Análise: Arquivo X – Um marco da TV mundial
Arquivo X foi meu primeiro grande amor televisivo quando me refiro ao seriado personificado na dupla de agentes do FBI Mulder e Scully. Passaram-se 30 anos desde sua estreia em 1993, cujo exercício prazeroso de poder escrever algumas lembranças, somente não é compatível ao olhar para trás e ver como o tempo escorre rápido pelas mãos.
Meu primeiro contato com a série, caso minha memória não falhe, foi em 1994 ou 1995. Fiquei espantado quando um amigo me mostrou um episódio aonde um alienígena caçador de recompensas vem a Terra para matar refugiados intergalácticos. Claro que contando dessa maneira soa meio absurda a motivação, mas o que atraia era abordagem sombria, algo completamente diferente do que tinha visto ou pudesse imaginar. Tudo parecia tão convincente ao fugir de quaisquer estereótipos para o tema de ficção científica e pela rápida pesquisa feita sobre o tal episódio , isso aconteceu por volta da segunda temporada. Mas não consigo lembrar quando coloquei os episódios em dia, principalmente numa era sem internet e TV paga… era coisa para poucos.
Mas consegui, e tudo mudou!
Assim começou minha saga como fã – Excer – de Arquivo X, ao ponto de mudar minhas rotinas e finanças inclusive. Comecei a colecionar tudo que podia relacionado à série, seja guia de episódios caseiros feitos em pequenas convenções, cartões, revistas especializadas em séries que davam capa a Arquivo X mensalmente, biografia da Gillian Anderson e David Duchovny, pôsteres, CD’s com trilha sonora, cartaz de filme insistentemente pedido nas locadoras da vida, fundo de tela de computador, livros com histórias inéditas e camisetas usadas com orgulho estampado por fazer parte daquela marca reconhecida no mundo todo; inclusive teve uma vez que outro grande amigo me convidou para um show, pois tinha um ingresso sobrando. O que aconteceu? Não fui, pois precisava ver a conclusão do episódio da temporada tal… Obviamente não é algo que faria novamente, mas, por favor, perdoe o então jovem de 16 anos que não sabia nada da vida!
Assistir Arquivo X era um ato sagrado para mim e independente de ser sexta feira, quarta, domingo ou segunda (a série mudou de horário e dias várias vezes durante os anos) estava lá em frente à TV (canal Record) para exercer minha fidelidade. No entanto, já no final dos anos 90, eu deixei de assistir pela TV aberta quando um querido parente com acesso a TV paga se prontificou a gravar para mim; assim uma vez por mês assistia três a quatro episódios de uma vez com som original e legendas, meses antes de estrearem na TV aberta.
Não vou entrar em detalhes dos episódios até porque não há como e nem é minha intenção. São mais de duas centenas de episódios e seria um exercício hercúleo. Além disso, você tem esse texto do Ricardo Ramalho para contar mais sobre episódios e os bastidores da série. Recomendo!
Existem séries com momento geniais, mas o produto criado a partir da mente conspiratória de Chris Carter inspirada em “Além da Imaginação” com pitadas de “Twins Peaks” e “Silêncio dos Inocentes” era genial quase todo o tempo ao falar de ufologia, criaturas exóticas e conspirações do governo com reflexos de Watergate e influenciando tudo que veio a seguir (tanto temática quanto narrativamente) tal como Fringe, Lost, Bones, Supernatural etc.
Como tirar da mente obras-primas como “Terror no Gelo” inspirado no clássico “Enigma de Outro Mundo” de John Carpenter, “Assassino Imortal” que apresentou o mutante Eugene Tooms, o tenso “Quando a noite cai” e “O jogo de Gato e Rato” com seu inesquecível plano final de provas guardadas pelo governo? Isso somente ainda na primeira temporada!
Mas o que atraía tanto em Arquivo X?
Narrativamente falando, eu julgo a série com um elo cinematográfico com a TV ao investir seriamente nos efeitos especiais, direção de artes caprichadas, trilhas sonoras e arcos dramáticos que dividiam o seriado em episódios individuais e aqueles que se completavam como mitologia ao todo.
Roteirizado também por Vince Gilligan – nada mais que o futuro criador de Breaking Bad –, Arquivo X passava longe de qualquer necessidade de finais felizes ou fechados e sempre tentava pautar as histórias com viés científico, trazendo-a para uma realidade palpável ou um degrau acima dela como disse uma vez o próprio criador da série.
Obviamente seu alicerce era a química e a tensão sexual entre Mulder e Scully. Ponto para Chris Carter que segurou isso durante longas temporadas, cujo entrosamento entre David Duchovny e Gillian Anderson é um daqueles encontros icônicos diante das telas, raramente vistas na TV. Inclusive, o seriado foi um divisor de águas ao servir com uma espécie de experimento social com seus sites de discussões sobre os episódios e teorias numa era que a internet começava a dar seus primeiros passos. Além do mais, o tema de música de ainda ecoa no imaginário popular como pano de fundo de algo além da compreensão e bizarro.
Quando a série atingiu seu auge (por volta da 4ª temporada) os rostos de Duchovny e Anderson estavam nas capas de revista do mundo inteiro, os dois se tornaram celebridades alcançando além da bolha de fãs da série, chegando inclusive aos cinemas em 1998. Algo ousado para época, pelo fato do primeiro filme ser praticamente uma conclusão do o que acontecia no final da 5ª temporada, e o prévio conhecimento do que estava acontecendo era fundamental para a identificação com a história, mesmo que o filme tente criar um enredo para não iniciados.
Passei anos de minha vida me dedicando à série, mas claro que nem tudo são flores. Com um desgaste natural da história a partir da 6ª temporada que estava sendo esticada com desdobramentos além da conta que obrigavam os fãs a se virarem para conectar tudo, Arquivo X tentou manter-se com a entrada de novos protagonistas interagindo com Mulder e Scully numa espécie de passagem de bastão: John Doggett e Monica Reyes (interpretados por Robert Patrick e Annabeth Gish).
Particularmente falando, acho que a série ganhou um novo fôlego e poderia ir em frente, mas não foi o suficiente ou tivessem perdido o timing para seguirem sem Mulder e Scully como principais; sinceramente não sei. De qualquer forma David Duchovny já não aguentava mais (nas 8ª e 9ª temporada ele participou de poucos episódios) e, sem ele, Gillian Anderson teve que servir de bastião quando usaram a falta do ator como álibi para o rapto de Mulder por alienígenas.
Claro que podemos contextualizar um fato: se hoje em dia as séries ainda ficam mais a mercê de audiências e esticam-se a pedido de fãs sem que haja claramente um planejamento visível de seus realizadores (ao contrário, por exemplo, de Breaking Bad e Better Call Saul) imagina há mais de 20 anos com temporadas de aproximadamente 24 episódios cada (algo que ironicamente os estúdios estão destruindo a passos largos ao acabar com as ilhas de roteiro, motivando justamente a greve dos roteiristas). Isso sem contar que o próprio Chris Carter estava se sobrecarregando com outras duas séries: um spin-off do próprio Arquivo X (Pistoleiro Solitários que durou apenas uma temporada) e a ótima – e hoje esquecida – Millennium que foi cancelada abruptamente (mas vale dar uma chance para quem não viu).
Arquivo X teve outro filme lançando em 2008 (do qual gosto, mas entendo que era desnecessário) e duas temporadas lançadas recentemente (2016 e 2018) cujo desfecho para os mistérios soou frio, beirando ao inacreditável (no pior sentido da palavra) por parecer jogar no lixo e de maneira apressada todas as conspirações vistas anteriormente, como por exemplo, o plano dos alienígenas, o desfecho sobre o filho de Mulder e Scully, o fim (ou não?) do Canceroso, etc. Até cheguei a ver alguns episódios, mas poucos chegaram a realmente chamar alguma atenção (como um em que Mulder e Scully enfrentam um inteligência artificial), até porque, como disse no início do parágrafo, os desdobramentos para a trama principal se mostraram equivocados. Tudo soou desonesto e cansativo! Inclusive a atriz Gillian Anderson declarou em entrevista que não gostou dos rumos dados à série nessas duas temporadas “novas”, como podemos ver abaixo.
Infelizmente, tudo isso acabou comprovando a prepotência de Chris Carter ao não tentar se renovar ou buscar outras formas de contar novas histórias para uma nova geração, dependendo exclusivamente da presença de David Duchovny e Gillian Anderson para satisfazer os fãs (antigos). David Duchovny sempre deixou claro que jamais recusaria um chamado para retornar ao papel (claro, de maneira esporádica e pensada), e a própria Gillian Anderson deu uma declaração bem contundente sobre isso e se aceitaria retornar ao papel de Scully futuramente:
“Parece uma ideia tão antiga. Eu fiz isso por tantos anos, e também terminou com uma nota tão infeliz (referindo-se à revelação da gravidez de Scully). Para começar a ter essa conversa (sobre outra temporada), seria necessário haver um novo conjunto de escritores e o bastão precisaria ser entregue para que parecesse algo novo e progressivo. Por isso, sim, está muito no passado”.
Enfim, nada disso apagará os bons momentos de Arquivo X e toda minha dedicação a série. Ela me ajudou a formar lá no início meus gostos e visão do audiovisual e sempre ficará nas minhas memórias. Se um dia o seriado retornar com novos elementos ou personagens, tendo ajuda ou não de Mulder e Scully, estarei lá para conferir.
Os episódios estão disponíveis no streaming e ainda tenho todos os box de DVD’s das temporadas para revisitar, como um exercício de desvendar novamente todos os mistérios de uma das maiores séries de todos os tempos.
The Truth is out There!
Rodrigo Rodrigues
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tem uma lista de maiores series da historia, as 50 maiores, pelas notas agregadas de uns 30 sites de avaliacao e arquivo x nao ta la como que pode esse pessoal é doido
oxalá as seasons mais recentes fossem boas, Arquivo X voltaria com tudo, mas saiu uma bagaceira que da até dó
a serie que mudou tudo, e que me fez me apaixonar pelo tema e por séries, ja que eu nao assistia nenhuma antes de Arquivo X
Brandino
Bem vindo
Arquivo X foi importante mesmo!
Abraço
foi importante na epoca mas nao diria que foi um marco nao… Lost sim foi um marco
amo arquivo x, continuei amando mesmo com a saida do Mulder, alias adoro o John Doget, mas nao curti o segundo filme e as temporadas novas, so vi o 1o episodio da de 2016 e nem continuei…
Bem vinda Ana
Obrigado pelo comentário
Também gostei da entrada do John Dogget , acho que daria para continuar.
Caro Rodrigo
Parabéns pelo bom gosto e principalmente pela excelente resenha. Eu também sou um grande fã do Arquivo X e vez por outra dou uma olhada em algum episódio da coleção de DVDs. Infelizmente dois grandes pontos positivos do seriado, acabaram sendo a sua ruína.
O primeiro ponto é a química entre David Duchovny e Gillian Anderson, que foi de uma sucesso poucas vezes visto no universo das séries. O problema é que um seriado com protagonistas tão marcantes fica difícil seguir sem um deles, e quando são apenas dois, os atores acabam ficando sobrecarregados. Se em Supernatural um dos Irmãos Winchester tivesse saído da série, dificilmente ela teria durado tanto tempo. Com o esgotamento, e a vontade de explorar trabalhos diferentes é natural que os atores encham o saco em algum ponto. Eu acho que foi mais ou menos isso que aconteceu com o Duchovny, que já tinha uma carreira, não tão consolidada , mas já era uma carreira. Diferentemente, a Gillian Anderson praticamente estreou com o Arquivo X, por isso ela ainda tinha mais gás para gastar.
O segundo ponto foi a aura de mistério e conspiração que é uma das características do Arquivo X. O problema é que isso vai ficando cada vez mais difícil de manter ao longo dos anos. Em um exemplo bastante simplório, se eu te mostrar a minha mão fechada e duvidar que você acerte o que tem dentro, eu posso ser o melhor contador de histórias do mundo que em um momento você vai ficar entediado e o mistério simplesmente vai perder a relevância. Isso aconteceu também com a série Alias: Codinome Perigo, da Jennifer Gardner. Sempre que chegava o final de temporada, os fãs descobriam que a conspiração anterior era apenas uma fachada e a verdade era bem mais complicada e profunda. A diferença é que eles fizeram apenas 5 temporadas, justamente para driblar o desgaste do seriado. Claro que são patamares totalmente diferentes, em termos de série, mas isso dá para dar uma ideia.
Por isso, na minha humilde opinião, se o Arquivo X tivesse sido programado para acabar na 5ª ou 6ª temporada teria sido muito melhor. Isso evitaria aquele gosto amargo de como um seriado que no início era tão fantástico, foi decaindo cada vez mais, até terminar de uma forma tão burocrática e sem inspiração. Obviamente que Arquivo X não foi um fiasco no nível de Lost (outro que esticaram até perder totalmente o encanto), ou de Game of Thrones, talvez a maior decepção de todas as séries já feitas até hoje. No entanto não dá para negar, que o final da série, além de melancólico ficou muito aquém daquilo que um marco como Arquivo X merecia. Os filmes foram outra decepção, o de 1998 ainda é legal mas o segundo é melhor nem assistir, e ficar com as boas lembranças. Basta dizer que mesmo tendo sido um grande fã da série, não me animei nem um pouco em assistir as duas novas temporadas. Prefiro manter na lembrança os momentos em que a série estava no auge.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Um forte
reassisti quase tudo em 2016 pra pegar a nova temporada e achei as antigas ruins… e a nova entao, pessima… ou eu mudei ou a coisa envelheceu mal
Bem vinda Guélri
Obrigado pelo comentário
Acho que sua reação é bem válida. Realmente é possível sim acharmos datados por causa dos efeitos ou abordagens mais pueris visto hoje.
Já ruim acho termo um pouco forte. rs
Quanto as novas realmente pouco se salva.
Abraço
me vi no seu lugar ao ler esse texto meus parabens como eu amo Arquivo X
Melilo
Obrigado pelo seu comentário.
Fico feliz em ter causado essa sensação. Isso significa que o texto foi válido
Abraço