Crítica: A Regra do Jogo (La règle du jeu) – 1939
Direção: Jean Renoir
Elenco: Marcel Dalio, Nora Gregor, Jean Renoir, Paulette Dubost, Gaston Modot, Odette Talazac e Mira Parely.
A história de Jean Renoir é a própria história do cinema em se tratando de seus preceitos, uma vez que, sendo filho do pintor e um dos mestres do impressionismo, Pierre-Auguste Renoir, o diretor francês alcançou com A Regra do Jogo (1939), o status de um dos mais importantes e influentes nomes da história do cinema – obra foi lançada após A Grande Ilusão (1937) e A Besta Humana (1938).
Não é para menos, pois ao vermos a obra lançada, damos conta de como diretor estava décadas à frente de seu tempo e costumes; influenciando uma gama de artistas, principalmente os integrantes da Nouvelle Vague Francesa de Bazin, Truffaut, Godard e Agnes Varda. Podemos até mesmo tomar, como exemplo, Robert Altman – fazendo de seu Assassinato em Gosford Park (2001) uma homenagem ao clássico de Renoir. E como exercício cinematográfico, arriscaria até mesmo O Anjo Exterminador (Buñuel) ,com seus toques surrealistas, contêm elementos em sua premissa ao usar a elite como foco das discussões dentro de um mesmo ambiente.
Ao ser lançado poucos meses antes da Segunda Grande Guerra Mundial, A Regra do Jogo causou polêmica ao se apresentar como tapa sutil na cara da sociedade da época, ao tratar a burguesia francesa como um antro de hipocrisia e falsidade simbolizado no casal vivido por Christine (Gregor) e o Marquês de Cheyniest (Dalio). O filme foi boicotado devido aos comentários antissemitas e até banido dos cinemas pela elite francesa que se sentiu “ofendida” com a obra. Ou seja, se até hoje tal elemento seja visto com transgressor, imagine em 1939 quando o exemplo de crueldade de uma caçada, por exemplo, era visto como status pela sociedade – lembrando que o diretor não poupa parte das camadas mais baixas por também ser um reflexo influenciável daquele contexto dentro da encenação social. Um teatro de ostentação e fantasias ocultando falsas aparências de um grupo restrito.
Após a façanha de cruzar o atlântico, o aviador Andre (Touiten) é aclamado como herói, contudo, ao se pronunciar ao público, revela tristeza pela ausência na recepção de sua amada Christine que agora se encontra casada com o Marquês. Marquês este que tem um caso com Geneviève (Parely) que se interessa por Andre, cujo amigo Octave (o próprio Renoir) nutre uma paixão por Christine. Ademais, a jovem empregada Lisette (Dubost), casada com Schumacher (Modot), o segurança do Marquês, é seduzida pelo caçador clandestino (Carette).
Bem, pelo resumo é facilmente possível notarmos o tipo de dinâmica comportamental daqueles personagens e triângulos amorosos expostos, antes vistos com normalidade, mas que aos poucos vão tornando proporções maiores; inclusive é interessante notar como o fato do Marquês inicialmente, ao saber do relato do piloto e sua paixão pela esposa, diz à amada que “Todos os homens são iguais” – o que denota uma maturidade no relacionamento que vai sendo corroída com maestria pelo diretor. A Regra do Jogo não se torna somente emblemático somente pelo seu conteúdo, mas sim como Renoir apresenta sua narrativa. Possuindo um dos melhores mise-en-scene do cinema, o diretor acaba criando uma ligação direta com a própria arte, uma vez que o sentido de profundidade de campo sempre se encontra em movimento em um total controle de tempo e espaço dos personagens em tela – remetendo ao primeiro parágrafo, tal elemento parece algo “herdado” do pai que pintou obras baseadas em certo hedonismo.
A câmera de Renoir se movimenta com fluidez em longos planos ou planos-sequências registrando os amantes se encolhendo diante do perigo de serem flagrados, ao mesmo tempo em que se entregam aos seus desejos. Assim, quando começa a festa de gala na mansão do Marquês, somos envolvidos por aquela desenvoltura das ações dos personagens se encontrando no salão ou corredores, ao mesmo tempo, em que outro casal passa ao fundo em uma verdadeira aula de direção cinematográfica; seja o próprio casal protagonista, um empregado tentando agredi-lo ou mesmo um convidado da alta burguesia reclamando que não se existem “homens como antigamente” denotando uma frustração social, mas soando falso moralista.
Claro que, por vários momentos, o tom assume nuances de uma comédia devido ao entre e sai dos personagens em cena, mas a genialidade se encontra justamente nesta “dúvida” de entregar-se ou não a comédia, uma vez em que final deixa claro certa ambiguidade devido ao seu humor sombrio diante da tragédia tratada como pormenores. Final este que, para mim, não me permite pensar em outro contexto que exatamente aquele na qual a burguesia jamais permitirá que seu statu quo seja invadido, até porque eles que ditam as regras deste jogo e o que mais estas pessoas temem é a exposição.
A Regra do Jogo é um obra fundamental para qualquer cinéfilo!
Rodrigo Rodrigues
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bela critica gosto muito desse filme tinha ate uma copia em videocassete
quase dormi vendo isso… tem que ser muito cinefilo pra gostar
Panguela
Bem vindo
Acho que não precisa ser muito. E pode ser relativo , pois eu quase dormi vendo o ultimo Star Wars.
A Regra do Jogo é reconhecidamente influente e com diversas qualidades narrativas. Mas se não gostou , não tem problema. Mas se quiser apontar os motivos que fez ter esta impressão do filme, fique a vontade!
Abs
vi esse filme faz uns 25 anos e reassisti hoje e fui dar uma busca na net sobre ele… ainda gosto muito mas ele envelheceu muito muito mal que pena
Diniz,
Bem vindo e muito obrigado pelo comentário!
Eu acho que não; a obra se torna o que é justamente por sempre soar atual, principalmente quando ela desnuda parte da sociedade. Fora, claro, a narrativa que sempre será uma aula de direção.
Abraço
classico dos classicos amo esse filme
Bem vindo Salata Embar
Realmente é impossível não amar esta obra prima!
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