1ª Dica p/ novos jogadores – Conheça Melhor os Board Games Modernos
Esse texto faz parte de uma série, e serve como uma introdução aos board games modernos. Eles apresentam dicas para os novos jogadores, que recentemente descobriram o incrível universo dos jogos de tabuleiro modernos ou board games. Para facilitar, vale esclarecer que nos próximos textos dessa série, qualquer menção a jogos ou jogadores, se refere aos assim chamados board games modernos, e seus entusiastas os boardgamers. Isso é importante para evitar qualquer confusão com outros tipos de jogos como vídeo games, ou outros jogos que não se encaixam nessa categoria de “jogos de tabuleiro”. Porém, é importante dizer que esses limites são amplamente discutíveis.
Também é importante destacar que os textos dessa série são direcionados para novos jogadores. Assim, muito do que será dito aqui é de conhecimento geral, de quem já tem mais tempo no hobby dos board gamers modernos. Mas para os recém chegados as informações do texto são algo totalmente novo. Além disso, a análise dos temas abordados ocorrerá de forma geral, sem o aprofundamento desejável, dada as limitações de espaço. Por isso, são muito bem-vindos os comentários dos experts em jogos de tabuleiro, que venham a enriquecer as informações desse texto. Essa contribuição respeitosa, daqueles que sabem mais, é fundamental para a expansão e fortalecimento do hobby.
Boa parte da comunidade boardgamer começou com o RPG no anos 80, embora alguns “mais maduros” até tenham jogado os “miniature wargames” dos anos 70. E aqui não se pode deixar de mencionar o “Hero Quest” de 1989, que muitos consideram o primeiro board game lançado no Brasil, em 1994. E isso apesar do jogo ser anterior ao “Colonizadores de Catan” de 1995, que é considerado o jogo que deu início a era dos jogos de tabuleiro modernos. Esse aparente paradoxo será melhor explicado ao longo do texto.
Imagem: Ludopedia – Hero Quest
Depois veio o “Magic: The Gahering”, no anos 90, e depois os primeiros anos de jogos de tabuleiro importados em “2000 e alguma coisa”. No período entre 2010 e 2014, o mercado nacional de jogos começou a se estabelecer, e aumentaram os lançamentos de board games por aqui. Por fim, houve um crescimento significativo do hobby em 2017/2019, época em que a grande maioria dos assim chamados recém chegados ingressou no hobby. Essa é a historia de quase todas as pessoas que compõem o nosso atual mercado de board games. Porém, evidentemente, os jogos de tabuleiro, propriamente ditos, são mais antigos. Muito mais antigos.
Jogos de Tabuleiro Ancestrais
A origem dos jogos de tabuleiro se perde nas areias do tempo, durante os primórdios da civilização. Por isso, não é possível precisar com exatidão qual teria sido o primeiro jogo de tabuleiro que foi criado. Nesse aspecto, só pode afirmar qual foi o jogo de tabuleiro mais antigo que chegou até os dias atuais como os que são citados a seguir. Desse modo, é perfeitamente possível que exista algum jogo ainda mais antigo, que se perdeu no decorrer das eras. E mesmo quando se trata dos jogos ancestrais conhecidos, a primazia em termos de antiguidade é objeto de intenso debate (veja aqui um artigo especial sobre os jogos ancestrais).
Imagem BGG: Mancala
Um exemplo disso é o “Mancala”, que não é apenas o nome de um único jogo, mas sim de toda uma família de jogos, com grandes afinidades entre si e fortes traços em comum. De uma maneira geral, “Mancala” é composto de um conjunto de peças iguais (sementes secas, feijões, contas e assemelhados) e um “tabuleiro”, digamos assim, que consiste de duas ou quatro fileiras de orifícios paralelos.
Ele é jogado passando as sementes de um “buraco” para o outro. Assim, o “Mancala” tem uma óbvia associação com o ato de plantar, e com a agricultura. Isso, a princípio, leva à conclusão de que ele seria tão antigo quanto os primeiros assentamentos humanos fixos. No entanto, essa tese carece de base científica, pela falta de evidências físicas que a corroborem.
Os registros mais antigos do jogo, de que se tem notícia, são bem mais recentes. O jogo está registrado em tabuleiros de argila e rochas esculpidas, encontrada na Etiópia e Eritréia, com datação dos séculos VI e VII d.C.. É claro que a simplicidade dos componentes pode ser uma explicação para essa ausência de evidências físicas. Não faria muito sentido gastar tempo e ferramentas (recursos importantes), para escavar um pedaço de madeira, ou fazer um tabuleiro de argila, quando é perfeitamente possível jogar o “Mancala”, com algumas pedrinhas e alguns buracos no chão. Apesar disso, dos jogos ancestrais, o “Mancala” é provavelmente o mais jogado nos dias de hoje, principalmente na África, Oriente Médio e em algumas comunidades nos Estados Unidos.
Imagem BGG: Jogo Real de Ur
Por outro lado existem jogos que são comprovadamente muito antigos, e que possuem evidências físicas que corroboram a sua ancestralidade, diferentemente do “Mancala”. Esse é o caso do “Jogo Real de Ur”, cujos tabuleiros foram encontrados durante a década de 1920, em escavações arqueológicas da antiga cidade-estado mesopotâmica de Ur.
Esse jogo é tão antigo (acredita-se que ela surgiu entre 2.600 a 2.400 a.C.), que o seu próprio nome se perdeu. Por isso ele é chamado simplesmente de “Jogo Real de Ur”, porque somente a mais alta nobreza poderia dispor do luxo de ter tempo livre para se distrair, ou possuir objetos mais sofisticados, não ligados ao trabalho, como o componentes do jogo. O resto do povo se distraía trabalhando, e possuía basicamente suas ferramentas, instrumentos de trabalho, e talvez alguns ornamentos rudimentares.
Imagem BGG: Senet (jogo completo encontrado dentro da tumba do Faraó Tutancâmon)
Outro jogo ancestral é o “Senet”, que tem origem no Egito e é um possível antepassado do “Gamão”. Os registros mais antigos desse jogo são papiros datados entre 1.000 e 1.500 a. C., aparecendo ainda retratado em várias tumbas egípcias.
Imagem Facebook: Cães e Chacais
Um jogo igualmente popular no Egito foi o “Cães e Chacais”, como ele é modernamente conhecido. Seu surgimento se deu aproximadamente por volta de 2.000 a. C. Esse jogo inclusive aparece em uma cena do clássico “Os Dez Mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille, com Charlton Heston e Yul Brynner.
A LINHA DO TEMPO DA EVOLUÇÃO DOS BOARDS GAMES
Desses tempos imemoriais para cá, muitos outros jogos de tabuleiro foram criados, ao longo dos séculos. Em diferentes momentos, nasceram jogos como o Xadrez, o Go, o Jogo de Damas, o Gamão, variados jogos de cartas e de dados, até o século XX. Nessa época, principalmente na Europa central, os jogos de tabuleiro surgiram como uma alternativa barata e viável, para que as famílias pudessem se distrair, ao longo dos rigorosos meses de inverno. Nessa estação, as grossas camadas de neve e o frio intenso tornavam praticamente impossíveis as atividades de lazer fora de casa.
Essa situação se agravou ainda mais, no período pós II Guerra Mundial, quando boa parte dos países da Europa Central, tais como Alemanha (principalmente a Alemanha), a Áustria, a Polônia, a antiga Checoslováquia, haviam sido destruídos. Isso fez com que as famílias acabassem desenvolvendo o hábito de se reunir para jogar “jogos de tabuleiro”, principalmente na Alemanha, que foi o país mais devastado pelo conflito.
Esse dado é muito importante, porque influenciou diretamente o estilo de jogos europeus, os “eurogames”, ou simplesmente “euros” (nenhuma relação com a moeda europeia). Após o fim da II Guerra Mundial, havia uma real preocupação que a situação posterior a I Guerra Mundial se repetisse, com a Alemanha se reerguendo como potência bélica após algumas décadas, e lançando o mundo em uma eventual III Guerra Mundial. Foi o início da chamada Guerra Fria, que perdurou até o fim dos anos 80.
O receio, pelos próprios alemães de um segundo “Tratado de Versalhes” desenvolveu um sentimento de forte repulsa social a quaisquer elementos bélicos. Do mesmo modo, havia também, uma forte necessidade de se desassociar de absolutamente qualquer coisa, que tivesse a mínima relação com o nazismo, cujas atrocidades ainda eram uma lembrança muito recente, vergonhosa e dolorosa.
Imagem Pinterest: Board Games em Família nos Anos 50
Por outro lado, a Alemanha vivia um período de reconstrução. A gestão de pessoas e gerenciamento de recursos eram os assuntos da pauta, e amplamente discutidos dentro das famílias alemãs. Como não poderia deixar de ser, esse cenário teve forte impacto inclusive sobre os jogos de tabuleiro. Assim sendo, o estilo alemão de jogos de tabuleiro acabou sendo muito mais focado na gestão de recursos, do que propriamente no confronto direto entre os jogadores.
O objetivo dos jogos “euro” não estava focado em derrotar o inimigo, através da sua eliminação por combate e destruição de seus exércitos. O foco era derrotar o adversário pela utilização dos recursos próprios, ou comuns a todos, de uma forma melhor e mais eficiente.
CHEGANDO AOS TEMPOS ATUAIS
Enquanto isso, do outro lado do Oceano Atlântico, os Estados Unidos, uma das duas superpotências emergentes da II Guerra Mundial (a outra era a antiga URSS), se via como uma nação guerreira e orgulhosa de ter vencido a guerra. É claro que o fato dos horrores da guerra terem ocorrido em outro continente, e de nenhuma cidade norte-americana ter sido bombardeada ou destruída, contribuíram muito para isso. O ataque à Pearl Harbor, apesar de covarde, envolveu uma base naval, e não uma cidade.
Esse sentimento ainda levaria os norte-americanos a se envolverem diretamente em dois outros grandes conflitos armados, a Guerra da Coréia e do Vietnam. Isso representava uma busca incessante por barrar a expansão do comunismo e aumentar a esfera de influência mundial norte-americana, principalmente através do desenvolvimento do seu poderio militar.
Por tal motivo, faz todo o sentido, que boa parte dos jogos de tabuleiro americanos, tivesse o foco no conflito direto e eliminação de adversários. Isso inclusive resultou na criação de toda uma categoria de jogos com essa premissa, que foram os “war games”. Tais jogos se tornaram muito populares, especialmente nos EUA, na década de 1970.
Imagem: BGG – Warhammer 40K – um dos wargames mais importantes de todos os tempos
Esse estilo acabou originando, mais tarde, a criação dos famosos jogos “ameritrash”, em que se valoriza o confronto direto entre jogadores, ou a cooperação, e semi-cooperação, deles contra o próprio jogo. O tema é fundamental e sempre muito bem trabalhado. O fator sorte não é tanto um tabu como nos jogos euro e o uso de miniaturas é um diferencial.
Algumas pessoas preferem hoje o termo “amerigame”, por entender que “ameritrash” (lixo americano) é um termo depreciativo. Ele teria sido cunhado para hostilizar os apreciadores desse estilo, como se eles não tivessem imaginação necessária para os jogos abstratos, nem a capacidade intelectual suficiente, para jogar jogos euro. Essa, sem dúvida, é uma besteira sem tamanho e não tem o menor cabimento. Apesar disso o termo “ameritrash” pegou e hoje é utilizado como um contraponto aos jogos “euro”.
A PREMIAÇÃO QUE MUDOU O DESTINO DOS JOGOS
Em 1978 ocorreu um evento muito importante para os jogos de tabuleiro, cujo impacto repercute, principalmente nos dias de hoje. Foi nesse ano que um grupo de jornalistas alemães, entre eles Tom Werneck e Jugen Herz, preocupados com a baixa cobertura da mídia para os novos jogos alemães, resolveram criar uma premiação para o melhor jogo lançado na Alemanha naquele ano. Para isso eles selecionaram um júri, composto de pessoas sem nenhuma ligação com a indústria alemã de jogos, e que experimentariam todos os jogos lançados nos doze meses anteriores.
Nascia o “Spiel des Jahres”, que veio a se tornar, e é até hoje, a mais importante premiação do mundo, nesse setor. Ele é mais ou menos como se fosse um “Oscar dos Jogos de Tabuleiro”. No início essa premiação não era muito organizada. Para se ter uma ideia, houve um ganhador em 1978, “A Lebre e a Tartaruga”, um jogo inglês de 1974, lançado pouco depois na Alemanha pela empresa Ravensburguer. Mas esse “primeiro lugar” precisou ser repetido em 1979, porque em 1978 o grupo de jornalista não conseguiu organizar o evento da premiação.
Apesar desse início nada auspicioso, o fato é que o “Spiel des Jahres” foi crescendo cada vez mais e se tornando cada vez mais relevante para a indústria de jogos de tabuleiro. Posteriormente, em 1989, surgiu a categoria “Kinderspiel des Jahres” (Jogo do Ano para Crianças), dedicada a jogos infantis, e depois, em 2011, a categoria “Kennerspiel des Jahres” (Jogo do Ano para Especialistas) para jogos mais complexos e mais pesados.
