Crítica: O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)
O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett)
Direção: Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz
Elenco: Ronit Elkabetz , Menashe Noy , Simon Abkarian e Sasson Gabai
Em homenagem a atriz e diretora Ronit Elkabetz, que faleceu nesta terça feira (19) em decorrência de câncer, o site Maxiverso publica a crítica de um dos melhores filmes de 2015 : O Julgamento de Viviane Amsalem.
Inicialmente destacamos que num certo momento a protagonista (Ronit Elkabetz) grita diante do espectador demostrando todo seu desespero, depois de não poder mais se conter diante de tanta inércia e benevolência diante da recusa à mulher para que ela obtenha seu tão desejado divórcio do marido que nunca amou.
Este é apenas um dos especulares momentos deste soberbo O Julgamento de Viviane Amsalem, que retrata o impasse anacrônico de parte da sociedade israelense diante do divórcio e da posição feminina; tais tribunais que ainda se prendem as leis religiosas comprometendo suas decisões em vez de pensarem sempre no bem individual – integrantes estes que são mais reconhecidos pelas suas posições religiosas que propriamente jurídicas -, tornando um julgamento uma verdadeira saga pela liberdade feminina (evidenciado pelos constantes letreiros que anunciam as inúmeras passagens de tempo durante a projeção).
Dirigido de maneira impecável pela própria atriz em conjunto com seu irmão Shlomi, o longa se torna uma crítica a conduta desta sociedade, e o ainda faz de maneira segura ao alternar momentos de humor e drama. Mas não se trata de um humor escapista para criar uma rápida identificação com o público, mas sim instrumento para criar um cenário de mais tensão pelo seu nervosismo onde mesmo as risadas não soam como somente subterfúgio, mas a única reação que se pode ter diante desta sociedade.
Sociedade esta que vê uma mulher solteira como abominação, algo a ser ignorado ou no máximo ter como exemplos pejorativos de sexualidade barata, como por exemplo, numa das melhoras cenas do longa em que uma das testemunhas femininas fala diante do Júri e expõe de maneira hilárias as condições e pensamentos desta mulheres.
Estes depoimentos são um belo exemplo interessante do contexto do filme: se o estridente depoimento da primeira mulher é feito por estar ciente das suas emoções e que não aceitar abaixar a cabeça para ninguém, temos o segundo depoimento contrastando em atitude e pensamento por ser aquele o exemplo de casamento ideal para a sociedade (mulheres que não têm receio de pensar ou agir por contra própria por ter na figura dos maridos o sustento da família).
A direção consegue imprimir um ritmo ágil, mesmo o filme se passando em sua maior parte em um único cenário, e para isso a mise-en-scène é extremamente importante por estabelecer a posição dos atores; e a câmera que trabalha quase todo tempo parada, apenas alternando o ângulo de visão para inserir o espectador – ora como a julgada, ora como Júri.
Para que todo o conjunto funcionasse nenhuma peça poderia falhar, e assim sendo, o elenco primoroso é o combustível para a identificação com o público. A bela atriz Ronit Elkabetz que interpreta a protagonista é extremamente expressiva e consegue com um olhar passar todos seus incrédulos pensamentos de um julgamento que a extenua ao máximo tanto fisicamente quanto psicologicamente.
Ela representa a nova fase da emancipação que não tolera que a sociedade a rebaixe diante do marido como uma serva, uma mulher que foge do comportamento submisso e se apresenta diante da sociedade como bem entender, mas que acima de tudo poder demostrar seu sentimentos a quem realmente ama.
Destaque também o advogado Carmel Ben Tovim (Noy) que também é um dos símbolos desta luta contra o imperialismo religioso nas questões jurídicas por esquecer-se de usar seu Quipá durante as sessões e que nutre certa admiração por Viviane, mas que aqui é apenas sugerido é não declarado.
Até mesmo as figuras que poderiam se tornar secundárias se tornam “algozes” a altura e servem para engrandecer a narrativa, como por exemplo o advogado do marido vivido pelo ator Sassom Gabai, que surge primeiramente de maneira simples, como um querido membro da família, mas que aos poucos vai se tornando um oponente que representa o clero e as tradições. E mesmo o marido vivido por Simon Abkarian, que não faz muito a não ser negar o divorcio, é capaz o suficiente em atrair a antipatia do público ao negar-se até as ultimas consequências .
O Julgamento de Viviane Amsalem fecha com plano significativo simbolizando não apenas um exemplo de uma mulher que apenas deseja sua liberdade, mas sim toda a luta contra qualquer sociedade que negue absurdamente tais direitos. Mesmo que tal liberdade – infelizmente – seja feita em lentos passos.
Cotação 5/5
Rodrigo Rodrigues
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