam se mantendo no casamento… e o cara ne coitado, foi traido pela esposa, depois rejeitado pela protagonista, e no fim ela separou do marido mas nao ficou com o cara kkk

  4. realmente uma bela obra tocante sobre amor não consumado e só “sofrido”, porém minhas ressalvas com a direção, que usou de cortes com fade escuro e longo em muitos momentos, talvez indicando uma passagem de tempo, enquanto em outros momentos a edição foi tão rapida e linear que confundiu a gente, nos fazendo pensar que era uma sequencia direta qd na verdade já estávamos em outro tempo… os letreiros com fundo preto intercalando fases tb ficaram estranhamento deslocados, parecendo uma tecnica antiga ja em desuso… e a mulher que se mostrava tao forte, inteligente e “independente” no trabalho e mesmo em casa com outros, em outras cenas parecia o estereotipo da mulher fragil e “bobinha”… mas tirando esses detalhes temos uma bela historia de amor, como falado ja, nao consumado, e pra muita gente um filme lento e chato, pra quem gosta de historia e não de ação, um belo filme, recomendo

    1. ah essa cena que vcs usaram na foto da critica pra mim simboliza uma prisao com as barras sendo formadas pelas sombras e mostra como eles se sentem presos seja no casamento seja no amor entre eles que sabem que jamais serao unidos

    2. Leomar
      Bem vindo
      Bem observado o simbolismo. Isso é uma prova de como podemos tirar mais do filme através dos detalhes.

      Obrigado

    3. concordo com sua visao sobre a cena da imagem que ilustra essa critica, mas coloco a posicao da mulher como sendo ela a “presa” e ele o “livre”… no fim das contas foi ela quem acabou se sentindo impedida de continuar a relação deles…

    4. Bem vindo
      Obrigado pelo comentário e que tenha trazido um opinião diferente e embasado com que esta na tela.
      Como crítico, não ficaria mais feliz por ter trazido tal discussão e engrandecer a obra.

      Abraço

  5. interessante heim… mas conta um spoiler aqui: ALERTA DE SPOILER eles ficam só no amor platonico ou chegama ficar juntos? ALERTA DE SPOILER

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *