Piores filmes do mundo: Sete Múmias (Seven Mummies)
Nome original: Seven Mummies
Direção: Nick Quested
Roteiro: Thadd Turner
Atores principais: Danny Trejo e Billy Drago
Produção: EUA – 2006
Duração: 90 minutos
Gênero: Terror
Columbia Pictures
Cotação – Piores Filmes do Mundo:
> Crítica (com spoilers):
Ainda acredito que um dos maiores mistérios do capitalismo contemporâneo é o financiamento feito a filmes como Sete Múmias. O que convenceu alguém a colocar dinheiro em algo assim? Como um estúdio teve a pachorra de filmar – e lançar! – uma coisa dessas?
Como eu disse, é um dos grandes mistérios do nosso tempo…
Mas vamos analisar juntos essa obra que entrou com honras poucas vezes vistas na nossa galeria de Piores Filmes do Mundo: a história fala de alguns foragidos da justiça que, no caminho para o México, decidem ir atrás de um tesouro supostamente escondido em uma velha cidadela do tempo do velho oeste e, lá, descobrem que o lugar está cheio de zumbis e múmias que guardam o ouro.
Logo no início do filme, antes dos créditos iniciais, vemos, em tempos de faroeste, dois sujeitos arrastando um caixão cheio de moedas de ouro pelo deserto. Enquanto param um minuto e ficam rindo feito otários com as moedas nas mãos, um cavaleiro aparece do nada e, sem mais delongas, mata os dois com uma espada. Sem perder um minuto, o espadachim já está galopando de volta para o horizonte.
Não dá nem tempo de pensar “Ei! Você vai deixar o ouro todo ali?!”, pois mais incongruências aparecem logo em seguida: vemos, já nos dias atuais, um furgão da polícia acidentado no deserto e os bandidões dominando a dupla de policiais que os escoltava. Enquanto o policial homem é morto friamente pelos criminosos, a policial mulher, com seu “potencial bélico”, se é que me entendem, é poupada e levada como refém, e a trupe sai caminhando pelo deserto.
Na cena seguinte já vemos que o potencial da moçoila foi confirmado, já que, misteriosamente, em meio ao sol escaldante do deserto, ela tirou a parte de cima da farda e está caminhando apenas com uma camiseta sumária, contrariando tudo o que pode ter aprendido em anos de moradia na região e dando um belo recado aos povos do Oriente Médio: deixem de usar chapéus, turbantes e roupas longas que protejam sua pele do sol, o lance é ficar só de camiseta regata!
No meio da caminhada, um dos criminosos acha que estão rumando ao nada e, fazendo birra, separa-se do grupo, tomando outra direção. Os outros, enquanto continuam indo para onde acreditam estar a fronteira com o México, param e, pasmem, um deles começa a cavar o chão, com as mãos, com o pretexto de achar água! A explicação: “As vezes, podem ser encontradas ‘poças d’água’ no meio da areia e a pouca profundidade.” Não ria. O pastelônico argumento foi apenas uma maneira de fazer o personagem achar um esqueleto em sua escavação e, dele, retirar um medalhão.
Sim, concordo com você, deve ser mais fácil ganhar na Mega Sena do que você parar no meio do deserto e, bem no local onde resolve cavar, encontra um esqueleto e um medalhão.
Continuando, a patota logo chega a uma casa perdida no meio da savana mexicana e se depara com um índio sabichão que, claro, de cara já mata a charada e profetiza a morte de todos lá. Mas, mesmo assim, conta pra eles a lenda dos 7 padres que juraram proteger uma cidade mineradora nas imediações, mesmo após a morte, e que uma maldição tomou o lugar, mas (essas maldições sempre têm um “mas”…), coincidentemente, quem levar um tal sétimo medalhão para lá e juntá-lo aos demais, poderá ficar com o ouro do lugar.
Nem precisaria citar aqui que os bandidos decidem ir atrás do ouro, mesmo desviando-se do seu caminho. A sequência termina com o índio (o conhecido Danny Trejo) dando uma daquelas caricatas risadas maléficas, enquanto a turminha segue o caminho. Mais tosco, possível! Sim, possível, pois você nem imagina o que ainda nos resta…
Em pouco tempo nossos heróis (?!) chegam à tal cidade. Na primeira tomada do local, o nosso caro diretor Nick Quested mostra uma típica cidade-fantasma do velho oeste, decrépita, vazia e esquecida no meio do nada. Mas basta chegar um pouco mais perto (ou seja, na cena seguinte) e nossos protagonistas se vêem em uma movimentada e totalmente habitada cidade 100% ativa! E o mais engraçado: nenhum deles sequer pára um segundo e questiona os outros sobre como podem estar vendo caubóis e donzelas de outro século andando pelas ruas como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ao invés disso, entram num típico saloon e sentam-se à mesa, para tomar uma cerveja e apreciar uns petiscos!
Sei que este texto está ficando muito longo, mas juro que estou contando só as piores escorregadas do roteiro! As vaciladas leves nem estão sendo mencionadas…
Mas vamos lá: enquanto estão no saloon, o xerife chega ao local e, depois de uma desculpa tão esfarrapada quanto aquela de cavar a areia pra achar água, decide ou matar ou prender os forasteiros. O dono do saloon o convence a deixá-los de boa no lugar e o xerife concorda, não sem antes fazer um discurso tosco sobre eles não tirarem nada das riquezas do local e a juntarem no céu! Não, não viajei, é isso mesmo o que ele diz, em meio às famigeradas risadas maléficas (à lá índio sabichão do início do filme). Ah, o xerife é o também conhecido ator Billy Drago.
Logo a coisa toda se revela: ao que parece, ao anoitecer (ao que parece, porque a produção bisonha do filme não consegue em momento nenhum criar uma ‘noite’ convincente) a população da cidade mostra sua verdadeira cara: são mortos-vivos amaldiçoados e carnívoros! Os monstros atacam nossa trupe de fugitivos e as lambanças vão se acumulando: os tiros ‘matam’ os mortos-vivos, só que eles também possuem armas – mas não as usam – além de, pelo jeito, estarem morrendo de fome, já que não comem uns aos outros e há muito tempo humanos não apareciam no local! Ops, não muito, já que uma humana vive entre eles (foi poupada não se sabe quando, para ajudá-los a procurar o ouro!).
A humana ajuda nossos protagonistas a escapar do saloon e agora nossos heróis estão vagando pela cidade, escondendo-se dos zumbis e procurando o ouro ao mesmo tempo.
Nesse momento, a cidadela de uma única avenida torna-se uma quase metrópole, cheia de ruas e labirintos formados pelas casas, de tal modo que nossa patota chega a se perder em meio ao emaranhado de construções! Além disso, todos os moradores, que pareciam uma autêntica população quando a cidade foi mostrada na chegada dos bandidos, sumiram, e só o xerife e dois ajudantes estão procurando o pessoal, para matá-los, não se sabe porque.
Aliás, muita coisa não faz sentido: porque matá-los ao invés de fazê-los procurar o ouro, como fizeram com a moça do saloon? Aliás, porquê só ela foi poupada do grupo dela, já que quanto mais gente ajudando, melhor? Aliás, pra que raios zumbis querem ouro?!?! Arrá! Essa resposta o filme deu: no meio da perseguição, o xerife tem tempo de parar, olhar para a câmera e fazer um discurso pra si mesmo, dizendo que ficará “muito rico” quando achar o ouro! Tomou, papudo?! Eles querem é ficar ricos!…
Em meio a outras idiossincrasias do roteiro, nossos amigos restantes (o chefe dos fujões, um fujão bonzinho, a policial e um fujão com linguajar xulo) acham um mapa (!) e chegam a uma igreja onde um alçapão os leva a um túnel que por sua vez os leva a uma sala subterrânea onde estão alguns caixões.
Eles abrem um e encontram uma das tais múmias do título (que de múmia não tem nada, é um cadáver meio decomposto e ainda com aquelas túnicas dos jesuítas). Abrem outro caixão e bingo! Acham as moedas de ouro! Nesse momento, as múmias saem dos seus caixões para protegerem seu tesouro e… epa, porque apenas quatro delas? Hmmm… será que é porque sobraram apenas 3 “mocinhos” e uma mocinha?
Na verdade, nem vale a pena se preocupar com isso, porque, nesse momento, nos indignamos com a luta entre uma das múmias e dois fugitivos, já que a dita cuja desfere socos e pontapés como se estivesse lutando karatê! Juro! Uma outra não, é mais atracadora e pega o fugitivo xingador e o sufoca e depois arranca seus olhos. Nessa hora os dois heróis restantes deixam a outra múmia pra trás e fogem pelo túnel junto com a policial. Quando chegam à igreja, o xerife está lá e, ajudado pelo Monstro de Lost (que ele conjura apenas pra ficar torradinho) mata com uma espada o chefe do bando. O fugitivo bom moço e a policial saem da igreja correndo. Nem perca tempo com o Monstro de Lost… nada é explicado.
Pra terminar o filme, os dois que sobraram pegam uma Harley-Davidson que haviam visto em uma das casas (!?) e saem em disparada pela cidade mas… ao lado deles o tempo todo está o xerife, tentando matá-los com a espada. Sim, o xerife está a cavalo, acompanhando a moto (que deve estar a uns 100 km/h) pela cidade, em uma rua infinita, tentando dar uma espadada nos dois ao invés de atirar neles.
O trajeto é tão longo que o dia amanhece e nosso xerife vira pó ao receber a luz do sol em seu corpo. O cavalo também! E nossos lindos motoqueiros terminam rumando ao horizonte, contra o sol, para o filme terminar da maneira mais clichê possível. Isso sim que é um autêntico Pior Filme do Mundo!
Desculpem me estender tanto, mas eram tantos os problemas do filme que precisávamos dar a honra ao nosso diretor e sua produtora de citar pelo menos os principais deles!
Obs: coisas que tirei do resumo acima mas valem a pena comentar:
a) O bandido que havia se desgarrado do grupo no início do filme é encontrado pelo resto da turma em uma das casas da cidadela, em um quarto que tem um cadáver em uma cama, e ele tira um crucifixo de ouro do cadáver pra mostrar pro espectador e pro colega dele o motivo de ter ficado na cidade. Só que o cadáver pula em cima dele e o mata e só o amigo foge. Dúvidas: se ele já tinha visto o crucifixo, porque o recolocou no cadáver e porque o cadáver esperou o outro bandido chegar pra atacar o primeiro, que passou horas ali?
b) Em um momento, não me segurei e caí na risada… foi quando a policial pára, no meio da cidadela, em meio à perseguição, e (estava ela, um dos fugitivos – o bom moço – e a humana poupada pelos monstros) diz pro fugitivo “Não adianta, não temos futuro!”, querendo dizer que não vê chances deles fugirem, mas aí ele responde: “Se sairmos daqui, teremos!” e ela olha meio de lado pra ele, enquanto o moço apóia a mão em seu ombro, e pergunta: “Promete?!”. Meu Deus, quem escreveu esse diálogo?!?!
c) Como vimos, o xerife era o cavaleiro do início do filme. Se era ele, então foi ele quem levou o ouro de volta pra cidade. Então como ele não sabia onde estava o ouro durante todo o filme? E em meio aos créditos finais, vemos outra dupla de ladrões arrastando o caixão de moedas (ué, passaram pelas múmias?) e novamente um cavaleiro vem a galope e os decapita… teria nosso xerifão se refeito das cinzas?
d) Aliás, como os ladrões dos pré e pós-créditos passaram pelo xerife, pelas sete (quatro) múmias e pelos zumbis? E como – e, raios, porque – o xerife vai atrás deles de dia em seu formato churrasquinho, mas morre quando está perseguindo a moto?
Sei não, mas acho que Thadd Turner (roteirista deste lixo, cujo nome parece ser um fake porque alguém não teve peito de assumir a autoria da bomba) e o diretor Nick Quested são gênios do cinema. Nós é que somos péssimos entendedores…
Ralph Luiz Solera
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meu Deus que obra prima do cine trash kkk preciso muito assistir isso
não chega a tanto rs mas rende umas boas risadas
É pior do que parece rs
assisti essa birosca e uma pergunta que faço até hoje: eu tenho direito a reaver 3/7 do que paguei já que queria ver 7 mumias e só tinha 4??
Anotado aqui: jamais ver esse lixo.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk amei o texto, o filme parece tão ruim que dá vontade de assistir