2ª Dica p/ novos jogadores – Conheça os Tipos de Caixas de Jogos de Tabuleiro
Esse artigo (2ª Dica p/ Novos Jogadores – Conheça os Tipos de Caixas de Jogos de Tabuleiro) é o segundo de uma série de textos, contendo dicas para boardgamers, iniciantes ou não, no sentido de ajudar quem iniciou no hobby agora, e também propor um ponto de reflexão aos boardgamers mais experientes. Quem tiver o interesse de ler o primeiro texto (1ª Dica p/ Novos Jogadores – Conheça Melhor o Hobby), basta clicar aqui:
https://maxiverso.com.br/blog/2022/07/15/1a-dica-p-novos-jogadores-conheca-melhor-os-board-games-modernos/os textos anteriores, basta acessar os links abaixo:
AS CAIXAS DOS JOGOS MODERNOS
Os elementos que compõem os jogos podem ser divididos em elementos materiais ou concretos, que são os elementos físicos (caixa e inserts, tabuleiro, peças, manual, arte/design gráfico, etc), e elementos imateriais ou abstratos, que são os elementos intangíveis (regras, mecânica, temática, rejogabilidade, duração, quantidade de jogadores, etc).
Imagem BGG: Insert
Antes de falar das caixas dos jogos é melhor tratar dos inserts, até porque essa é uma boa oportunidade para fazer uma comparação muito instrutiva entre o mercado nacional e internacional, de jogos de tabuleiro modernos. Para quem não sabe, “insert” é aquele suporte plástico, normalmente preto, que serve para separar, e acondicionar os componentes dos jogos. Uma dúvida muito recorrente quanto a isso, é que, em alguns jogos, as cartas continuam cabendo nos inserts após serem “sleevadas”, e em outros jogos isso não ocorre. Desse modo, o jogador acaba tendo de optar entre manter as cartas sem “sleeve” e cabendo no insert do jogo, ou “sleevar” as cartas e se livrar do insert. Entretanto, isso diminui o valor de revenda do jogo, por não contar mais com todos os seus componentes originais.
Para quem não sabe, “sleeve” é aquele envelope plástico colocado nas cartas de um jogo, para protegê-las e conservá-las melhor. Essa prática se tornou muito comum, principalmente após o lançamento do “Magic The Gathering”. Como esse jogo possuía cartas muito caras (algumas delas muito raras), acabou sendo necessário protegê-las de alguma forma, não só de acidentes, como também do desgaste natural, pelo uso cotidiano. Daí surgiu o hábito de “sleevar” as cartas de Magic, que posteriormente passou para os jogos de tabuleiro modernos, pelo mesmo motivo.
Assim, quase todos os boardgamers brasileiros, especialmente os colecionadores, costumam “sleevar” as cartas de seus jogos. Portanto, a priori, não faz o menor sentido uma editora lançar um jogo no mercado doméstico com um insert que não tenha espaço para as cartas “sleevadas”. No entanto, apesar da prática ser comum no nosso país, o mesmo não acontece, com a mesma intensidade, no mercado europeu ou norte-americano, a não ser é claro, no caso do “Magic: The Gathering”.
Imagem Shopee: Sleeves
Isso ocorre porque no mercado brasileiro os jogos são caros demais para a nossa realidade socioeconômica. Por outro lado, no mercado internacional, em termos proporcionais, os jogos são bem mais baratos, o que torna o sleeve um pouco sem sentido. Seria mais ou menos como se alguém “sleevasse” cartas do jogo “WAR” ou do “Detetive”. Isso é muito incomum, a não ser no caso de edições raríssimas.
Outro elemento importante a ser abordado sobre as caixas dos jogos, é o material de que elas são feitas. Isso pode até parecer estranho, porque, normalmente, as pessoas não dão muita importância às embalagens (muito embora devessem), mas apenas ao conteúdo dos jogos. Ocorre que a caixa é justamente aquilo que vai proteger aquele jogo tão querido. Por isso faz muita diferença se ela é feita de um material resistente, capaz de manter os componentes em segurança e bem conservados, ou se ela é feita de um papelão pouco mais grosso do que uma carta, e que não protege absolutamente nada. Por exemplo, as atuais caixas dos jogos clássicos da Grow ou Estrela melhoraram bastante em relação aos anos 80, mas ainda deixam muito a desejar.
Aliás, um fato curioso, a respeito dos jogos dessas duas empresas, é que dos anos 80 para cá, ao menos aparentemente, a qualidade das caixas dos jogos parece ter melhorado, enquanto a qualidade dos componentes dos jogos parece ter piorado. Mas talvez isso seja apenas uma impressão. De todo o modo, basta comparar o material da caixa do “War” e do “Banco Imobiliário”, com o material da caixa do “Pandemic” ou do “Zombicide”, para se notar a sensível diferença existente entre elas.
Imagem Ludopedia: Dobble e Pega em 6
A grande disparidade de preços entre esses jogos, certamente, tem algo a ver com essa diferença da qualidade das caixas. E isso para ficar apenas em jogos de tamanho médio, e com bom volume de vendas, porque em relação a jogos menores essa diferença de qualidade é ainda maior, como é o caso, por exemplo, do “Pega em 6”, que tem uma caixa excelente, bem como do “Dobble”, que vem em uma embalagem redonda de metal.
Ainda em relação ao tamanho das caixas é preciso considerar que fica inviável usar caixas pequenas em jogos com tabuleiro. Isso porque existe um limite para a quantidade de vezes que o tabuleiro pode ser dobrado, e ainda mantê-lo útil e estável. Normalmente os tabuleiros são dobrados até três vezes, o que diminui por quatro o seu tamanho aberto. Nenhum jogo, de conhecimento geral, utiliza um tabuleiro que seja dobrado dez vezes, por exemplo. Por isso, no caso dos jogos que usam esse elemento, é preciso que a caixa tenha um tamanho mínimo, capaz de acomodar o tabuleiro dobrado.
Outro fator relevante, em relação às caixas, são os formatos, porque isso influencia muito, tanto em relação ao armazenamento, quanto ao transporte. Dependendo da caixa, pode se tornar bem complicado encaixar o abençoado do jogo em uma estante. Basta pensar nas famosas caixas retangulares e compridas dos jogos clássicos da Grow e Estrela dos anos 80 (War/Risk, Detetive/Clue, Banco Imobiliário/Monopoly, Scotland Yard/Interpol).
Imagem Ludopedia: Caixas Retangulares dos Jogos Clássicos
Agora, compare estas caixas com a do “Imagem e Ação”, que, apesar de ainda ser retangular, é mais aproximada do formato quadrado, e muito mais fácil de guardar. As novas versões desses jogos clássicos, até por influência dos boardgames modernos, já estão adotando caixas com um formato mais quadrado e mais alto, do que comprido e raso, como era o padrão antigamente. No caso dos jogos de tabuleiro moderno, as empresas do setor realmente se preocupam com o formato das caixas, porque isso é um diferencial, para os consumidores, na hora de comprar um jogo.
O jogo Quarriors, lançado no Brasil em 2014 ilustra muito bem essa questão do formato de caixa de jogo. Ele é composto basicamente por algumas cartas e uma quantidade enorme de dados (são 130 no total). Na época do lançamento, talvez por exigências contratuais ou por estratégia de marketing, a editora optou por uma caixa cúbica. Já que o jogo envolvia basicamente o uso de dados, a editora achou que seria bom negócio que a caixa tivesse o formato de “dado grandão”. Os componentes (cartas, dados, manual e etc), viriam soltos e separados por ziplocks.
Imagem BGG: Quarriors (caixa cúbica)
No início, toda a comunidade boardgamer achou ótima a idéia e muito legal aquele formato diferente de caixa de jogo, afinal, em geral, os consumidores costumam adorar aquilo que é diferente, mesmo que não seja necessariamente melhor ou mais prático.
O jogo teve ótimas vendas (foi lançada até uma expansão) e, a princípio, todos ficaram bem satisfeitos. Porém, com o passar do tempo, as pessoas começaram a notar três coisas. A primeira coisa foi que o formato cúbico dificultava guardar o jogo na estante, porque sempre ficava sobrando ou faltando um espaço, que quase sempre tinha de ser preenchido por jogos de caixinhas menores que acabavam escondidas.
Do mesmo modo, esse formato cúbico também dificultava o transporte do jogo, para a casa de um amigo, na medida em que, dentro de uma mochila, os demais jogos com caixas quadradas se encaixavam muito melhor, entre si. A segunda coisa foi que, como os componentes ficavam todos soltos, demorava muito mais para encontrar o conjunto de dados correto, necessário para a montagem inicial (setup) do jogo. A terceira, e certamente a mais importante, coisa notada foi que a caixa cúbica do “Quarriors” não protegia muito bem os componentes durante o transporte, porque eles ficavam todos soltos batendo uns contra os outros.
Esse erro do formato da caixa foi tão grande, que a própria editora reconheceu isso, e já na tiragem seguinte, passou a utilizar uma caixa quadrada normal, que vinha com um insert com uma boa separação, melhor acondicionamento e proteção adequada dos componentes.
Imagem BGG: Quarriors (caixa quadrada)
E já que o assunto da vez são caixas e inserts, não dá para deixar de citar o famigerado, e muito conhecido, “Efeito Ruffles”. Ele ocorre porque alguns jogos de tabuleiro modernos tem muito mais ar do que jogo, dentro da caixa. É exatamente o mesmo que acontece com as embalagens dessa famosa marca de batatas fritas. No caso da Ruffles, essa quantidade extra de ar serve para impedir que o conteúdo se mexa muito, durante o transporte, e acabe virando pó. Porém, certamente, esse raciocínio não se aplica aos componentes dos jogos de tabuleiro.
As caixas e inserts também impactam diretamente no preço dos jogos. Elas não apenas fazem parte dos custos de produção, de transporte e armazenagem, mas também do efeito psicológico que provocam no comprador. Isso porque, de uma forma geral, o senso comum diz que em uma caixa maior, deve vir uma quantidade maior de componentes, mesmo que isso não seja necessariamente verdade. Um determinado jogo pode possuir uma caixa grande e uma quantidade pequena de componentes, e alguns são exatamente assim.
Imagem Ludopedia: Efeito Ruffles
Até mesmo alguns jogos consagrados sofrem desse “Efeito Ruffles”. Isso levou um usuário revoltado do BGG, e com tempo disponível, a calcular o percentual de espaço vazio, nas caixas dos jogos de sua coleção. Os casos de maior destaque desse “Efeito Ruffles”, encontrados pelo usuário em questão, foram: o “Carcassonne” (80,69%), o “7 Wonders” (71,01%), o “Splendor” (74,35%), o “Camel Up 1ª Edição” (75,27%), e o “Ca$h’N’Guns 2ª Edição” (40,39%), entre outros.
Imagem BGG: Caixa do Carcassonne
Todos esses jogos são excelentes e certamente não precisam da ajuda de uma caixa grande, e vistosa, para incrementar as vendas. Por isso eles poderiam tranquilamente vir em caixas bem menores. Mas parece que as editoras ficam com medo de que uma caixa menor não convença o consumidor de que o jogo ali dentro vale o seu preço. Assim, lançar o jogo em uma caixa enorme, totalmente desproporcional à quantidade de componentes dentro dela, passou a ser uma estratégia de marketing (caixa grande aparece mais), e principalmente de vendas, tanto no mercado exterior, quanto no mercado doméstico.
Obviamente há quem argumente que esse espaço extra é justamente para guardar as expansões dos jogos, em uma única caixa. Isso até faz algum sentido no mercado internacional, onde todas as expansões dos jogos são lançadas, mas não no mercado nacional. Por aqui é muito mais difícil sair uma expansão, por melhor que ela seja. Tanto o “Carcassonne”, quanto o “7 Wonders”, até têm algumas expansões lançadas. No caso do “Carcassonne” vale lembrar que as versões Mares do Sul, Safári, Star Wars e Amazonas são jogos independentes, e não expansões. Mas o “Camel Up 1ª Edição”, possui apenas duas expansões e só a segunda teve lançamento nacional.
Assim sendo, a menos que o contrato de licenciamento do jogo estipule isso, o lançamento das expansões depende do jogo ser um campeão de vendas. Esse foi o caso do “Zombicide”, “Munchkin”, “Terraforming Mars”, “Ticket to Ride”, “Pandemic” ou “Azul”, para citar apenas alguns.
Assim, no mercado nacional de jogos de tabuleiro modernos, o lançamento de expansões é a exceção, e não a regra. Por isso, expansões são o que menos contam, nessa questão da desproporcionalidade das caixas dos jogos. Isso está muito mais relacionado com as estratégias de divulgação e venda dos jogos.
Imagem BGG: Caixa do Splendor
Até mesmo jogos com caixas pequenas, podem sofrer desse “Efeito Ruffles”. O “Exploding Kittens” e o “Age of War” são jogos excelentes, mas cujos componentes poderiam vir em uma caixa que coubesse no bolso. Claro que nesse caso também é possível argumentar que esse espaço extra é para a expansão. Mas talvez faça mais sentido ter duas caixas pequenas que caibam nos bolsos da calça, do que uma caixa maior que exija uma mochila.
Uma pessoa pode até sair de casa, para ir a uma festa ou a um botequim, com uma mochila, o que é bem comum. Mas não faz muito sentido sair com uma mochila só para poder levar um jogo, sem saber se vai dar para jogar. A situação é diferente se a pessoa estiver indo à casa de amigos justamente para uma noite de jogatina. Mas aí a pessoa não levará na mochila apenas para um único jogo festivo, mas sim para uma série de outros jogos.
Acresce ainda, que esse raciocínio “caixa maior para as expansões” só se aplica ao “Exploding Kittens”, porque o “Age of War” não possui expansões. Além disso, guardando as cartas da expansão na própria caixa do jogo base, fica a questão do que fazer com a caixa da expansão. Algumas pessoas jogam fora as caixas, mas outras preferem manter jogos e expansões em suas caixas originais, para manter o valor de revenda.
Imagem BGG: Caixa do Age of War
Além disso, as pessoas também veem o tamanho das caixas como um indicador da natureza dos jogos. Isso na medida em que caixas pequenas normalmente correspondem a jogos do tipo “fillers”, que geralmente são bem mais baratos. “Fillers” são jogos com poucas regras, baixa complexidade, rápidos, e para uma grande quantidade de jogadores. Por conta dessas características é comum utilizar os fillers para preencher o espaço entre partidas de jogos mais demorados, ou enquanto parte do grupo ainda não chegou para a jogatina. Por outro lado, normalmente jogos mais densos usam caixas grandes, com mais componentes, com maior grau de dificuldade e complexidade. Isso, normalmente, significa preços mais caros.
Por isso, as editoras lançam mão desse artifício, como forma de justificar o preço dos jogos. Se o “7 Wonders” viesse em uma caixa igual a do “Coup”, seria muito mais difícil vendê-lo na sua faixa de preço R$ 250,00. E isso independente de ser um jogo consagradíssimo e ganhador do Spiel des Jahres (o “Oscar dos Tabuleiros”).
