Top 7 filmes que mudaram o cinema
Desde seu surgimento, o cinema passou por várias transformações, sejam elas em sua forma, sejam em seu conteúdo, sejam em seu significado para a cinematografia em si e/ou para a vida real, ou seja, em relação à influência que o cinema causa à nossa sociedade.
Muitas foram as obras cinematográficas que causaram mudanças – e até mesmo rupturas – ou influências à sétima arte, mas listamos abaixo as sete principais. E, como não poderia deixar de ser, depois, fizemos nossa lista de “menções honrosas”.
O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation – EUA – 1915):
O filme de D. W. Griffith, que foi baseado no romance (e na peça) The Clansman, de Thomas Dixon Jr., conta a história de duas famílias estadunidenses na época da guerra civil americana e, depois, da consequente reconstrução do país. A despeito de ser assumidamente racista e xenófobo, e glorificar a escravatura, o que acabou por reviver a Ku Klux Klan e os demais movimentos racistas e segregacionistas nos EUA – e depois no resto do mundo – o filme é o primeiro grande clássico do cinema; o primeiro sucesso comercial de um longa-metragem; e o primeiro filme a apresentar as então modernas técnicas de edição, montagem e decupagem (que perduram até hoje), fugindo do conceito de “teatro filmado”. Além de tudo isso, O Nascimento de Uma Nação marca também a inclusão da classe média e a burguesia no público alvo de filmes de cinema e ainda o início do domínio de Hollywood no cinema mundial, outro fato que perdura até os dias atuais, mais de um século depois de seu lançamento. Como se vê, apesar dos conceitos preconceituosos e segregacionistas, este é um dos mais importantes filmes da História do cinema e o impacto que ele causou só encontrou paralelos em Tubarão e Star Wars, sessenta anos depois. (saiba mais sobre o filme aqui)
Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs – EUA – 1937):
Se hoje a Disney é o maior conglomerado internacional de mídia da Terra – posição conquistada após a aquisição da Fox – podemos dizer que tudo começou lá no fim dos anos 30 do século passado com o lançamento desse que é nada mais nada menos que o primeiro longa-metragem colorido de animação produzido no mundo, e o primeiro a ser lançado nos cinemas e ter sucesso comercial, mesmo dentre as animações preto-e-branco. Seu sucesso foi tamanho que passou por vários relançamentos nos cinemas nas décadas seguintes, algo raríssimo de acontecer, além de inaugurar os parques temáticos baseados em obras cinematográficas, algo hoje comum na nossa cultura. Considerado pela AFI (American Film Institute) como a maior animação estadunidense de todos os tempos, Branca de Neve introduziu ainda técnicas e conceitos de animação e de produção de filmes (como o uso dos storyboards) que perduram até os dias de hoje e que influenciaram todos os estúdios de animação do mundo no século passado, criando praticamente um “padrão” que foi seguido desde então. Na história do filme, uma bela princesa foge de sua madrasta malvada e vai morar escondida na casa de sete anões em uma floresta.
Cidadão Kane (Citizen Kane – EUA – 1941):
A primeira e ao mesmo tempo a obra-prima do gênio Orson Welles, que escreveu, dirigiu e estrelou o longa, é considerada por muitos – inclusive pela AFI (American Film Institute) – como o melhor filme já feito para o cinema em todos os tempos. A história mostra a ascensão e “decadência” na vida do magnata das comunicações Charles Foster Kane, por meio de uma investigação jornalística que tem início com a morte do protagonista, e que busca o significado da última palavra por ele proferida: “Rosebud”. Tecnicamente, Cidadão Kane inovou na época implementando ou popularizando como nunca havia sido visto antes o foco profundo e as tomadas de ângulo baixo, além de alguns efeitos visuais até então inéditos, como por exemplo, as trucagens que permitiam dois planos em um único enquadramento. Além disso, Welles aprofundou o uso dos jogos de luz e sombra e usou takes longos e cenários amplos também como ninguém havia feito antes. Pelo menos não com a maestria dele. Por fim, o diretor ainda juntou a isso tudo um interessante aparente downgrade da cinematografia, implementando técnicas teatrais e radiofônicas em suas filmagens, em algo que poderia ser visto como um resgate dos primórdios do cinema (uma involução, portanto), mas que na verdade foi uma reinvenção.
