Série Star Wars: Andor (1ª Temporada)
Elenco: Diego Luna, Stellan Skarsgård, Kyle Soller, Genevieve O’Reilly, Denise Gough,Faye Marsay, Adria Arjona, Fiona Shaw, Joplin Sibtain, Varada Sethu, Dave Chapman, Duncan Pow, Elizabeth Dulau, Bronte Carmichael, Kathryn Hunter, Noof Ousellam, Wilf Scolding, Victor Perez, Abhin Galeya, Alastair Mackenzie
Admito que estou em litígio com o universo de Star Wars. Se inicialmente fui cooptado (como a maioria) pelas possibilidades (leia-se mais filmes) do universo comprado pela Disney, tal decepção se tornou uma espécie de previsão pessimista incubada quando a saga saiu das mãos e mente de George Lucas; mesmo que as abordagens por vezes infantis de Lucas prejudicassem em alguns aspectos.
Seria, portanto, muita inocência também que a visão desinfetada e conservadora do estúdio pudesse agregar ao universo político de Star Wars algo além do escapismo; não sendo a toa que a nova trilogia nos cinemas começasse nas mãos de J. J. Abrams que evitou a todo custo correr riscos em O Despertar da Força. E quando se tentou dar um pouco de liberdade criativa ao diretor Rian Johnson em Os Últimos Jedi, o estúdio preferiu ficar do lado dos fãs tóxicos que viram “muita política” e muitos atores não brancos e femininos protagonizando o filme e que estavam “estragando” a infância deles; culminando tudo isso na desgraça chamada A Ascensão Skywalker.
Dito isso, a possibilidade de irmos além da trilogia principal com as séries e spin-offs nos cinemas era uma alento que o universo pudesse voltar aos trilhos, mesmo sendo na TV e ciente de como o estúdio pensa. Entre fracas incursões cinematográficas (vide também o desnecessário Han Solo) e uma boa surpresa (Rogue One) as séries acabaram criando uma sensação de “bate e assopra” para não desagradar ninguém. Se por um lado temos a boa Madalorian, por outro temos a desconjuntada Boba Fett; essa de tão mal ajambrada teve que apelar descaradamente para a primeira na construção do seu arco.
(Isso, obviamente sem falar no azedume bisonho chamado Obi-Wan que fez o fan service exagerado de Boba Fett merecer um Oscar de roteiro original, além de praticar retcons desnecessários e apresentar de longe o pior roteiro de qualquer coisa já criada para Star Wars).
Enfim, chegamos a Andor que faz parte da “banda boa” dessa nova incursão para streaming em que se resgata a essência da luta da liberação dos povos contra a tirania do império através de uma narrativa até elegante e valorizando os personagens ambíguos e suas interações; onde conhecemos peças importantes do inicio da rebelião na busca de recursos (pessoais e financeiros) que terão seus esforços recompensados com os acontecimentos vistos em Rogue One e Episodio IV – Uma Nova Esperança, relacionados à construção da Estrela da Morte.
Idealizado por Tony Gilroy e com as direções dos episódios divididas entre Toby Haynes, Benjamin Caron e Susanna White reencontramos novamente Gabriel Luna como o Cassian Andor, acompanhamos suas andanças como um mercenário convocado por Luthen (Skarsgard), uma espécie de “mentor” dos rebeldes, na origem do movimento.
Estruturalmente divido na preparação e consequências de dois grandes eventos (um assalto a uma estação imperial em si e um funeral no final da temporada), e mantendo-se fiel às origens ideológicas de George Lucas, Andor constrói de maneira eficaz, por exemplo, o paralelo da invasão americana no Iraque quando tropas imperiais invadem a cidade natal do protagonista; fora que narrativamente, a série evita a exposição de elementos clássicos (sabre de luz, batalhas espaciais em abundância, Darth Vader…), e assim como feito em Mandolarian, tal conceito trabalha mais a expectativa pela ação que necessariamente por expô-la de maneira abrupta; causando, assim, um efeito maior quando acontece, não somente pela surpresa mas também pelo desfecho (o que denota a inspiração mais em um thriller de espionagem).
E os maiores exemplos são ao final do assalto na estação cuja fuga traz belos elementos visuais – ao mesmo tempo em que trabalha ação interna do protagonista através da montagem paralela mostrando seus dois nascimentos -, e uma ação envolvendo Luthen quando abordado por um cruzador imperial.
Aproveitando a deixa, é interessante ver finalmente que o poder imperial não ocorre somente pelo material bélico (isso já sabemos), mas por também focar na normalização da repressão aos povos como um mecanismo de caça ao subversivo que pode mandar alguém para prisão sem ter cometido um crime. Império esse retratado de maneira burocrática – obviamente autoritária – pela visão de terceiros um grupo político que ascendeu ao poder através da força e que fará de tudo para manter essa posição; o que me traz a mente um cena de tortura que seria inimaginável em qualquer outro filme da saga (não que seja explícita, mas insinuar tal abordagem nesse contexto é algo inimaginável nos filmes da saga).
Aliás, voltando aos personagens principais, Luthen é o maior exemplo da dubiedade, vide o belo diálogo do personagem com uma de suas fontes. Ciente que, dentro de um momento de opressão, sacrifícios e crimes serão feitos, eles permitem ao público compreender que existe uma zona cinzenta que constantemente pode ser ultrapassada, com acordos feitos com suspeitas e traições – na visão desses indivíduos – necessárias, espantando assim qualquer possibilidade de alívio, e até mesmo quando surgem crianças em determinados momento, é visível que a abordagem ainda são bem diferentes; mas fique tranquilo, não têm atores mirins falando “ops” ou o “o mal do universo é que as pessoas não ajudam as outras”.
Até porque, a presença de Stellan Skarsgård traz um peso ao elenco que conta ainda com a participação de Andy Serkis (em sua melhor interpretação sem maquiagem digital na carreira!) e também da ótima Fiona Shaw como importante base dramática e moral de Cassian, pois sua herança ideológica e revolucionária tem tanto peso simbólico para Cassian quanto a morte de um mestre Jedi para seu Padawan.
Até mesmo personagens que poderiam ser retirados da trama sem grandes consequências, ainda assim, trazem aspectos ácidos entre eles, como o personagem de Kyller Soller. Até porque devemos reparar que Cassian não assume um papel de revolucionário imediatamente, ele está mais preocupado em fugir do que necessariamente participar de alguma ação por contra própria; é isso, portanto que o torna interessante (e foge dos clichês costumeiros).
Inclusive, já que citamos outros filmes e séries da franquia, cabe ainda mencionar o esmero técnico da produção, pois além dos bons roteiros, podemos elogiar a direção sempre certeira dos episódios e a preocupação em eliminar qualquer gordura da história, com alguns episódios usando de diálogos entre os personagens para mencionar episódios ocorridos fora das telas que serviram para fazer a história andar até aquele ponto. E tem a cena pós-créditos do último episódio que faz uma conexão com o filme Rogue One.
Enfim, entendendo que a luta pela democracia é feita em pequenas batalhas diárias e populares, Andor merece elogios por entender esses aspectos (feitos ou não por caminhos sempre tortuosos); sendo a paciência em construir um cenário cujas peças do tabuleiro acabaram de se mover, me pego pensando apenas se o estúdio continuará a compreender isso numa segunda temporada. Ou, assim, como as últimas incursões, a Disney se renderá (novamente) aos mais desprezíveis dos pensamentos que vão justamente contra tudo aquilo que foi mostrado até aqui.
Rodrigo Rodrigues
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Ahsoka é bom tb. Mandalorian tb. Espero que o l i x o do Obi-Wan tenha sido uma exceção. Ou que o problema tenha sido aquela diretora ridícula.
a coisa chegou num ponto que Andor, que é no máximo arrumadinha, virou “excelente” so pq não é ridícula como Ibi-Wan-Kenobi… bom, e qt a Last of Us? Vai ter resenha?
saldo Disney (sem as animações):
Episodio 7 – Bom
Episodio 8 – Ruim
Episodio 9 – Péssimo
Rogue One – Ótimo
Solo – Ruim
Mandalorian – Ótimo
Boba Fett – Ruim
Obi Wan – Péssimo
Andor – Ótimo
Tudo que fizeram errado em Boba Fat e RetcObi Wan foi feito certo em Andor! Que primor de série, do roteiro aos diálogos!
saber que o Imperio ainda fez o que fez com mao de obra escrava deixa eles ainda mais despreziveis
Andor é muito boa. A Katalin Kennedy deve ter interferido zero nela.
Tudo parecia perdido em SW… Filmes cheios de problemas, séries despencando de qualidade, culminando na execrável ObiWanKemobi. Aí vem Andor e nós da esperança. #ForaKKennedy