Crítica: Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
Direção: Tom Ford
Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Isla Fisher, Armie Hammer, Karl Glusman, Robert Aramayo, India Menuez, Andrea Riseborough e Michael Sheen
Susan (Adams) vive em crise com seu bem sucedido marido (Hammer) dentro do luxo e riqueza, mas apesar de ter tudo, a felicidade é vista por ela como algo relativo. Uma mulher que convive com a pressão da imagem e semelhança materna e que tem em sua vida profissional um ambiente insípido e quase etéreo, ratificado pela fotografia em ressaltar os contornos e ângulos retos do local de trabalho. Mas, depois de receber um livro do ex-marido Edward (Gyllenhaal), para uma leitura antes de uma possível publicação, ela vai acompanhando e se envolvendo com a história de violência e terror, ao mesmo tempo em que faz uma metáfora para sua própria vida e dramas. Transformando este Animais Noturnos numa obra perturbadora e incômoda desdes seus minutos iniciais.
O roteiro do próprio diretor, baseado na novela de Austin Wright é um forma complexa e completa de relacionamentos: amores, medos, frustrações e vingança. Como determinado personagem disse “É preciso escrever para manter vivos os personagens”, mas se tratando de sua abordagem, não estamos diante de um “simples” relacionamento, mas sim, de elevar ao máximo suas consequências. Assim, ao final do longa ninguém fica indiferente aos conflitos destes indivíduos, onde a direção mantém até seu último segundo uma intrigantes dubiedade entre a realidade e o ficcional (tanto que me arrisco a dizer que tematicamente falando , o filme soe uma mistura de uma versão sombria de Mais estranho que a Ficção com Onde os fracos não tem vez).
Um constante exercício metalinguístico pessoal, onde os personagens e suas personalidades se misturam a tal ponto, que em determinado altura do longa, temos a consciência que tudo se passa dentro de um universo e sequer lembramos que a protagonista esta lendo um livro. Para tal estrutura funcionar, não se pode deixar de elogiar a montagem de Joan Sobel que mantém a narrativa fluída durante todo o tempo, principalmente se levarmos em conta que o filme trabalha várias frentes e tendo suas histórias ligadas de maneira tão pessoal. Portanto, nada mais intrigante quando o filme, ao dar forma a história que esta sendo lida, personificar o protagonista do livro (Tony) sendo interpretado pelo próprio Gyllenhaal, que em conjunto com esposa e filha (também fazendo referencia a própria Susan), são abordados por três estranhos numa estrada deserta no meio da noite.
Para engrandecer a construção do contexto e sua dubiedade, em determinado momento do filme, a direção após uma conversa entre Susan e Edward, insere um elemento que faz referência ao acontecimentos contido no livro. Assim como, num determinado momento , um personagem ao tomar uma decisão que mudará o destino de todos os envolvidos, a fotografia o realça com o vermelho simbolizando a violência que se aproxima (para logo a seguir, tendo esta mesma lógica, para “contaminar” Tony, que no entanto, tem seu conflito pessoal ainda mais ratificado ao ter sua imagem vista somente pelo espelho). A direção de Ford não é somente contundente em moldar elementos externos e criticar a sociedade americana em si, como também usa vários outros elementos básicos para engrandecer a narrativa, como na intenção de causar repulsa por demonstra um corpo flácido, envelhecido e fora dos padrões que a sociedade exige e deseja (criando um contraste com a beleza externa e jovialidade de Susan).
Assim, mesmo que o diretor não demonstre tanta sutileza, no entanto, se torna contundente também ao ratificar o relacionamento e correlação de Susan e Tony através cortes e Raccord que sugerem uma ligação com contornos maiores que o relacionamento dos dois poderia sugerir anteriormente – principalmente de Edward para Susan. Como por exemplo, numa determinada cena em que Tony ao banho tem sua imagem difundida a de Susan, mas ao mesmo tempo criando um contraste através das palhetas de cores mais dessaturadas (Susan) e quentes (Tony) e até mesmo o posicionamento dos personagens em lados opostos na cama.
Mas o grande mérito do longa se dá quando realmente abre espaço para a interpretações e respostas. Portanto, não é um erro até mesmo admitir os desenvolvimentos dos fatos, como um expurgo dos sentimentos de rancor (o mais evidente), assim como a inclusão de um alter ego como resposta ao relacionamento na “vida real”. Para isso, um ponto importante é a presença de Michael Shannon, que surge de maneia hipnotizante, transformando seu Detetive Andes num homem mesmo servindo a lei, por vezes ameaçador e sempre pronto tomar qualquer medida extrema em prol de justiça.
Se mostrando tão envolvida, a ponto de exclamar o nome do ex num momento de aflição, somos levados aos sentimentos de Susan que nada mais são uma consequência de atos que custam a sair das nossas mentes como aqueles personagens. Mas isso não quer dizer que, após seu final, estamos cientes do que realmente aconteceu em sua plenitude, somente que aqueles animais noturnos ainda estão lá.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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O molde é um dos melhores elementos. Isso não faz de “Animais Noturnos” um filme enfadonho ou desinteressante. O fato é que as duas tramas chamam a atenção, embora a história do livro seja muito mais intensa – e valeria um filme apenas sobre ela! Além disso, os cortes que intercalam as tramas são muito bem orquestrados, e aqui vale dar destaque aos match cuts que aumentam ainda mais a fluidez da narrativa e as lembranças da protagonista. Se Amy Adams consegue dar profundidade na tristeza de Susan, é Jake Gyllenhaal (A recomendação, deixo este filme: http://br.hbomax.tv/movie/TTL603379/Demolicao é o melhor de Gyllenhaal) que se destaca com praticamente três personagens diferentes já que um deles sofre algumas mudanças ao longo de um período. Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson e Laura Linney também se destacam, embora seja um pouco exagerado que Linney faça o papel da mãe da personagem principal, quando qualquer atriz um pouco mais velha conseguiria fazer o mesmo com mais veracidade.
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