Vale lembrar que a maioria das pessoas que ingressam no hobby anualmente, não chega já sabendo “quem é quem” no mundo dos board games. Tampouco sabem qual jogo é consagrado e qual não é. Assim, tentar vender jogos “peso-pesado”, e consagrados, em caixas pequenas já seria muito difícil. Então, dá para imaginar a dificuldade do pobre do lojista, ao tentar vender jogos, sem tanto pedigree, em caixas pequenas.
Imagem BGG: Catan Big Box
Outro esclarecimento que não pode faltar, quando se trata das caixas de board games modernos, é o conceito de “Big Box”. Como o nome já diz, “Big Box” é uma versão mais completa, com o jogo e as expansões mais importantes, lançadas ao longo dos anos. Essas expansões, normalmente são muito difíceis de encontrar para comprar. Essa idéia surgiu como uma forma de incentivar os boardgamers que já tivessem o jogo base, a comprarem essa nova versão. Como a “Big Box” contém, além do jogo base, suas principais expansões, esse sempre é um produto mais caro. Isso pode, em um primeiro momento, afastar os novos jogadores, que talvez preferissem comprar apenas a versão básica do jogo.
Para compreender melhor basta tomar o exemplo do jogo “El Grande”. Esse é um jogo excelente, lançado no mesmo ano do Catan, em 1995, ambientado na Espanha medieval. Nele, cada jogador é um representante da nobreza, tentando controlar as áreas do tabuleiro (daí o seu nome, porque os nobres eram os “Grandes”). Esse jogo é dos designers Wolfgang Kramer e Richard Ulrich, sendo o primeiro um consagrado autor de jogos. O jogo fez muito sucesso, tanto de público quanto de crítica, ganhando o prestigiado prêmio Spiel de Jahres de 1996. Em 2006, para comemorar os 10 anos do jogo houve o lançamento de uma edição comemorativa, que vinha com diversas expansões. Isso tornava essa edição muito atrativa, para os antigos jogadores que já tinham uma cópia do jogo, e que talvez não tivessem alguma das expansões.
Imagem BGG: Big Box do El Grande
Posteriormente, em 2015, em comemoração aos 20 anos do jogo, surgiu no mercado internacional a edição do “Big Box”, do “El Grande”. Ela continha com todas as expansões já lançadas. Isso para que as pessoas que tivessem entrado no hobby mais recentemente, tivessem a oportunidade de adquiri-lo. Dessa maneira, mesmo os jogadores que tivessem comprado o jogo no lançamento, mas que faltasse alguma expansão, teriam uma nova oportunidade de completar a coleção. Mesmo o preço da Big Box sendo bem alto, certamente é mais barato do comprar as expansões na mão de colecionadores.
Essa questão da inclusão das expansões é um dos maiores atrativos para as “Big Box” dos jogos. Infelizmente, o “El Grande” apesar de excelente, e de seu sucesso, não despertou o interesse de nenhuma editora nacional, nem mesmo sua Big Box. Essa edição era uma versão comemorativa de aniversário, que se sair de novo, talvez apenas em 2025, nos 30 anos do jogo. Essa talvez seja a única chance de sair uma versão brasileira do jogo.
Imagem BGG: Carcassonne Plus
Por outro lado, outros jogos já tiveram suas versões “Big Box” lançadas por aqui. Isso ocorreu com o lançamento do “Carcassonne Plus”, que na verdade é a sua sexta versão de “Big Box”, lançada em fevereiro de 2019. Esse lançamento, inclusive suscitou intenso debate sobre a validade que quem já tivesse a versão normal, comprar essa “Big Box” do jogo.
Por fim, essas são as principais características concernentes às caixas e inserts dos board games. Assim, o objetivo desse texto é auxiliar os novos jogadores a compreender um pouco melhor, esse maravilhoso hobby dos jogos de tabuleiro modernos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Iuri Buscácio
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SIM
muito interessante esses seus textos, ja li todos, esta de parabens
Caro Leandrão T Error
Muito obrigado. Semana que vem, se o universo conspirar à favor, deve sair mais um texto da série.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Grow e Estrela já foram top de linha no mundo dos jogos. Hj são bagaceira. Qualidade despencou.