Planeta Proibido (Forbidden Planet – EUA – 1956):
Até 1955, ficção científica era um nicho “B” do cinema de baixo orçamento, uma espécie de subcategoria – no sentido pejorativo mesmo – da sétima arte. Planeta Proibido, no entanto, elevou o sci-fi ao primeiro escalão do cinema e viabilizou tudo o que veio no gênero depois, inclusive na televisão. E outros “subgêneros” também deixaram de ser vistos como algo “menor” devido ao sucesso desse longa, o que causou uma pequena revolução na produção de cinema na época – e para sempre. Além disso, Planeta Proibido introduziu com louvor os panos de fundo psicológicos e filosóficos na ficção e experimentou o primeiro dos licenciamentos de produtos inspirados em personagens do cinema, com a venda de licenças para fabricação de brinquedos do fenômeno pop gerado pelo filme, o robô Robby (que na época das filmagens foi o mais caro adereço da História do cinema até então). Inspirado no conto Planeta Fatal, de Irving Block e Allen Adler, que por sua vez foi inspirado na peça A Tempestade, de ninguém menos que William Shakespeare, o longa conta a história de uma nave que chega a um planeta distante para tentar descobrir o que houve com outra nave, enviada ao mesmo local vinte anos antes, e do qual jamais se teve notícias. (saiba mais sobre o filme aqui)
Tubarão e Star Wars (Jaws – EUA – 1975 e Star Wars – EUA – 1977):
O cinema (e a cultura ocidental de uma forma geral) como conhecemos hoje foram formatados em um “movimento” que começou com Tubarão, de Steven Spielberg, e se completou com Star Wars, de George Lucas. Esses dois filmes causaram o maior impacto no cinema, e na cultura em geral, desde O Nascimento de Uma Nação, em 1915. Tubarão (baseado no livro best seller homônimo de Peter Benchley) traz um suspense que conta a história de um policial que tem que lidar com o aparecimento de um tubarão assassino nas águas que banham a ilha turística onde ele vive, e iniciou a era dos blockbusters com mega-investimento em produção e marketing e consequente arrecadação milionária (hoje, bilionária). Star Wars é um épico de ficção científica que mostra a luta de um povo, de uma galáxia distante e de outra época, combatendo seres malignos e governantes opressores, e iniciou – e definiu o formato atual de – uma franquia cinematográfica, inaugurando a era dos licenciamentos generalizados de produtos derivados de um filme, de brinquedos, colecionáveis e roupas, até spin-offs em várias mídias diferentes. Além disso, tecnicamente, implementou a maior revolução da história do cinema em termos de efeitos especiais. Por fim, a saga dos Jedi ainda deu o atual e merecido valor – financeiramente falando – ao home vídeo, ou seja, ao costume de se ver em casa os filmes que antes foram vistos no cinema. A forma como consumimos cultura pop hoje, portanto, é uma mescla do que Tubarão e Star Wars definiram, lá na década de 70.
Produzido por mais de dez anos por James Cameron (que roteirizou e dirigiu o longa), Avatar mostra humanos colonizadores em conflito com a natureza e os habitantes nativos de uma lua distante, por conta do interesse dos terráqueos em explorar as riquezas naturais daquele satélite. A despeito dos avanços tecnológicos que o filme trouxe, sobretudo nos efeitos especiais, a maior contribuição de Avatar para o cinema foi o fato de ele revitalizar o 3D e com isso propiciar a popularização dos filmes filmados prevendo essa aplicação, além de fazer com que as telas grandes como o iMax também explodissem em popularidade, o que, consequentemente, forçou a adoção de técnicas e equipamentos novos que permitissem o melhor uso do 3D e dessas telas grandes. Avatar também teve um impacto grande na visão dos maiores estúdios acerca da arrecadação com bilheteria, pois foi o primeiro filme a chegar à marca de dois bilhões de dólares em faturamento, aumentando muito o récorde anterior de Titanic, que já tinha mais de uma década, e mostrando o potencial do cinema para chegar às marcas bilionárias, o que se achava muito difícil na época (Titanic era considerado uma exceção).