Atualmente, apenas a indicação ao “Spiel des Jahres” já é uma certeza de vendas astronômicas. Ganhar o prêmio é a verdadeira consagração, tanto do jogo, quanto do seu designer, e vendas na casa das centenas de milhares de unidades, no mundo todo.
Imagem Google: Spiel des Jahres
No final dos anos 1970 e início da década de 1980, o surgimento dos videogames domésticos, em especial o Atari 2600, começou a diminuir o público, a relevância e o interesse pelos jogos de tabuleiro. Ninguém queria mais passar horas ao redor do mesmo jogo, quando era muito mais legal juntar os amigos e passar a tarde jogando os mais variados jogos de computador e cartuchos de jogos eletrônicos. Durante quase duas décadas, houve um forte declínio da indústria de jogos de tabuleiro. Apenas o fato deles serem muito mais baratos, que sua contraparte eletrônica, parecia impedir que eles ficassem relegados a um nicho de mercado muito restrito de entusiastas saudosistas e colecionadores excêntricos.
CATAN E OS BOARD GAMES MODERNOS
Essa situação perdurou até 1995, quando surgiu um jogo verdadeiramente revolucionário, o “Colonizadores de Catan” ou simplesmente “Catan”. Esse jogo além de excelente também é muito importante. Ele fez um sucesso estrondoso, tanto no mercado europeu, quanto no norte-americano. Esse sucesso foi tanto que as pessoas voltaram a se interessar por jogos de tabuleiro em geral, inaugurando a nova era dos jogos de tabuleiro modernos.
No Brasil, ao longo do século XX, praticamente apenas Estrela e Grow lançavam versões nacionais, adaptadas e não licenciadas, de jogos de tabuleiro internacionais (War/Risk, Detetive/Clue, Banco Imobiliário/Monopoly, Top Secret/Heimlich & Co, entre outros).
O cenário mudou no início dos anos 2000, e excluindo os “jogos clássicos” da Estrela e Grow, havia uma única empresa que lançava jogos de tabuleiro modernos mais recentes. Essa empresa era a Devir Editora, que lançou aqui tanto o “Catan”, quanto o “Carcassonne”, outro verdadeiro colosso dos board games. A Devir já tinha uma longa história, tendo iniciado como uma livraria em 1987, e trabalhava basicamente com histórias em quadrinhos (nacionais e importadas) e com livros de RPG. Mas, com o surgimento desse novo mercado, a empresa acabou migrando para os jogos de tabuleiro modernos.
Imagem: BGG – Colonizadores de Catan
A outra grande editora nacional é a Galápagos Jogos, fundada em 2009. A empresa começou publicando jogos nacionais como “Máfia”, “Brasilis” e “O Útimo Grande Campeão” (que hoje são praticamente desconhecidos). Porém, rapidamente a editora começou a lançar jogos importados, como o “Summoner Wars” e os jogos relacionados à série de TV Game of Thrones (Board e Card Game).
Logo em seguida a Galápagos passou para os jogos consagrados no cenário internacional como “Zombicide”, “Dixit”, “The Resistance”, “Love Letter”, “Dobble”, “7 Wonders”, “Ticket to Ride”, “King of Tokyo”, entre muitos outros, que são campeões de venda até hoje. Atualmente a Galápagos é a maior editora nacional de jogos de tabuleiro modernos. Vale destacar também, que nessa época a Grow, também teve uma rápida passagem pelo mercado de jogos de tabuleiro modernos. Ela lançou os jogos “Puerto Rio”, “Castles of Burgundy”, “Broom Service”, além de edições do “Carcassonne” e do próprio “Catan”. Porém, essa experiência teve curta duração, e a empresa não atua mais nesse setor.
CURIOSIDADES E O MERCADO DOS BOARD GAMES
Antes de prosseguir é preciso explicar uma característica do hobby de jogos de tabuleiro modernos, para que se evitem eventuais confusões futuras. O termo amplamente aceito e utilizado para se referir a essa categoria de jogos é ”board games”, que em tradução literal significa exatamente “jogos de tabuleiro”.
Dessa maneira, o termo “board games” normalmente se refere aos “jogos de tabuleiro modernos”, em oposição ao “classic board games”. Esses jogos clássicos seriam os jogos de tabuleiro mais antigos, tais como “WAR/Risk”, “Detetive/Clue” “Banco Imobiliário/Monopoly”, etc. Assim sendo, de um modo geral, quando se fala em board games, na verdade está se falando em jogos de tabuleiro modernos, que diferem dos jogos clássicos, devido a algumas características específicas, como se verá a seguir.
Existe ainda outra questão que é a abrangência do termo. Board game, ou jogo de tabuleiro moderno, se aplica obviamente a jogos que efetivamente necessitam de um tabuleiro, como “Pandemic” ou “Zombicide”, ou que possuem tabuleiro, mas podem perfeitamente dispensar esse componente, como o “Dixit” ou “Ascension”. Entretanto, “board game” também se aplica aos jogos que não possuem tabuleiro. Esse é o caso dos “card games”, ou jogos que usam exclusivamente cartas, como o “Coup” e o “Pega em 6”. O termo “board games” ou “jogos de tabuleiro modernos” engloba todos esses tipos de jogos.
Imagem Ludopedia: Coup e Pega em 6
Outro fator importante na produção de jogos de tabuleiros modernos diz respeito ao trabalho de tradução e localização. A grande maioria dos board games lançados no Brasil são lançamentos internacionais, que recebem uma versão brasileira, em português e devidamente localizada.
O conceito de “tradução” é amplamente conhecido, mas a “localização”, em termos de jogos de tabuleiro, é um conceito pouco diferente, e que vai um pouco além da “tradução”. A localização envolve pegar o texto que foi traduzido e adaptá-lo da melhor forma possível às características linguísticas e culturais do país em que ele será lançado. Dessa maneira, digamos que o jogo use a expressão “skeleton in the closet” significa “fato embaraçoso ou escandaloso do passado, que uma pessoa prefere manter em segredo”, só que a sua tradução para o português é literalmente “esqueleto no armário”.
