Walking Dead: valeu a pena esperar tanto?

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Toda a Internet já sabe o que ocorreu na abertura da sétima temporada da série The Walking Dead, da AMC. O retorno brutal do seriado trouxe, sem enrolação nenhuma (esse era o maior medo dos espectadores), a resposta para o cliffhanger deixado no season finale da última temporada.

A questão agora é: valeu a pena esperar todos esses meses? A resposta, e o episódio em si, foram à altura da expectativa criada?

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Os que leram as HQs na qual a série se baseia, de certa forma, se mostraram um pouco decepcionados, o que não deixa de ter um certo fundamento, afinal, a “surpresa” foi mostrar basicamente o que já tinha ocorrido na revista, ou seja, a morte de Glenn. Eles, portanto, já sabiam o que iria ocorrer, ainda que a forma como isso aconteceu foi bastante diferente.

Além disso, podemos citar os problemas técnicos que o episódio teve, como a cena final, do almoço, que tinha o propósito apenas de emocionar o espectador e levá-lo às lágrimas, sem agregar nada em termos narrativos. A cena com o Carl – apesar de tensa ao extremo e ter um excelente trabalho dramático do ator Andrew Lincoln – mostra-se um certo contra-senso, já que deveria ratificar a firmeza de decisões de Negan, porém o mesmo “volta atrás” e contenta-se em ter apenas dado um susto em Rick e sua trupe.

Se levada a cabo a ameaça, além de fazer mais sentido no contexto em que Negan se apresentava, ainda teríamos um belo paralelo com as HQs, na qual Rick perdeu a mão no arco do Governador (aliás, essa expectativa foi gerada nos leitores da revista naquele momento, o que aumentou o suspense da cena).

Por outro lado, para quem não leu as HQs e não foi vítima – voluntariamente ou não – de algum spoiler nas duas últimas semanas, o choque causado pelas mortes (principalmente a segunda) e o episódio em si satisfizeram plenamente o período de espera entre o fim da última temporada e o início desta. O episódio inclusive deve fazer história na televisão, por conta do grafismo das cenas e da violência extrema, o que demonstra coragem da produção, que ousou dar um passo além do que é comumente mostrado na TV, mesmo na própria série.

A verdade é que não é fácil contentar todos os tipos de espectadores que uma série dessas tem, ainda mais sendo baseada em uma revista em quadrinhos que ela segue quase que literalmente.

WalkingDead-300x300 Walking Dead: valeu a pena esperar tanto?Alguns críticos, por exemplo, viram nessa violência e grafismo algo “gratuito” ou “exagerado”, feito apenas com o propósito de chocar a audiência. Outros criticaram o fato de Glenn ser uma das vítimas, já que havia ali uma oportunidade de se chocar também o leitor das HQs, mudando-se a escolha de Negan. E é evidente que se Glenn não tivesse morrido, haveriam os fãs hardcore da revista que bradariam contra a alteração, mesmo que a nova vítima fosse um dos principais integrantes do cast, como Carl, Maggie, Daryl ou Michonne.

O que a produção fez então foi um episódio que, teoricamente, deveria contentar a todos.

Primeiro, Negan mata Abraham, que se não é tão dispensável quanto Rosita ou o seu amigo Eugene, estava longe de ser um dos personagens principais. Isso, por si só, já foi uma saída interessante, já que “enganou” os leitores das HQs (aqui o fator surpresa os pegou em cheio, ainda que a falta de protagonismo do personagem tenha diminuído o choque).

Depois, quando Negan – agora sim, inesperadamente – mata Glenn, temos o complemento bem sacado das ações em tela, já que se cumpre a aproximação com as HQs, cujos leitores são “surpreendidos”, pois não esperavam uma segunda morte no episódio. Além disso, um dos personagens mais queridos dos espectadores dava adeus à história de forma realmente chocante e dramática, já que sua morte foi uma retaliação extra de Negan por conta da desobediência de alguns ali presentes.

Se pensarmos em termos de contexto, Negan agiu de forma bastante condizente com o que dele se espera. Como ele próprio diz, em determinado momento metalingüístico do episódio, aquela era a hora em que o mesmo “se apresentava” aos nossos protagonistas – e aos espectatdores, para que eles o “conhecessem”. Negan – e o seriado em sí – estava nos mostrando que aquele vilão ali não é chegado em bravatas vazias, em ameaças não cumpridas, em promessas que não serão levadas a cabo. Com Negan, temos que temer que qualquer um, mesmo dentre os principais personagens, pode morrer. Esse foi o recado (e por isso a cena do braço de Carl não deixa de ser um equívoco, ainda que dramaticamente bem explorada). Agora, sabemos “quem” Negan é, e do que ele é capaz. Agora nós “pesamos no que pode acontecer futuramente”, conforme o próprio recomenda, em outro momento metalingüístico.

Aliás, a própria série se mostra bastante coerente aqui, visto que em todos os seus momentos cruciais e importantes, portanto, continua seguindo o material originalmente publicado nas revistas, descontando-se evidentemente as alterações impostas pela realidade diferenciada vivida na TV, onde, por exemplo, Daryl e Carol são protagonistas. Assim, faz bastante sentido que, dentre os principais personagens, tenha sido Glenn o assassinado, e não um dos outros.

Aqui convém sempre lembrar que, apesar de seguir e se inspirar nos quadrinhos, a série é uma produção diferente, em outra mídia, que deve ser entendida e apreciada de forma isolada, assim como um filme também baseado em quadrinhos ou em um livro. Desta maneira, é compreensível que alguns leitores das HQs preferissem que outro protagonista fosse escolhido por Negan (pois assim eles seriam surpreendidos), mas o fato do episódio ter sido fiel à revista não pode ser visto como um defeito em si.

Outra coisa interessante a respeito do episódio foi a reação de muitos espectadores para com os personagens assassinados do episódio. Alguns críticos viram na edição uma tentativa de se brincar com as expectativas, nos fazendo “querer” as mortes, para depois “nos entristecermos” com elas, o que seria uma jogada “suja” do roteiro e da produção. Na verdade, o que ocorreu – pelo menos para a maioria dos espectadores – foi uma expectativa (e não uma “torcida”, um “desejo”) em cima de saber a identidade da vítima de Negan.

A própria existência das HQs jogaram com isso, pois a dúvida sobre a fidelidade à revista contribuiu para a expectativa: na TV também seria Glenn o escolhido no “uni duni tê” ou não? Seria muito óbvio fazer na série da mesma maneira como na revista, ou não?

Em resumo, portanto, tivemos um episódio tecnicamente quase “burocrático”, em termos de roteiro e edição, quase que seguindo um manual do que se fazer para alavancar audiência em uma série de televisão. Isso é ruim? Não. A expectativa gerada lá atrás no cliffhanger do season finale foi cumprida, ficamos sabendo quem é a vítima de Negan e, depois, somos surpreendidos com uma segunda morte, agora de um dos principais protagonistas. Conhecemos Negan e sabemos do que ele é capaz, de forma que mesmo Rick e sua equipe, acostumadas a superar os maiores adversários, agora se vêem diante de alguém “superior”, além de estarem com a confiança totalmente em frangalhos.

A resposta para a pergunta inicial deste texto é, portanto, que sim, valeu a pena esperar todo esse tempo. The Walking Dead ganhou um novo rumo, um novo “clima” e um sentido totalmente diferente daquele que nos acostumamos desde o arco do Governador. E tudo isso ocorreu de forma chocante e explícita. Depois de ter sido criticada por não mostrar no season finale quem era a vítima de Negan, a série se redime com esse início de sétima temporada.

Quanto aos ganchos deixados em finais de temporadas apenas com o objetivo de se segurar a audiência, apesar de as vezes nos deixar meio ressabiados, faz parte da estrutura de um seriado de TV e comercialmente é um recurso não só útil como necessário. O caso de John Snow, por exemplo, é análogo, e demonstra como quase todas as séries usam desse artifício.

Aqui, mesmo os que criticaram o episódio podem concordar com uma coisa: não é fácil para uma série longeva conseguir se manter em alta por tantos anos, e TWD consegue fazer isso, mudando sua cara mesmo se mantendo fiel às HQs.

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Ralph Luiz Solera

Escritor e quadrinhista, pai de uma linda padawan, aprecia tanto Marvel quanto DC, tanto Star Wars quanto Star Trek, tanto o Coyote quanto o Papaléguas. Tem fé na escrita, pois a considera a maior invenção do Homem... depois do hot roll e do Van Halen, claro.

8 thoughts on “Walking Dead: valeu a pena esperar tanto?

    1. hahahaha deve ta p.u.t.o. pq ninguem caiu na sua… volta pra Supernatural vai kkk

  1. Sempre tem os que problematizam as coisas… respeito muito o Roberto Andrade, mas ele achou que não devia mostrar as vísceras… já o Pablo Vilhaça, que tb respeito, criticou as mortes, disse que só servem para chocar, pra nós querermos elas e depois ficarmos mal… eu pessoalmente vi coerência em tudo, é um mundo selvagem, de zumbis, os valores são outros, e aí vem o Negan e mostra que não é um bocó qualquer, um vilãozinho de “gibizinho” (hahahaha), mas sim um fedapouta fodástico que fala e cumpre, mata a cobra e mostra o pau, e pega pra capar, debulha mesmo, e ai o episódio mostra tudo que é pra tirar a gente da nossa zona de conforto, tipo, nao foi só uma morte pra cumprir cliffhanger, foi algo pra romper com o padrão, pra estabelecer um antes e depois, pra mostrar que o Negan é sim foda e que o cara é perigoso até pros nossos heróis… pra mim não há erro algum ali, foi muito bem explorado, só a cena do braço do Carl concordo, não fez sentido… parabéns pela análise

    1. Bom comentário José! O episódio foi planejado por vários meses, tudo ali mostrado foi calculado para gerar o impacto que gerou e todos os elementos ali inseridos possuem alguma finalidade (a maioria, vc listou). A cena do braço realmente parece que não bate com o discurso do próprio Negan, mas ainda assim ficou interessante e gerou outro pico de tensão e expectativa no episódio. Abraço!

  2. se valeu? valeu muito!!! valeu demais!!! melhor episodio de todos os tempos, perfeito!!! enganou todo mundo com o Abraham primeiro, depois mostrou que tava falando sério qd ameaçou geral e ai o Daryl reagiu e toma lerdo, causou a morte do Glenn tb, pra mim foi perfeito

  3. eu leio e mesmo assim adorei, já que me enganaram primeiro com o Abraham rsrs ai eu pensei “legal, foi o Abraham, não o Glenn, ufa” mas depois foi a catarse… pqp foi f o d aaaa

  4. a cena final realmente nao tem proposito narrativo mas eu curti mesmo assim eh tipo pra gente visualizar em tela o que o Negan disse e ficarmos tristes pq akele futuru nunca vai se materializar claro que foi um golpe baixo do roteiro hahahahaha mas acho que nao atrapalhou nada e foi bem legal eu gostei

  5. Perfeita a análise!!! Valeu sim! E cara reclamar que foi o Glenn é demais né… se é fiel a HQ, reclamam, se não é, reclamam, se faz igual pedem pra mudar, se mudam pedem pra fazer igual… saco viu

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