Crítica: A Grande Aposta (The Big Short)
A Grande Aposta (The Big Short)
Direção: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Ryan Gosling, Steve Carell, Rudy Eisenzopf, Casey Groves, Hunter Burke, Marisa Tomei e Brad Pitt.
“A verdade é uma poesia, porém as pessoas não gostam de poesias”.
Após a sessão de “A Grande Aposta”, fiquei com a sensação de impotência ao constatar o óbvio: a fome deste capitalismo selvagem que domina o mundo, na qual a população é algo descartável. Antes de qualquer coisa, não estou dizendo que sou contra o capitalismo, pois seria hipocrisia da minha parte, pois sou um indivíduo consumista como qualquer outro. A falta de equilíbrio e humanidade daqueles que detém o poder me causa o inconformismo, principalmente a revolta por este sistema liberal e sem regulamentação, defendido como ideal por boa parte da elite e da mídia que nunca procura investigar os fatos por comodismo. Elite esta que torce descaradamente para o insucesso de um país com única finalidade de aumentar os seus lucros e fortalecer suas influências.
Iniciado ainda nos anos 70, “A Grande Aposta” mostra rapidamente como as instituições financeiras eram apenas escritórios burocráticos, esfumaçados e sem vida. E que se transformaram em mega corporações, sendo o emprego dos sonhos de jovens sedentos pelo poder, e em playground para investidores detentores de boa parte da fortuna mundial. Ao analisarmos o contexto do filme, o estouro da bolha imobiliária estava sendo alimentada por décadas e, neste mundo, nada mais primordial do que antecipar as decisões e ter um olhar atento ao mercado financeiro e seus avisos.
O diretor Adam Mckay é hábil e contundente ao compartilhar com todos os detalhes a crise hipotecária que abalou os EUA e o mundo em 2008, que repercute até os dias atuais. Sob a ótica de vários personagens, sem que possamos realmente nos identificar com um único deles, o telespectador passa a torcer pelos indivíduos, sem que percebamos o erro por sermos as maiores vítimas daquela aposta. Tais personagens têm sua visão, consequências e lucros vistos de maneiras diferentes. Como o fato de termos o Dr. Michael Burry (Bale, em mais um desempenho magistral) que demonstra toda a sua capacidade única com os negócios, mas, ao mesmo tempo, se apresenta como um homem antissocial, adverso ao contato, passando os dias trancados em seu escritório ouvindo a emblemática “Master Of The Puppets”, do Metallica e servindo de investidor para uma grande empresa. Por outro lado temos Mark Baum (Carrel, mais uma vez brilhante) e sua equipe sendo usados como peão para o ambicioso Jared Vennet (Goslin), exemplo maior desta ganância desenfreada; assim justamente por ser o apelo maior perante o público, Brad Pitt surge de maneira interessante, pois é a consciência moral deste filme – por mais que ele tenha sido um dos beneficiários no passado – e é o único a admitir que as ações (vistas como um ato de inteligência e soberba) atingirão aqueles que mantêm este cenário: famílias endividadas e que acreditaram em um sistema sólido, sem que as instituições informassem os reais riscos apenas para darem mais crédito de maneira irresponsável.
O roteiro, escrito pelo diretor juntamente com Charles Randolph, abusa de termos técnicos (CDO, lastros, CRA etc) que, por vezes, pode confundir os espectadores. Contudo, se analisarmos que esta sempre foi a intenção do mercado, de criar um desserviço com estes termos, é mais do que louvável a decisão da direção de usá-los. Mas para conseguir transformar tais conceitos em algo mais aprazível, o diretor aposta na sua narrativa para criar a identificação, como o constante uso da quebra da quarta parede (quando os personagens falam diretamente com o público) ou o uso do depoimento de personagens como o da Selena Gomez e do Chef Antony Bourdain que criam analogias para o entendimento dos conceitos econômicos, quase como um exercício metalinguístico de humor negro. A direção também usa a câmera em vários momentos de forma documental (tremida, mudança brusca de zoom) para dar um tom maior de realidade, inclusive para completar a boa montagem entrecortada com acontecimentos e cenas do cotidiano americano, ou seja, a prepotência consumista em geral da sociedade que vai do luxo ou lixo em questão de poucos meses.
Mesmo ainda que isso não seja possível o entendimento completo destes conceitos e o desenrolar dos acontecimentos, a história deixa claras as consequências: desemprego e famílias desamparadas, além da impunidade para os poderosos de Wall Street que, com o conluio, sabem que no fim das contas eles receberão o suporte governamental para continuarem com os seus esquemas, independente do ramo que atuarem. Nada mais triste, portanto, que constatar que muitos dos criminosos foram os responsáveis pelo colapso financeiro de 2008 e que nenhum deles foram preso. A culpa recaiu justamente nos mais necessitados (classe operária, imigrantes e pessoas com baixo poder aquisitivo) somente pelo fato destas pessoas almejarem uma qualidade melhor de vida ou porque simplesmente este grupo – além de serem a maioria e os que mais sofrem – são os que mais compram a ideia de que o sistema financeiro é seguro. Talvez o façam por não conhecerem os bastidores desta política financeira globalizada e cruel.
Cotação 5/5
Rodrigo Rodrigues
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Eu não tenho problema com filmes ou séries chatas, quando são interessantes. Mas A Grande Aposta não me interessou em nenhum momento, e de tão chato que estava, eu pensei em sair do cinema no meio, mas aguentei até o final.
As quebras de quarta parede quase nunca funcionam e a direção do Adam McKay é extremamente cansativa.
A única coisa boa do filme é a trilha sonora que fecha bem com Led Zeppelin, mas eu achei muitas vezes muito mal colocada. Parece que eles queriam fazer isso mesmo, para parecer uma coisa não muito profissional, mas não deu muito certo.
Obrigado pelo comentário Markus. Pena que o filme não tenha interessado pois é para mim ele foi um muito bom.
Discordo quando diz que a direção é cansativa, pois em nenhum momento me deixou com esta impressão. Tanto a edição, montagem e direção foram competentes em passar a mensagem principal, que mesmo com o “economês” ficou bem clara.
Mas de qualquer maneira agradeço novamente por ter lido a crítica e espero que nas próximas vezes possamos discutir ainda Cinema.
Abraços.