Dessa maneira, vamos imaginar que a descrição de um personagem de um jogo tenha a seguinte frase no original: “He has many skeleton in the closet.” A tradução pura e simples da frase seria “Ele tem muitos esqueletos no armário”, Isso não faria o menor sentido para um brasileiro, a menos que o personagem fosse algum “Norman Bates” ou “Hannibal Lecter” da vida. É aí que entrar a localização. Desse modo, a tradução adaptada, ou localizada, passaria a ser “fantasma do passado”, por exemplo. Essa expressão tem um significado, em língua portuguesa, muito mais próximo do que a tradução literal “esqueleto no armário”. Assim, uma boa tradução (e localização) da frase original seria: “Ele tem muitos fantasmas do passado”. Isso é muito mais compreensível, e faz muito mais sentido, para um público falante da língua portuguesa.
UM NEGÓCIO DA CHINA…
No cenário mundial, até metade dos anos 1990, as editoras de cada país produziam localmente seus jogos, e aqueles licenciados de editoras de outros países. Com isso, as tiragens eram bem menores. O crescimento e desenvolvimento dessa indústria acabaram levando a tiragens cada vez maiores, cujas estruturas de produção local não davam mais conta. Nessa mesma época, o mundo assistiu ao enorme crescimento econômico da China, que sempre se baseou na produção em larga escala. No início, os produtos chineses eram sinônimos de “cópias baratas com qualidade ruim”. Mas ao longo do tempo, os chineses aprenderam a lição.
Pouco a pouco as empresas chinesas começaram a investir mais no controle de qualidade, sem deixar de lado a produção em larga escala. O resultado é que se tornou cada vez mais barato produzir o que quer que fosse, na China, inclusive board games. O problema é que as fábricas chinesas só trabalhavam no atacado. Por isso, para atingir os seus baixíssimos custos de produção, eram necessárias tiragens verdadeiramente “gargantuescas”. Nenhum mercado isolado tem demanda suficiente para bancar tiragens dessa envergadura.
Para resolver essa questão, e diminuir ainda mais o custo de produção dos jogos, surgiram as tiragens mundiais de jogos. Essas tiragens atendem a diversos mercados ao redor do globo, e esse é formato padrão de produção atualmente. Em um cenário desses, se um determinado mercado, por exemplo, o brasileiro, perde a oportunidade de participar de uma tiragem de um determinado jogo, ele acaba ficando dependente de uma nova tiragem mundial (também chamada de reprint). Isso pode demorar anos, ou nem mesmo acontecer. Nesse caso, o mercado brasileiro simplesmente fica sem a versão nacional do jogo. O motivo disso é que apenas as editoras locais não têm como bancar uma nova tiragem exclusiva. Esse, inclusive é um acontecimento até comum.
Imagem BGG: UNO Japonês
Primeiramente, essas tiragens mundiais se aplicavam mais aos casos dos jogos iconográficos ou sem dependência de idioma, cuja ausência de texto, permitia a produção indiscriminada dos componentes (cartas, peças e assemelhados), independente do mercado a que ele se destinasse. Um exemplo disso é o jogo “Uno”. Como ele não usa texto escrito, apenas números, desde que não existam variações locais de regras, uma pessoa pode pegar um exemplar do jogo produzido para o mercado do Azerbaijão, que ele não terá problema algum para jogar. Isso favorecia muito a produção em larga escala, e diminuição dos custos de produção, de modo que faz todo o sentido produzir jogos assim na China.
Com o desenvolvimento do mercado de jogos de tabuleiro moderno, as fábricas chinesas começaram a se especializar cada vez mais nesse setor, inclusive na produção de jogos com cartas, e demais componentes, contendo texto. Portanto se pegarmos um jogo como Zombicide, por exemplo, que faz amplo uso de miniaturas, o custo para produzi-las na China é absolutamente imbatível, devido à larga escala de produção e especialização das fábricas chinesas.
Por isso esses componentes são e continuarão sendo, por longo tempo, produzidos na China. Isso não mudará, a menos que ocorra algum fato ou situação imprevista, que altere o atual cenário econômico. Se outro país conseguir oferecer melhores custos de produção, mantendo o mesmo padrão, as editoras internacionais passarão a produzir os board games lá, afinal o dinheiro não tem cheiro, nem pátria.
Imagem: Ludopedia – Zombicide
Desse modo, o sistema funciona mais ou menos da seguinte maneira. A Editora CMON lança o jogo XYZ. Esse jogo faz tanto sucesso, que desperta o interesse de outros mercados estrangeiros de jogos de tabuleiro. A CMON resolve então fazer uma nova tiragem mundial e entra em contato com as suas parceiras em cada país, para ver se elas têm interesse na produção local desse jogo XYZ. Após isso, as fábricas chinesas produzem uma nova tiragem mundial, para atender os mercados dos diversos países interessados no jogo.
Nesse exemplo, vamos dizer que tanto a “Galápagos” do Brasil, quanto a “Bureau de Juegos” da Argentina demonstram interesse em lançar o jogo em português e em espanhol, respectivamente. Uma vez concluídas as negociações, cada editora local tem de pagar a parte que lhe cabe na produção total do jogo. Isso às vezes gera alguns problemas, porque se todas as editoras pagarem corretamente a sua parte, mas apenas uma delas deixar de pagar, ou atrasar, a produção do jogo também atrasa, podendo até ocorrer o seu cancelamento. Então não basta a Galápagos, e todas as outras editoras pagarem certinho a sua parte, porque se a “Bureau de Juegos” atrasar ou deixar de pagar, todo o projeto pode ir para o ralo, ou atrasar muito, o que é o mais comum. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o jogo “Champions of Midgard”.
Depois disso, vem a questão do frete da China até o Brasil, que normalmente é feito por via marítima, até um porto brasileiro, e isso é outra parte sujeita a muitos problemas, com foi o que aconteceu com os jogos “Tsukiji” e “Ancient Terrible Things” da antiga Editora RedBox, atual Buró.
Imagem: Ludopedia – Tsukiji e Ancient Terrible Things
Quando as unidades do jogo chegam ao Brasil, elas ainda têm de passar por todo o processo de liberação aduaneira e pagamento de impostos, que é sempre muito caro, e pode dificultar bastante, e até mesmo inviabilizar o lançamento do jogo, apesar dele já ter chegado ao Brasil, que foi o que aconteceu com o jogo “Lucidity: Seis Faces do Pesadelo”. Uma vez liberado o produto no porto, aí entra a fase da logística e distribuição, até o jogo chegar à loja de jogos de tabuleiro modernos de cada cidade, ou na casa dos apoiadores, para quem comprou em financiamento coletivo.
