Crítica: Dor e Glória (Dolor y Gloria)

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Diretor: Pedro Almodóvar

Elenco: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Penélope Cruz, Raúl Arévalo, Cecilia Roth, Nora Navas, Julieta Serrano, Agustín Almodóvar e Leonardo Sbaraglia

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Nota 4/5

A análise de um obra de Almodóvar, como este representativo Dor e Glória, passa explicitamente pelo uso recorrente de elementos de sua própria autobiografia ou situações que reflitam – mesmo que… digamos… “indiretamente” – suas experiências (até porque não podemos chamar filmes como A Pele que Habito ou Tudo Sobre Minha Mãe exatamente como pessoais…). Isso sem falar, claro, de princípios narrativos com sua assinatura, como o uso constante das “cores de Almodóvar”, ao mesmo tempo que a obra se torna uma homenagem ao próprio cinema, que foi de importância vital para o diretor. E mesmo que o filme se assuma em algum momento como uma espécie de auto-ficção, a força e sentimentos emitidos pelo longa torna impossível desassociar qualquer contexto ou envolvimento do protagonista com o artista – e isso é mais que suficiente.

No filme, Salvador (Banderas, servindo de maneira única como alter ego de Almodóvar) é um diretor de cinema em seu período de declínio criativo e pessoal, que se vê envolvido na comemoração de seu primeiro longa metragem que alcançou status de cult, 30 anos após seu lançamento, ao mesmo tempo que reflete sobre sobre seu passado e tem memórias sobre sua mãe, infância, amigos, amores e a sua própria arte. Trabalhando de maneira fluida as linhas temporais (infância e vida adulta), Almodóvar atrai o espectador para uma zona de conforto sem que ele deixe de se importar com as lembranças, mostradas através de personagens, inclusive, fazendo um exercício de metalinguagem. Exercício este que o Cinema traz, como informando anteriormente, como uma bóia de salvamento se misturando à lembrança de trivialidades da convivência, por exemplo, com sua mãe, e fascínio por figuras como Liz Taylor e Marilyn Monroe.

Assim, Antonio Banderas aproveita a chance em abraçar um personagem decadente ao manter sua expressão sempre acabada, de olhos pedantes, mas sem deixar de trazer a identificação – e até mesmo o lado cômico –  em situações completamente diferentes, seja ele como um homem se entregando ao vício devido às dores de um corpo e almas desgastadas pelo tempo ou no relacionamento com a mãe, permeado de afeto, doçura e conflito. Portanto, Dor e Glória é um review em Banderas, que se torna a personificação de um diretor cujas as mais antigas lembranças do cinema são o cheiro de urina e jasmim do interior da Espanha; assim como a infância pobre em que vivia com os pais e a representatividade religiosa na figura materna (Penélope Cruz, demonstrando a força habitual) – e o fato de morar em um lugar que remete a uma “caverna”, o ambiente é facilmente transformado em um ambiente afetuoso pela matriarca.

Ambiente este que a direção de artes transforma, devido a sua predominância pelo branco, também como uma alegoria para um local, uma tela branca para a construção do artista ainda criança e sua orientação sexual, cujo resultado desta formação se reflete na predominância das “cores de Almodóvar” do apartamento em que Santiago vive.

E neste ponto é elogiável que Almodóvar/Banderas acerte de maneira mais que pessoal o relacionamento de Santiago com seu antigo namorado, quando ainda era um jovem recém chegado a Madrid. Um encontro permeado de carinho, mas cujos momentos ficaram para trás; e como todo relacionamento do passado qualquer tentativa de reviver algum daqueles momentos pode ser um risco, independente do tipo de lembranças que possam trazer – inclusive, é interessante que o diretor torne este momento específico em uma crítica religiosa e à sociedade, devido a sua homossexualidade (“Nunca nos importamos com Deus”).

Além do mais, é elogiável a presença do ator Asier Etxeandia como Alberto Crespo, com quem Santiago ficou sem falar há 30 anos, e o fato de inicialmente o reencontro se apresentar frágil e permeado de conflitos pelo uso constante de drogas pesadas, é belo quando, em sua redenção, Santiago entrega aquilo que é mais importante: suas recordações e amor. E neste exercício metalinguístico, em uma belíssimo monólogo em que Crespo acaba por assumir a persona de Santiago, é que o filme assume de vez sua vertente em se transformar em um expurgo e libertação de seus conflitos, na figura de sua mãe (agora interpretada por Julieta Serrano).

Dor e Glória é uma obra de corpo e alma sobre a experiência de uma criança, um homem, um amigo, filho e amante, diantes da corrosão do tempo e das suas escolhas, em uma atmosfera pulsante e viva da arte. Isso é mais Almodóvar que nunca!

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Dor e Glória (Dolor y Gloria)

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

4 thoughts on “Crítica: Dor e Glória (Dolor y Gloria)

  1. Muito bom texto, mas me permita uma correção: o nome do protagonista é Salvador (aliás um nome muito bem escolhido dentro de uma família religiosa como a retratada no filme). Apesar disso, parabéns pela análise!

    1. Pedro,
      Bem vindo
      Muito Obrigado pelo comentário e elogio; e realmente não sei porque o nome foi salvo como Santiago e não Salvador como alertou. De qualquer maneira o revisor já foi demitido! Brincadeira!
      Abraços

  2. Almodovar é um dos meus favoritos, um dos grandes do cinema, parabens por mais essa grande obra!

    1. Fernanda
      Bem vinda
      Obrigado pelo comentário! Tem bom gosto rs
      abraço

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