Vingadores (Avengers – EUA – 2012):
A última grande “revolução” do cinema veio com a introdução do universo compartilhado da Marvel, algo nunca antes visto com tal magnitude, sucesso e alcance na indústria cinematográfica. É verdade que Superman, de 1978, foi o primeiro grande marco e sucesso de filmes de heróis, e que os filmes X-Men de 2000 e Homem Aranha de 2002 foram os precursores da fase moderna do gênero, assim como também é verdade que Homem de Ferro, de 2008, “inaugurou” essa franquia da Marvel, porém tal ocorreu sem que na época se planejasse efetivamente um universo compartilhado de heróis, que contaria uma mesma história central para diversos personagens de diversos filmes, que se encontrariam então em um filme único posterior. Isso só se materializou de fato no longa dos Vingadores, em 2012. Ali, na prática, passava a vigorar, pra valer, o conceito de universo compartilhado, que se mostrou posteriormente o projeto de maior sucesso da história do cinema, suplantando inclusive a saga Star Wars nesse quesito. Desde a união dos heróis em Vingadores que outros estúdios, como a Warner (DC Comics), a Universal e agora a Legendary, tentam emplacar seus universos compartilhados e a tendência é que outros se joguem nessa nova maneira de pensar e fazer cinema. Ou que vejam que o que a Marvel fez foi único e difícil de se reproduzir, e desistam.
Menções honrosas de outras obras que de alguma forma mudaram a história do cinema: Viagem à Lua (1902), O Gabinete do Dr. Caligari (1920), O Encouraçado Potemkin (1925), Metrópolis (1927), Tempos Modernos (1936), Cantando na Chuva (1952), O Sétimo Selo (1957), Psicose (1960), A Pista (1962), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), O Exorcista (1973), Sexta-Feira 13 (1980), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E. T. – O Extra-Terrestre (1982), Jurassic Park (1993), Toy Story (1995), A Bruxa de Blair (1999), Matrix (1999), Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001).
E aí, o que achou da nossa lista? Discorda de algo? Conta pra gente aí embaixo o que você mudaria nesse Top7!
Ralph Luiz Solera
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E eu como não sou nenhum pouco fã de Marvel ou DC, substituiria eles pelo primeiro filme do Superman de 1978. Mas ainda senti falta na lista de 2001 – Uma Odisseia no Espaço ou Blade Runner.
2001 ta nas menções honrosas desse artigo e tb na lista de 10 ficções científicas fundamentais https://maxiverso.com.br/blog/2016/02/12/top-10-obras-fundamentais-da-ficcao-cientifica-revistas-livros-filmes-etc/ uma rara lista em que colocamos 10 obras ao invés de 7 hahaha
Caro Rafael
A lista está excelente apesar de incompleta na minha humilde opinião. Sei que você quis manter o número 7, talvez por “motivos cabalísticos obscuros”, mas isso prejudica no caso de uma forma de arte tão ampla como o cinema. Eu acho que nenhuma lista de melhores e mais importantes filmes de todos os tempos está completa se não incluir Casablanca, E O Vento Levou…, O Poderoso Chefão e A Noviça Rebelde.
O primeiro é um filme percussor do cinema noir, e que apresenta uma dos principais anti-heróis da história. Além disso, Casablanca mostrou ao mundo que um filme romântico não precisa ser necessariamente água com açúcar.