Vale destacar que o financiamento coletivo é uma forma alternativa de comprar um jogo, sem ser na loja física ou nos sites de venda. Isso é feito através de plataformas digitais como Kickstarter e Catarse, em que as pessoas podem apoiar e viabilizar economicamente a produção de um jogo. Nesse sistema, o apoiador paga antecipadamente o valor do jogo, que muitas vezes é inferior ao valor de lançamento. Alguns meses depois, após finalizada a produção, os apoiadores recebem suas cópias do jogo. Esse modelo funciona tanto para jogos nacionais, quanto para jogos estrangeiros. Outra vantagem do financiamento coletivo é que, normalmente, eles incluem material exclusivo para o jogo, que não é vendido posteriormente, nas lojas.
TERMOS E SIGLAS
Outra questão que pode suscitar dúvidas aos iniciantes é o uso reiterado de algumas siglas como BGA, BGG, Hype e FOMO, pelos jogadores mais experientes. No caso da sigla BGA ela se refere ao boardgamearena.com, que é um site com versões eletrônicas dos jogos de tabuleiro.
Inicialmente isso pode parecer uma contradição, porque jogos de tabuleiro são feitos justamente para reunir os amigos, então não faria sentido, recorrer a um site para fazer virtualmente o que deveria ser feito presencialmente. Ocorre, em primeiro lugar, que nem sempre é possível reunir os amigos, e o isolamento social imposto pelo combate à pandemia de covid19, e um ótimo exemplo disso. Da mesma forma, pode ser que a pessoa esteja em outra cidade, e só possa falar com os amigos através de vídeo conferência. Nesse caso o BGA é uma ótima opção para viabilizar as jogatinas.
Ele também resolve o problema daqueles cujos amigos não curtem jogos de tabuleiro, ou que não gostem dos jogos que a pessoa gosta. Isso porque no BGA é possível jogar com pessoas de todo mundo. Esse site também é uma ótima ferramenta para experimentar um jogo, e ver se ele realmente vale a pena, antes de comprar a versão física.
O BGA tem uma grande variedade de jogos gratuitos. Entretanto, o acesso à maior parte do acervo, depende de uma conta premium que é paga. O plano mensal fica por volta de 4 euros, e o plano anual custa 2 euros, em valores mensais. Esses preços valem muito a pena. Outras opções interessantes são o Tabletop Simulator e o Tabletopia.
Imagem BGG: Stone Age no BGA
Já a sigla BGG remete ao site boardgamegeek,com, criado no início dos anos 2000. Este é provavelmente o principal sites de jogos de tabuleiro modernos do mundo. Nele é possível dar notas aos jogos, e até mesmo fazer comentários a respeito. Ele funciona mais ou menos como o Ludopedia, o principal site nacional de board games, porém em uma escala global. Os boardgamers do mundo inteiro usam o ranking do BGG como uma dos principais recursos para avaliar um jogo, devido ao alto prestígio do site. Por isso, uma colocação alta no BGG, quase sempre é um forte indício de que aquele jogo é bom.
Mas existe uma pegadinha aí. De uma forma geral, principalmente nas primeiras colocações, os rankings da Ludopedia e do BGG coincidem. Isso porque os jogos consagrados, lançados no mundo todo, normalmente ocupam essas posições mais altas. Porém, as discrepâncias aumentam, quanto mais se desce nesses rankings, porque obviamente, nossas editoras não lançaram, por aqui a grande maioria dos jogos do BGG. Por tal motivo, há certa tendência, até natural, de prestigiar mais os jogos lançados nacionalmente, do que aqueles que só existem no exterior. Além disso, para muitos grupos de jogadores, ou para algumas pessoas desses grupos, o idioma estrangeiro é um fator altamente impeditivo. Isso faz com que essas pessoas sempre deem preferência aos jogos que tenham versão nacional. Mas apesar disso, o BGG, ainda assim, é uma excelente referência, para aprender um pouco mais e avaliar melhor os jogos de tabuleiro modernos.
Outra sigla muito utilizada é OOP, ou “Out of Print”. Ela se aplica aos jogos fora de catálogo, que não está sendo produzido atualmente, nem no mercado internacional. Por isso, a menos que a editora original resolva lançar uma nova tiragem mundial do jogo, dificilmente surgirá uma versão nacional dele.
PRINCIPAIS FONTES DE INFORMAÇÃO DE BOARD GAMES
Outra fonte de informação importante sobre jogos de tabuleiro modernos são os diversos canais de board games do Youtube, especializados no assunto, e facilmente localizáveis. Lá os jogadores podem assistir resenhas, receber notícias sobre lançamentos e acompanhar partidas, inclusive ao vivo. Isso facilita para os boardgamers conhecerem e avaliarem melhor os jogos (isso é muito útil antes de uma compra), bem como tirar dúvidas sobre regras. Se a língua inglesa não for um problema, o “Dice Tower” do Tom Vassel também é um canal muito respeitado e uma excelente indicação. Podemos citar também o Ludopedia e seus fóruns onde os jogadores tiram dúvidas de regras, lançamentos, etc.
Existem dois termos que todo o boardgamer deve conhecer e tomar cuidado com eles: Hype e FOMO. O primeiro tem a ver com a comoção que o lançamento de um novo jogo causa, ou uma nova versão de um jogo antigo. Normalmente, a editora envolvida no lançamento é quem fomenta e cria o Hype, como uma estratégia para aumentar o volume de vendas do jogo. Já o termo FOMO deriva da expressão em inglês “fear of missing out”, que significa “medo de ficar de fora”. Em outra palavras, FOMO representa o receio de deixar de participar de uma “onda”, ou de comprar um jogo que todos os outros estão comprando.
Esses dois termos refletem um assunto muito sério, e que podem levar principalmente os iniciantes a comprarem jogos que eles a princípio não gostariam. Isso é feito apenas para que eles se sintam como uma parte mais atuante do hobby, num verdadeiro comportamento de manada.
EDITORAS
Atualmente, a maior editora nacional de board games é, sem sombra de dúvidas, a Galápagos. Abaixo dela estão a Devir, a Meeple BR e a Conclave, que juntas com a Galápagos formam as “Quatro Grandes” do mercado nacional. Existem também outras editoras de porte aproximado como Grok, Mandala, Paper Games, e Buró (Ex-RedBox), e de porte menor como Mosaico, Ludofy e Geek’N’Orcs. Mas, independente do seu porte todas essas editoras têm excelentes jogos, no catálogo.
Portanto, o mercado nacional de jogos de tabuleiro é um setor consolidado do ramo de jogos/brinquedos, com a participação de diversas empresas. Mas ele que ainda carece de uma maior profissionalização, principalmente na parte de tradução e revisão. Essa carência inclusive explica diversas falhas graves, em alguns lançamentos da Galápagos e Conclave (pesquisar Masmorra do Mago Louco, Western Legends, Nemesis, Everdell, entre outros).
Outro problema são os altos preços cobrados atualmente pelas editoras, pelos jogos lançados. Isso dificulta bastante a expansão do hobby e a entrada de novos jogadores. Os preços são um fator fundamental para o aumento das tiragens dos jogos e o conseqüente crescimento e desenvolvimento do nosso mercado nacional. Esse fortalecimento é que viabiliza o lançamento dos grandes jogos internacionais (e suas expansões), também no nosso país.
Por fim, esse texto dá uma visão geral (muito geral) de como é o hobby dos board games é, e de como ele funciona. Esses são os aspectos principais para ajudar a situar todos aqueles que descobriram, recentemente, esse incrível mundo dos jogos de tabuleiro modernos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
obs: esse texto também foi publicado no site Ludopedia.com em https://ludopedia.com.br/topico/46232/1-dica-p-novos-jogadores-conheca-melhor-o-hobby)
Iuri Buscácio
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Parabens pelo estudo de muito gabarito e conhecimento. Gostaria de saber se abordará mais de perto jogos como Shogi, Ming Mang, Mu Torere, Aseb e outros tb ancestrais, que não entraram nesse texto aqui. Abraço e “mais vale um dado na mão que dois com o adversário”!
Caro Leogilson
Devido a um problema de ordem pessoal, eu precisei dar um tempo nos textos, mas em algumas semanas continuarei a publicar aqui no Maxiverso. Quanto à sua pergunta, em breve eu pretendo publicar um novo texto falando especificamente dos jogos ancestrais menos conhecidos (datados até o início da Idade Média). Infelizmente não vai dar para abordar todos, porque a lista já está maior do que eu gostaria, e que seria adequada a um texto da internet.
De todo modo vou ver se consigo incluir algumas das suas sugestões.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
vcs pensam em noticiar qd algum grande lançamento estiver por acontecer aqui no Brasil?
Caro Marcos Guerra
Estamos pensando nessa possibilidade. O problema é que ainda não temos um link direto com as editoras, de modo a noticiar esses lançamentos logo que eles são anunciados. Mas vontade não falta.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
interessamte esse conteudo nunca tinha visto esse assunto abordado aqui nesse site muito bom parabens qd eu era mais jovem jogava War com meus primos
uau que achado esse texto!!! mandem mais desse!
nao que eu esteja duvidando do que foi falado, me parece tudo escrito com muita propriedade, mas qual a fonte dessas informacoes?
Caro Falafel
Terei o maior prazer em te informar as fontes de onde eu tirei os dados do meu texto. Eu só preciso que você seja mais específico em relação a quais dados você está se referindo.
Com todo o respeito, e sem querer ser ofensivo de forma alguma, mas basta uma simples e rápida pesquisa na Internet, em sites sérios evidentemente, para comprovar as informações do Texto. Por exemplo, o jogo Catan foi realmente lançado em 1995, e é considerado o jogo que deu início à Era dos Board Games Modernos. O prestigiado prêmio alemão “Spiel de Jarhes” realmente se iniciou em 1978. Os jogos ancestrais que eu citei são efetivamente tão antigos. O jogo WAR da Grow é praticamente uma cópia do jogo Risk. A Estrela realmente lançava desde os anos 70/80 versões não licenciadas de jogos internacionais, tanto que sofreu um revés atrás do outro em processos judiciais contra a Hasbro. Realmente existe um site chamado BGA (boardgmaearena.com), com versões digitais disponíveis para jogar dos jogos de tabuleiro, bem como também existe um site nacional chamado Ludopedia que trata sobre board games.
Portanto, mais uma vez com todo o respeito, para que eu te esclareça melhor, peço que você seja um pouco mais específico, em relação a quais informações você ficou na dúvida.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Muito bom, parabens! Favoritado!
Caro Raoni
Muito obrigado e fique ligado porque em breve serão publicados aqui no Maxiverso os outros textos da série.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Excelente postagem sobre boardgames modernos!!! Acho que já tinha lido esse post la na Ludopedia, problema que lá como é forum o topico some fica difícil achar depois, em site é melhor, adorei a iniciativa. Tb fiquei na curiosidade sobre os tais wargames que vc citou, como que pode um manual de instrucoes ter 400 paginas? Isso é mito ou realidade?
Caro Marcelo BG
Inicialmente obrigado por prestigiar o meu texto, tanto lá no Ludopedia, quanto aqui no Maxiverso.
Quanto aos wargames eles realmente são muito complexos, o que implica em livros de regras gigantescos. Cada título de wargame pode ser considerado quase como um hobby único, dentro do próprio hobby dos wargames, de tanta dedicação que é necessária para poder dominar um único jogo. Na verdade esse tipo de jogo pertence a uma outra época em que as pessoas tinham mais tempo para se dedicarem ao lazer e aos seus passatempos preferidos. Não é à toa que é difícil encontra hoje em dia, quem ainda jogue esses wargames, principalmente no Brasil, uma vez que esses jogos são todos importados.
Tratando especificamente do “Advanced Squad Leader”, fui revisar a informação que eu divulguei e descobri que estava errado. Na verdade o livro de regras desse wargame não são 400 páginas, mas sim inacreditáveis 626 páginas. E se você se espantou com isso, saiba que o livro de regras da versão eletrônica é ainda maior contendo 708 páginas. Os respectivos PDF, podem ser baixados nos seguintes links:
Versão Física:
https://pdfcoffee.com/asl-1st-edition-rulebook-advanced-squad-leader-boardgame-pdf-free.html
Versão Eletrônica:
https://www.desperationmorale.com/products/advanced-squad-leader-rule-book-electronic-edition/.
Esse jogo é tão complexo que acabou sendo dividido em três jogos separados ou kits (# 1 de 2004, #2 de 2005 e #3 de 2007), conforme consta na página do jogo no BGG (boardgamegeek.com), o maior site de jogos de tabuleiros do mundo.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Caro Marcelo BG
Inicialmente obrigado por prestigiar o meu texto, tanto lá no Ludopedia, quanto aqui no Maxiverso.
Quanto aos wargames eles realmente são muito complexos, o que implica em livros de regras gigantescos. Cada título de wargame pode ser considerado quase como um hobby único, dentro do próprio hobby dos wargames, de tanta dedicação que é necessária para poder dominar um único jogo. Na verdade esse tipo de jogo pertence a uma outra época em que as pessoas tinham mais tempo para se dedicarem ao lazer e aos seus passatempos preferidos. Não é à toa que é difícil encontra hoje em dia, quem ainda jogue esses wargames, principalmente no Brasil, uma vez que esses jogos são todos importados.