Cara Lucia Bia Adriano
Na minha opinião, não é que a qualidade dos jogos da Grow e da Estrela tenha despencado tanto. Certamente houve uma queda, mas ela foi bem menor do que aparenta. Normalmente a tendência das pessoas é romantizar épocas passadas, quando elas eram mais jovens, como se esses velhos tempos fossem melhores em absolutamente tudo. Para fazer uma comparação justa, seria necessário ter à mão, ou poder acessar a versão antiga e compará-la com a nova. Em alguns casos isso é perfeitamente possível, mas em outros casos não. Assim sendo, quando alguém diz que a música era melhor nos anos 70/80 do que hoje em dia, isso dá para fazer, porque é possível colocar lado a lado a música que se fazia na época com a música atual. O mesmo ocorre com livros e o cinema por exemplo. Nesse último, é comum dizer que os efeitos especiais melhoraram, mas os roteiros pioraram, justamente porque os primeiros acabaram sobrepujando os segundos. No mesmo sentido, as histórias precisavam ser melhores porque não havia “pirotecnia” disponível, para enfeitar e mascarar roteiros ruins.
No caso dos board games a coisa é um pouco mais complexa, porque as pessoas costumam comparar aquilo que elas vêem hoje, não com os produto antigos, mas sim com a lembrança, ou seja, com a imagem romanceada que elas têm de como os jogos eram antigamente. Por isso, para uma comparação justa, seria necessário pegar um Detetive ou WAR dos anos 80 e colocá-lo ao lado do produto atual. Por um acaso eu tenho cópias dos dois jogos tanto atuais, quanto dos anos 80. Comparando os dois casos, no meu entendimento houve sim uma queda na qualidade, tanto do material das caixas, quanto da gramatura das cartas. No caso dos elementos plásticos é quase a mesma coisa. Mas essa piora não é tão grande assim.
Além disso, é preciso considerar que de 2010/2012 para cá cresceu muito, no nosso país, a quantidade de pessoas que jogam os chamados board games modernos. Isso tornou muito evidente a enorme diferença entre o mundo das editoras de board games e as empresas tradicionais de brinquedos Grow e Estrela. Os board games são produtos praticamente artesanais, com uma altíssima qualidade nos materiais dos jogos. As caixas são mais resistentes e o papelão é mais grosso, as cartas são mais espessas, os tabuleiros são mais robustos e melhor ilustrados, e as peças, em especial as miniaturas são mais detalhadas e bonitas. Isso sem falar que os board games têm regras, mecânicas e ambientação, muito superior aos dos jogos tradicionais. O problema é que toda essa qualidade superior tem um preço, literalmente falando. Por isso, os board games são muito mais caros que os jogos de tabuleiros clássicos. Por outro lado, os jogos da Grow e Estrela, custam muito mais barato, não apenas porque a tiragem é absurdamente maior (board games vendem um total de 1.500/2.000 unidades de cada jogo, e isso deve ser o volume semanal de vendas dos jogos de tabuleiro tradicionais), mas também porque o custo de produção, e consequentemente a qualidade, dos jogos tradicionais é bem inferior.
Eu também acredito que esse novo paradigma do que é um “jogo de tabuleiro”, que nos foi apresentado com os board games modernos, influencia fortemente a opinião que temos em relação aos jogos de tabuleiro tradicionais. Como a qualidade dos board games é muito superior, a tendência é acharmos que os jogos da Grow e Estrela são muito piores, do que na realidade são. Isso, aliado àquela visão romanceada do passado, faz com que facilmente possamos concluir que a qualidade dos produtos Grow/Estrela caiu assustadoramente, muito além do que realmente se verifica na realidade.
É preciso considerar também que, os produtos Grow e Estrela têm uma qualidade inferior, mas apenas em relação ao material. Porém, em relação aos erros de produção e impressão das cartas e marcadores, o controle de qualidade de Grow e Estrela está anos-luz à frente das editoras de board games modernos. Você nunca vai encontrar uma cópia do Detetive com uma carta chamada Coronel Ketchup, ou um tabuleiro de WAR com o Japão localizado na Europa.
Por outro lado, nos board games modernos existem diversos jogos lançados com erros absurdos, como foi o caso do “Waterdeep – Masmorra do Mago Louco” da Galápagos (2020), do “Western Legends” da Conclave (2020), e mais recentemente, do “Eclipse” da MeppleBR (2022). Todos esses jogos custavam acima de R$ 600,00 na época do lançamento (o preço de lançamento do Eclipse, esse ano, foi de absurdos R$ 1.200,00) e todos eles vieram com algum erro de impressão. A “solução” que a Conclave e a MeepleBR encontraram foi mandar adesivos paras as pessoas colarem por cima dos marcadores e do tabuleiro. E olha que isso ainda foi melhor do que a Galápagos fez, no caso do Masmorra do Mago Louco, porque a editora se recusou até mesmo a reconhecer que havia algum erro (no verso das cartas de uma personagem está escrito “Guereira”, e esse é o menor dos erros) e simplesmente ignorou as reclamações das pessoas. Hoje ninguém fala mais nisso e essa caso até já caiu no esquecimento. Para saber mais a respeito dos problemas de controle de qualidade das editoras de board games e dos reiterados erros de produção, eu te recomendo dar uma olhada nos diversos tópicos correlatos no site ludopedia.com.
Para terminar, não sou nenhum defensor ardoroso de Grow ou Estrela, porque elas realmente pecam muito na qualidade dos componentes dos seus jogos (um bom exemplo disso é o excelente Herdeiros do Khan, cujos componentes são horrorosos), para continuar vendendo-os a preços imbatíveis. Mas eu acho que essas considerações e informações mostram que a questão é bem mais complexa do que parece.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
SIM
interessante essa questão, nunca tinha me atentado em como era ruim guardar meus jogos antigos (banco imobiliario, war, jogo da vida…) e como hj em dia deve ser mais facil mesmo
Prezado Maxiverso vcs me autorizam a imprimir isso e distribuir para meus alunos do ensino fundamental? Temos atividades culturais e eu estou querendo que eles conheçam a historia dos jogos, dou aula de artes. Obrigado.
Cara Sonia Manfredi
Aqui, quem lhe escreve é Iuri Buscácio, o autor do texto e você está devidamente autorizada a utilizar esse texto com seus alunos. Infelizmente só vi sua mensagem agora, por isso demorei tanto a responder. Mesmo assim espero que ainda dê tempo de utilizar esse ano, ou quem sabe no ano que vem.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Nossa sr Iuri muito obrigado! Pretendia utilizar em 2023! Todo dia eu vinha aqui na hora do almoço conferir pra ver se alguém me autorizava, agora estou realizada! O sr me deu um presente de fim de ano, muito obrigada! Bom natal e bom ano novo! <3 🙂 Sonia Manfreddi
Cara Sonia Manfredi
Você disse acima que é professora de artes, e gostaria de usar o texto com seus alunos. Por conta disso, eu estou escrevendo para te dizer que já saiu um novo texto da série, específico sobre a arte e design dos jogos de tabuleiro, que eu acho que será ainda mais interessante para seus alunos. Do mesmo modo pode usar o texto à vontade.
Só para te facilitar, e adiantar o serviço, o link é:
https://maxiverso.com.br/blog/2023/01/06/4a-dica-p-novos-jogadores-conheca-a-arte-design-dos-jogos/#comment-19602
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio