Crítica: Duna – Parte 2
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Javier Bardem, Rebecca Ferguson, Austin Butler, Josh Brolin, Dave Bautista, Stellan Skarsgård , Florence Pugh, Léa Seydoux, Charlotte Rampling Babs Olusanmokun, ,Giusi Merli, Alison Halstead, Anya Taylor-Joy, Roger Yuan, Souheila Yacoub e Christopher Walken.
Fazendo seu antecessor Duna soar ainda mais como um grande prólogo para contextualizar os personagens, heróis e vilões, Duna: Parte 2 aproveita não ter esse peso em suas costas e aprofunda ainda mais os conceitos religiosos e políticos, fazendo as tomadas de seus personagens e suas ideologias ainda mais crítica; uma análise sobre o fundamentalismo auxiliado pela força militar de nações poderosas controlando seus súditos através de pregações sobre messias ou invasões a cidades para dizimar um povo e tomar suas riquezas.
Como diz a abertura do filme: “Quem detém as especiarias tem poder total”. Ou poderia ser também: “Quem tem amigos poderosos tem permissão para matar um povo inteiro sem quaisquer consequências das outras nações, que assistem de maneira impávida as mortes por conivência”! Além do mais, soa quase um cinismo nada escancarado que esse mesmos invasores, causadores da miséria e assassinatos, tenham a intenção de usar um mediador para controlar os “ânimos” em nome da democracia e ainda fortalecer sua imagem de salvadores de uma tragédia que eles mesmos causaram.
Ou seja, não há nada político do filme que não possamos usar nos dias de hoje ou daqui a 10.000 anos. Todos os elementos relacionados à incapacidade humana (colonizadores) em deixar em paz outros povos para apenas manter o controle na ordem mundial [ou, no caso, galática].
Bem, isso é sobre o significado mais referencial do conceito de toda a abordagem de Dennis Villeneuve baseada no clássico de Frank Herbert. Assim Duna: Parte 2 continua sua abordagem épica inspirada em Lawrence da Arábia (e também os problemas sobre a visão branca e torpe sobre povos da África setentrional e tudo que esteja além daquela parte do mundo) que influenciou tanto George Lucas (e nem vale a pena fica apontando sobre as homenagens e rimas visuais com Star Wars, mas estão lá); a jornada de vingança do herói Paul (Chalamet) ajudado por Chani (Zendaya) e lidando com o peso de ser visto como salvador do povo Fremen devido à fé depositada nele através de Stilgar (Bardem) e ainda tendo de enfrentar Feyd-Rautha (Butler) que é visto como possível substituto do Imperador (Walken).
Além do mais, não podemos esquecer a dimensionalidade de Lady Jessica (Ferguson), onde sua transformação sem qualquer sinal de empatia ou dúvidas sobre como os Fremem podem ser usados nos planos do filho através do convencimento e medo do povo (“Devemos converter os não crentes um por um. Precisamos começar com os mais fracos, os vulneráveis, aqueles que nos temem”); um discurso que poderia ser emitido em qualquer local de nossa sociedade atual, seja num programa religioso da TV ou… num discurso de alguns defensores da família na Av. Paulista.
Aliás, a figura de Stilgar através do desempenho de Bardem soa convincente por apresentar o individuo com capacidade de agregar as pessoas pela fé em algo que, apesar de acreditar com a própria vida, depende exclusivamente da aceitação de Paul em aceitar sua condição de salvador. Um misto de manipulação da fé sobre as mentes incautas, mas ainda com bom coração em prol exclusivamente a libertação do seu povo, sem qualquer ganho pessoal.
Em contrapartida, Chalamet necessita sempre lembrar que seu personagem está em transição e suas expressões normalmente desinteressadas ou aborrecidas acabam pesando diante do público para alguém que deseja vingança e assumir um legado; mas que acaba funcionando ao gerar o contraste ao explodir de um sentimento natural, quando realmente ele (Paul) passa a ter o poder para mudar o destino do planeta e entender os acordos políticos acima dos interesses pessoais.
O que nos traz a figura de Cheni de Zandaya, a figura mais centralizada da trama, ciente das dificuldades que seu povo passa devido às guerras santas usadas como subterfúgio para invasões estrangeiras.
Apresentando sua estrutura literalmente como um filme de transição para uma batalha final contra as outras casas, obviamente a ser vista no terceiro capítulo, o longa não hesita em usar sua narrativa para demonstrar conceitos históricos com referencias às culturas orientais, seja pelos figurinos dos Fremen e sua ascendência árabe, túnicas ou a concepção nipônica do Imperador de formas mais simples, cuja guarda real seja vista como samurais feudais.
Mas também é elogiável que o trabalho da fotografia misture esses conceitos ao alterar de maneira fluida o calor do deserto e seus ventos movimentando junto as criaturas, ao ponto dos Harkonnen serem vistos sempre pelos tons saturados e sem vida ao extremo até chegar num preto e branco quase total onde até qualquer tipo de comemoração soe algo completamente definhado; algo que uma rápida pesquisa revelou um trabalho da direção ao usar câmeras infravermelhas contextualizando aquelas criaturas de aparência sem vida e sentimentos quase exclusivos de morte.
Mantendo um belo trabalho de direção de artes, Duna: Parte 2 foca novamente sobre o conceito visto no filme anterior, das grandes naves com aparência artrópode, os palacetes grandiosos dos Harkonnen, e principalmente as habitações desérticas dos Fremen, funcionado literalmente como uma espécie de estoque de recursos para a construção do paraíso.
Portanto, elogiável que Villeneuve mantenha um cuidado nas construções das sequências de ação sem necessariamente prejudicar sua mise-en-scene como na batalha final, os embates dos guerreiros e suas bandeiras levantadas através da poeira, e até traz um contexto clássico de gênero faroeste ao duelo ao por do sol ao usar as criaturas subterrâneas como montaria como índios num embate contra os estrangeiros. Isso sem contar com a abordagem elegante de utilizar até mesmo a ausência de som para enaltecer os movimentos e esforços dos personagens em determinados momentos, como visto na sequência inicial dos soldados chegando ao deserto e subindo a montanha, ou na luta de Paul e Feyd-Rautha.
Sem medo de entregar a dinâmica de Paul e Chani à dose dramática de lágrimas do amor curando qualquer ferimento, a obra deixa ciente – através da jovem – que tal sentimento será decisivo para o desfecho da história, e do destino da galáxia. Mas Duna: Parte 2 é também um filme sobre lutas políticas/religiosas impossíveis de serem mais atualizadas, mas que cada dia mais esses dois seguimentos, que deveriam caminhar completamente por linhas distintas, estejam mais inseridos nas mudanças geopolíticas do mundo, de maneira uniforme.
Esse amor que gera morte de pessoas inocentes em nome de suas crenças ainda é apoiado por gente que sequer sabe distinguir as figuras principais de sua própria religião; podendo chamar Jesus de Maomé sem qualquer vergonha de sua ignorância.
Mas Paul embarcará na luta contra essas vertentes, mesmo que ele seja uma parte dela. Ele acredita ser o Mahdi ou Usul (esses nomes me confundem, admito) e caberá a ele enfrentar um poderio ainda maior diante de seu povo. E fico apreensivo em saber como Villeneuve abordará a grande importância de seu protagonista dentro da tela e, consequentemente, do que poderemos extrair disso.
Rodrigo Rodrigues
Latest posts by Rodrigo Rodrigues (see all)
- Crítica: Malu - 02/12/2024
- Crítica: Ainda Estou Aqui - 28/11/2024
- Crítica: Coringa – Delírio a Dois - 11/10/2024
- Crítica: Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice - 13/09/2024
- Crítica: Alien – Romulus - 24/08/2024
pessoal em geral achando o filme parado e insosso… o que está havendo com as pessoa??????????????????
tem tb os que acham o filme ruim pq tem lacrassaum e os que acham o filme ruim pq tem protagonismo masculino toxico… tem de tudo
Finalmente Duna, uma das FC mais importantes da literatura, tem filmes à altura de sua importancia
filmaço! aprende ai Disney!
melhor ler comentarios assim que ser cego
Fury Road é bom apesar da historia rasa como pires (uma perseguissaum pelo desertu) mas nao chega perto de Interestellar, e mesmo que chegue to falando de filme de espaço sideral, outros mundos e planetas
Entao pra vc Fury Road é so uma perseguicao? Achei que estava falando com alguem que entende de cinema, errei, fui mlk
mano Fury Road nao tem nada de roteiro ali é uma persquicao, inclusive o Max e a Furiosa nem tem falas kkkkk os protagonistas nem precisam falar nada, o filme é bom sim mas nao da pra comparar um monte de carro correndo atras de um caminhao o filme inteiro com algo da profundidade de Interestelar, inclusive tem um erro grave em Fury Road, qd eles decidem voltar pra cidadela pra pegar ela desprotegida era so ter ido a noite que os perseguidores nem iam notar, mas nao, vamo fazer isso a lus do dia pra levantar o maximo de poeira que puder pra ter mais perseguicao mais morte mais efeito especial pro pessoal ficar “nossa que incrivel esses efeitos praticos”
a melhor ficção científica que saiu desde Interestelar… Star Wars se sabotou, Blade Runner 2049 é uma dorga, os Aliens novos sao pifios, os Star Trek novos so o primeiro é bom, mas abaixo de Interestelar
Mad Max Fury Road é o melhor