Tratando especificamente do “Advanced Squad Leader”, fui revisar a informação que eu divulguei e descobri que estava errado. Na verdade o livro de regras desse wargame não são 400 páginas, mas sim inacreditáveis 626 páginas. E se você se espantou com isso, saiba que o livro de regras da versão eletrônica é ainda maior contendo 708 páginas. Todos os dois PDFs, podem ser encontrados facilmente através do Google.
Esse jogo é tão complexo que acabou sendo dividido em três jogos separados ou kits (# 1 de 2004, #2 de 2005 e #3 de 2007), conforme consta na página do jogo no BGG (boardgamegeek.com), o maior site de jogos de tabuleiros do mundo.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
bom, como podemos ver, temos aqui uma analise com contexto historico completo, o que engrandece muito o tema, meus parabens ao autor que é um entendido no assunto, e ao Maxiverso, que sempre nos brinda com textos incrivelmente profundos sobre os temas que aborda………………. pelo que vi teremos mais alguns artigos nessa linha, estou ansiosa pra ver os proximos, se puder ate deixo uma pauta de sugestao: um post falando de jogos com temática egipcia, com aquelas miniaturas de predios, piramides, templos, etc, sou fascinada por isso, queria saber quais os melhores e mais bonitos jogos com esse tema, bjs a todos <3
tem um comentario logo abaixo ja abordando os jogos egipcios, e vc pode fazer uma pesquisa por tema na Ludopedia que vc acha, espero ter ajudado
Cara Ana Paula Hendy
Obrigado por prestigiar o meu texto, e muito me satisfaz que você tenha gostado.
Quanto à sua pergunta, como não poderia deixar de ser, existem diversos jogos sobre o Egito, em virtude, do pioneirismo, da riqueza cultural, da ancestralidade, e principalmente da importância da civilização egípcia.
Como você perguntou por jogos com essa temática, mais especificamente em relação aos prédios e miniaturas, eu vou tentar te indicar alguns. Mas antes disso é bom lembrar que a quantidade de miniaturas é diretamente proporcional ao preço do jogo, ou seja, quanto mais miniaturas, mais caro o jogo fica. E alguns board games modernos (especialmente aqueles que têm miniaturas) podem ser muito, mas muito caros mesmo.
Outra coisa que é preciso ter me mente quando se fala em beleza de board games, é que, por conta do custo, normalmente as peças plásticas dos jogos são monocromáticas, enquanto que peças de papelão são coloridas. Então tudo depende do que a pessoa prioriza em termos de beleza. Existem também algumas pessoas que vão além e pintam as miniaturas plásticas, não apenas customizando o jogo, como também tornando-o uma verdadeira obra de arte. Existe inclusive um hobby paralelo aos board games, que é o da pintura de miniaturas. Se você quiser saber mais a respeito eu te indico o texto “https://ludopedia.com.br/topico/46890/4-dica-p-novos-jogadores-conheca-a-arte-design-dos-jogos”.
Dito isso, na minha opinião, dentre os jogo de tabuleiro modernos, com a temática egípcia e com foco nos monumentos, o mais bonito é o “Cleopatra and The Society of Architets; Deluxe Edition”, lançado no Brasil em 2020. Nesse jogo cada jogador assume o papel de um arquiteto envolvido na construção de um novo templo para a famosa rainha egípcia. Maiores informações em “https://ludopedia.com.br/jogo/cleopatra-and-the-society-of-architects-deluxe-edition”. Além desse, também merece destaque, em termos de monumentos egípcios o “Tekhenu: Obelisco do Sol” (2020), encontrado em “https://ludopedia.com.br/jogo/tekhenu-obelisk-of-the-sun”.
Quando o foco é combate e nas miniaturas dos personagens boas indicações são o “Ankh: Deuses do Egito” (2020), o “Kemet: Blood and Sand” (2021), jogos muito caros e a primeira versão desse último “Kemet” (2012), que apesar de bem mais barato que os outros dois, ainda tem um preço bem salgado.
Agora se você se interessa pela temática, acima dessa questão de miniaturas, existem jogos mais em conta como “Amun-Re” (2003), “Rá” (1999), ambientados no Egito Antigo, e os jogos que envolvem explorações arqueológicas como “Luxor” (2018) e “Archaeology: The New Expedition” 2016, e o “Scarabya” (2018). Todos esses jogos são de editoras internacionais, mas forma lançados nacionalmente. Entre os jogos nacionais existem o “Quéops, Uma Aventura no Egito” 2009 e “O Segredo da Pirâmide” 2019, que são jogos mais infantis, com alta dependência de sorte, e que fogem um pouco dos parâmetros dos jogos de tabuleiro modernos.
Para terminar, eu gostaria de te fazer um alerta importante, para você não gastar dinheiro à toa. Mesmo que você ache um jogo lindo, é preciso lembrar que aquilo é um jogo e não um item de decoração. Por isso não adianta nada gastar dinheiro com um jogo muito bonito, se você não gostar de jogá-lo, porque nesse caso o mais provável é que ele passe o resto de seus dias trancado dentro da caixa, com toda a sua beleza escondida.
Por isso, antes de sair procurando para comprar alguns desses jogos que eu citei acima, é fundamental assistir vídeos de jogatina no Youtube (existem alguns sobre cada um desses jogos) e se for possível, ir até uma luderia para experimentá-lo ao vivo, e quem sabe até alugá-lo. Outra opção caso não haja uma luderia perto de sua casa é experimentar alguns desses jogos nas diversas plataformas de jogos de tabuleiro on-line, em especial o BGA e o Yucata.
Por fim espero ter te ajudado, e dentro em breve serão publicados aqui no Maxiverso outros textos da série.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
isso não é um artigo é um curso sobre jogos de tabuleiro kkkkkkkkkkkkk excelente! ansioso pros próximos!
Caro Eugenyan Meet
Meu camarada, quem me dera, quem me dera!!!!!
Brincadeiras à parte, muito obrigado pelas palavras e que bom que você gostou. Uma coisa que sempre me frustrou ao longo de toda a vida, é que o brasileiro em geral lê muito pouco e publica ainda menos.
Por isso, a menos que você se predisponha a dominar o inglês, infelizmente o seu conhecimento em qualquer campo ficará sempre muito restrito, e os board games não fogem a essa regra.
Não digo nem em relação aos jogos propriamente ditos, mas principalmente em relação aos livros sobre esse passatempo maravilhoso. Além disso, outra coisa que eu percebi é que aqueles que descobrem, e se iniciam nesse hobby, normalmente não dispõem de um ponto de partida por onde começar. As informações estão todas lá disponíveis na Internet, porém de forma muito esparça, por isso eu resolvi reunir tudo em uma série de textos do qual esse é apenas o primeiro.