O clássico E O Vento levou foi o filme que mostrou mais do que nenhum outro antes dele, a grandiosidade que um filme pode ter. Ele ocupa o quarto lugar na lista da AFI, teve treze indicações ao Oscar e venceu oito. Isso além, de ter sido um sucesso estrondoso de crítica e público. A bilheteria foi um recorde que durou 25 anos, e isso em uma época em que não havia televisão, portanto para assistir um filme o sujeito tinha de ira ao cinema. Se os 390 milhões de dólares forem reajustados pela inflação, o faturamento ultrapassa os 4 bilhões de dólares, um bilhão a mais que Vingadores Endgame, o mais rentável do filmes atuais (isso se não considerarmos Avatar e Titanic, filmes atuais). Outra coisa que conta a favor de O Vento Levou é que esse filme ajudou a popularizar o cinema e fazer dele um entretenimento para as grandes massas.
Por fim, O Poderoso Chefão dispensa apresentações, além de ser o filme com aquela que é provavelmente a melhor performance de um ator em filme que é o Don Vito Corleone do Marlon Brando. Esse é um filme simplesmente obrigatório, para qualquer um que goste de cinema, e que realmente eleva o cinema a uma forma de arte.
Por fim, a Noviça Rebelde, que além de ser um dos melhores musicais de todos os tempos, vencedor de cinco Oscars incluindo melhor filme de 1965, foi o filme que levou as famílias para o cinema. Nesse sentido, ir ao cinema deixou de ser algo para namorados e amigos e passou a ser um programa para toda a família, e que atendia a toda a família, não apenas parte dela, como ocorria com as animações da Disney. Além de ter derrubado o recorde de bilheteria de E O Vento Levou (com o reajuste da inflação o filme rendeu quase 3 bilhões de dólares), A Noviça Rebelde estabeleceu um recorde que é quase impossível quebrar. Esse filme ficou em cartaz por impressionantes 147 semanas, ou seja são quase três anos em exibição, um feito que nenhum filme antes ou depois, conseguiu repetir, e que atualmente é impossível igualar em condições normais.
Para terminar, independente dessas ausências, mais uma vez parabéns pela lista.
Um abraço
Iuri Buscácio
Mestre Iuri, belas ponderações! Eu concordo plenamente com vc que os filmes que vc tb elencou são marcantes, grandiosos e importantes para a história do cinema. Aliás, gosto de todos eles tb rsrs… mas “lista” é sempre assim ne, algo acaba ficando de fora, cada um tem sua lista, e por ai vai. No meu caso, o número 7 é por tradição aqui do site mesmo, e nessa a gente acaba tendo que deixar alguma coisa de fora. Dos que vc listou, E o Vento Levou estava na minha pré lista, seria o 8º portanto se coubessem 8 filmes na lista hahaha os demais, apesar de todo aprumo técnico e peso que eles tem na arte, considerei que eles não mudaram o cinema, não estabeleceram um “antes e depois” como os outros 7 que incluí. O próprio E o Vento Levou ficou fora pq depois Tubarão e Star Wars estabeleceram o conceito de “blockbuster” e/ou sucesso de bilheteria estrondoso, mas de forma definitiva, moldando o cinema em um “antes e depois”. Mas, como eu disse, listas são sempre polêmicas e cada um tem suas preferências, nunca haverá consenso rs… abraço!
parabens bem legal essa lista e os motivos
Sexta Feira 13??? O prezado autor poderia explicar pq aquela porcaria mudou o cinema???
Sexta-feira 13 foi quem popularizou o subgenero slasher, ou seja, praticamente introduziu o terror no mainstream e na cultura pop; além disso, transformou Jason em uma celebridade pop (primeiro personagem de terror a receber tal atenção); e foi a maior franquia de terror da História até Jogos Mortais. Dentre outros “feitos”.
parabens por mais um post de alta qualidade top mesmo parabens
nunca tinha ouvido falar desse nascimento de uma nação e o filme parece o mais importante da historia do cinema kkkkkkkkkkkk muito bom esse artigo
bela seleção, eu incluiria Viagem a Lua mas vc colocou na menção honrosa ta de bom tamanho tb