De todo o modo, mais uma vez obrigado, e pode esperar que vem mais coisa por aí.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Abaixo à “bolacha”, vida longa ao “biscoito”!!!! KKKKKK
alem desses 4 jogos super antigos ai que vc citou tipo Mancala, Ur, Senet e Cães e Chacais, tem outros que descobriram e são dessas épocas antes de Cristo?
Caro Eugenio Briet
Existem alguns jogos bem antigos, não tão antigos quanto aqueles que eu citei no texto, mas bem antigos também. Só que isso será tratado em um texto próprio a ser publicado em breve.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
uau adorei esse texto… nao fazia ideia de que existiam tantas editoras e tantos jogos novos… jogava War com meu irmão e Banco Imobiliária com meus primos, pra mim jogo de tabuleiro era so isso mesmo
Caro Marcelo Solo
Que bom que você gostou do texto.
Fique tranquilo que, de mesmo jeito que aconteceu com você, também aconteceu comigo e com todas as outras pessoas, ao descobrirem que o mundo dos jogos de tabuleiro vai muito além dos nossos jogos clássicos (Detetive, WAR, Banco Imobiliária, Jogo da Vida e Imagem & Ação).
E se você estiver na empolgação para iniciar no hobby dos board games modernos, eu te aconselho a segurar um pouco a empolgação e aguardar o próximo texto dessa série, que deve ser publicado na semana que vem, informando os cuidados que se deve ter ao ingressar no hobby. Isso com certeza vai te poupar muito dinheiro e muita dor de cabeça.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
qual o melhor jogo de civilização egipcia com miniaturas e buildings pra 6 pessoas? algo no estilo Ra, o Ankh, ou Deuses do Egito…
Caro Sematsu
Todos esses jogos que você citou são muito bons. Quanto ao fato de qual é o melhor, eu acredito que isso não exista em termos de jogos de tabuleiro, porque isso depende basicamente de gosto pessoal, e gosto cada um tem o seu. Eu por um acaso gosto do Kemet: Blood and Sand, que você não citou, que é para até 5 jogadores e também tem essa mesma temática egípcia.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Eu gosto muito do Cleópatra, a 2ª edição não é muito pesado e o visual é maravilhoso!
esses war games que vc citou é o Risk e o War?
Caro Andor
Na verdade quando eu me referi a wargames eu eu estava falando de outro tipo de jogo. Existe uma diferença entre jogos com temática de guerra e wargames.
Tanto o Risk quanto o WAR, e até mesmo os jogos da série Axie & Allies, que seguem o mesmo estilo dos anteriores mas são um pouco mais complicados (se você gosta desse estilo sugiro dar uma olhada nesses jogos), são jogos com temática de guerra.
Os wargames fazem parte de uma outra categoria muito mais pesada e complexa de jogos, que se duvide em duas vertentes. A primeira é dos wargames com miniaturas que são jogos muito antigos, com séculos de idade, que não tem tabuleiro, e são jogadas em verdadeiras maquetes, simulando campos de batalha, em que a movimentação das peças tem regras próprias, com a ajuda de réguas, como é o caso do Warhammer.
A segunda vertente dos wargames é bem mais recente, e são jogadas em um tabuleiro dividido em hexágonos, em que as peças representam unidades diferentes de um exército, cada uma com a sua própria força de ataque, “pontos de vida” e movimentação, o que torna tudo muito mais complexo, como é o caso do Advanced Squad Leader. Foi a esses jogos que eu me referi como wargames.
Para você ter um parâmetro de comparação, é como se o Risk e o WAR fossem o jogo de Damas e os wargames fossem o Xadrez. Só para se ter uma ideia da tamanho da distância em complexidade, o wargame Advanced Squad Leader precisou ser dividido em três jogos (Advanced Squad Leader 1, 2 e 3), porque só o manual de regras do jogo original possuía mais de 400 páginas. Agora compara isso com o folheto de regras do Risk ou do WAR, e você pode ter uma noção do quanto estes jogos são diferentes.
De qualquer modo, para saber mais a respeito de wargames eu te recomendo a leitura do texto que eu escrevi no site de jogos de tabuleiro Ludopedia.com.br, e que também será publicado aqui no Maxiverso, mas que deve levar algum tempo ainda.
https://ludopedia.com.br/topico/54435/11-dica-p-novos-jogadores-conheca-wargames-e-warhammer
Para terminar espero que eu tenha tirado a sua dúvida.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Romir sem dúvida tem os melhores videos explicando regras dos jogos. Curtos, diretos, sem complicações. Jack Explicador é meio enrolado, os gameplays são bem chatos e longos, mas serve pra ver as mecanicas dos jogos. Aftermatch eu curto tb. Tem um cara que é piadista, faz os videos falando de boardgames sempre em tom super zueiro, é divertido. Tem uns tal Mister (3 Dus) que são meio prepotentes, parece que tao falando em um tom sempre de superioridade, mas as vezes as analises deles sao boas.
Caro Edson Elek
Eu particularmente gosto muito dos vídeos de board games do Covil dos Jogos, porque acho que eles fazem uma coisa leve e bem humorada, na medida certa. Além disso eles investem bastante no pós-produção, com os “escravos editores”, então o resultado final fica com uma qualidade muito boa.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
excelente texto, tomarei a liberdade de compartilhar
Caro Lockwood
Quem bom que você gostou, e muito obrigado pela divulgação.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Parabens pela pesquisa! Espetacular. Estou favoritando aqui para ver as partes futuras desse estudo. Longa vida aos jogos de tabuleiro!
Caro Thiago
Fico satisfeito que você tenha apreciado o texto. Eu escrevi essa série de textos, publicada originalmente no Ludopedia, porque gosto muito de board games, e essa é a minha contribuição para divulgar o hobby. Além disso, vejo que muitas pessoas descobrem os board games, mas têm muita dificuldade para encontrar as informações básicas sobre o hobby, sobre tipos de jogos, mecânicas, jogos mais influentes, melhores designers, etc. No mais, acho que os textos estão bem legais, modéstia à parte, e acho que eles trazem muita coisa interessante, até para quem já tem algum tempo de board games.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Por favor mande um abraço para o Aníbal, o Cara-de-Pau e o Murdock, quando encontrar com eles, para mais uma missão classe A
Muito bacana! Adorei!
Caro Marcelo Cirillo
Muito obrigado, e saiba que esse é apenas o primeiro de uma série de textos, e muito mias coisa ainda vem por aí.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio