Star Wars – Underworld (a série de TV esquecida de George Lucas)
Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante…
Em 1977 o cineasta George Lucas lançou nos cinemas do planeta todo o filme Guerra nas Estrelas (Star Wars), hoje conhecido como Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, mudando pra sempre a ficção-científica no cinema e fazendo surgir uma das franquias mais lucrativas da cultura pop, cultuada por fãs do mundo inteiro até os dias de hoje, com continuações, prequelas e produções hoje voltadas para a TV, sem contar os inúmeros produtos que invadiram o mercado desde então, fazendo Lucas um dos homens mais ricos do mundo do entretenimento.
Tudo isto já faz parte da história e virou “lenda”.
Hoje os seriados de TV do Disney +, como Mandalorian, The Book of Boba Fett, Obi-Wan Kenobi e Andor são produções campeãs de audiência do mundo streaming, o que ajuda a elevar ainda mais o legado da franquia para novas gerações por muitos e muitos anos, ainda que Obi-Wan, por exemplo, tenha sido muito criticada pelos fãs. A futura série da Ashoka mal foi anunciada e já é uma das mais aguardadas em todo o mundo, em todas as plataformas…
Mas o que pouca gente não sabe é que Lucas tentou durante quase uma década produzir uma série de TV live-action de Star Wars que mesmo após o grande sucesso de seus filmes arrasa quarteirões, não conseguiu sair do papel.
Onde será que ele falhou? Neste artigo, tentaremos rastrear desde as primeiras ideias, a pré-produção, o cancelamento e o motivo do seu fim (sem nunca ter existido) e tentar elucidar o que poderia ter sido a série.
Histórico
Os primeiros rumores sobre um seriado baseado em Star Wars surgiram através de uma notícia do site The Force – a maior referência sobre Guerra nas Estrelas na Internet em janeiro de 2004.
Segundo a notícia, a LucasFilm estava estudando um projeto de uma série de televisão regular de Star Wars, que mostraria os eventos pós-Episódio III e pré-Episódio IV. A premissa do programa seria a terrível ascensão do Império e dos Lordes Negros do Sith – Darth Vader e Darth Sidious. Entretanto, ninguém soube explicar na época se trataria-se de uma série animada ou de uma aventura live-action (com atores reais).
Em setembro de 2004, ao ser questionado pela MTV norte-americana, o cineasta George Lucas afirmou, pela enésima vez, que não iria realizar os episódios VII, VIII e IX. No entanto, estava pensando em “passar o bastão” para alguém continuar sua aventura espacial na televisão, na forma de um seriado live-action. O diretor disse que o trabalho não seria diferente do que já era feito até então com os livros e quadrinhos de Star Wars, em que diversos criadores interpretam sua criação com competência [naquele que ficou conhecido como “Universo Expandido” da franquia]. “Precisamos encontrar uma pessoa bastante talentosa para assumir o projeto e desenvolvê-lo. Não me importo de não participar. É algo que pode ficar muito bom. Se eu conseguir as pessoas certas, pode ser interessante”, declarou o cineasta.
Em dezembro de 2004, o site IESB divulgou um rumor sobre o possível envolvimento do diretor Kevin Smith (Menina dos Olhos) na telessérie de Star Wars que estaria sendo desenvolvida pela LucasFilm. Ao ser questionado pelo site em duas oportunidades, Smith não negou ou confirmou a informação, mas outra fonte do IESB garantiu que ele foi orientado pelo estúdio a não falar sobre o projeto. Outro rumor do IESB seria o de que aparentemente, Mark Hamill – o Luke Skywalker dos Episódios IV a VI – apareceria na telinha em ocasiões especiais como o jedi que o consagrou no cinema. No entanto, o foco do programa seria em personagens novos, que não existiam nos três cultuados filmes da chamada Trilogia Clássica (ou Original).
Em abril de 2005, durante o período de lançamento do Episódio III – A Vigança dos Sith, a LucasFilm estava abrindo vagas para contratar pessoas para a equipe que desenvolveria suas séries de TV de Star Wars. O site oficial do estúdio abriu vagas para desenhista de personagens, color designer, desenhista de ambientes e especialistas em efeitos especiais.
E no mesmo mês, durante a Star Wars Celebration III, George Lucas voltou a comentar que duas séries de TV de seu universo estavam sendo desenvolvidas. A primeira seria totalmente criada através de animação por computação gráfica e teria episódios de meia-hora de duração (esta série animada se tornou depois a celebrada Star Wars: Clone Wars). A outra teria atores reais e utilizaria diversos personagens dos filmes. Nenhum dos principais, no entanto. O diretor revelou ainda que pretendia escrever a primeira temporada inteira para depois filmá-la de uma só vez. É possível que ele mesmo assumisse a direção de episódios centrais da história, que deveria começar a ser produzida dentro de um ano, a partir daquela ocasião.
Logo depois, em maio de 2005, uma TV australiana divulgou que a telessérie live action de Star Wars seria filmada por lá. O país abrigou partes dos três filmes da então nova trilogia de George Lucas (Episódios I, II e III da chamada Trilogia Prequela ou Prequência) e o anúncio oficial seria revelado no próximo mês, assim que o contrato fosse assinado. Mas nada aconteceu após este anúncio.
Ainda no mesmo mês, o jornal australiano Sunday Herald Sun publicou o boato de que o australiano Matt Newton (Rainha dos Condenados) estava sendo cogitado para um papel na série e a LucasFilm, aparentemente, já teria procurado o ator para verificar sua disponibilidade. E no mesmo mês, em entrevista para o jornal australiano The Daily Telegraph, o próprio George Lucas confirmou que o programa seria produzido em Sydney, Austrália, com atores, equipe e diretores locais: “Estou ansioso para voltar ao país para trabalhar” disse ele em entrevista.
O criador da saga espacial confirmou também informações sobre a duração prevista do programa. Seriam 100 episódios com uma hora de duração cada. Se a série respeitasse as estruturas normais de outras produções televisivas do período (24 episódios por temporada), deveria durar aproximadamente 4 anos. No mesmo jornal, o produtor Rick McCallum informou que o projeto havia sido definido, mas que eles ainda não sabiam quando a produção começaria. As histórias aconteceriam dentro do período de 20 anos que separa os episódios III (A Vingança dos Sith) e IV (Uma Nova Esperança), época em que a Estrela da Morte estava sendo construída e o Império – controlado por Palpatine – ampliava sua influência na galáxia através do medo. “É um seriado derivado, não terá os personagens consagrados da cinessérie. É um mundo com identidade própria e esse período está sendo considerado pois é o mais longo de toda a saga”, disse McCallum.
Em junho de 2005, um novo boato partiu do site AICN, dizendo que a vindoura série de Star Wars podia não seguir uma diretriz imposta por George Lucas: a de privilegiar coadjuvantes e não mostrar personagens principais da saga. Segundo o site, as aventuras aparentemente se centrariam nas figuras de Han Solo e Chewbacca, piloto e copiloto da nave Millennium Falcon. O boato dizia que a série poderia se fixar no período da invasão separatista, quando Solo vivia no planeta Kashyyk, criado por Wookies (!)… No mesmo mês, em entrevista para o USA Today, George Lucas também comentou que Daniel Logan, jovem ator que interpretou Boba Fett em Episódio II: O Ataque dos Clones, poderia aparecer na série em desenvolvimento. Logan completou 18 anos na época, mas devia interpretar o mercenário mandaloriano ainda mais velho.
Segundo uma entrevista de Lucas ao site IESB na mesma época, o seriado só iria começar um ano ou dois depois da produção do desenho animado em 3D de Star Wars: Clone Wars. Lucas também informou que havia planos para outros programas de Star Wars, mas que eles seriam produzidos apenas se as duas primeiras séries funcionassem. Dentre eles estava a saga Cavaleiros da Velha República (Knights of the Old Republic), situada milhares de anos antes de Uma Nova Esperança e já explorada nos livros e games do UE.
Em setembro de 2005 o site IGN informou que a LucasFilm já estava procurando roteiristas para o seriado live action. Além disso, o trabalho deveria começar pra valer a partir de janeiro de 2006, sob a produção de Lucas e do veterano das “guerras estelares” Rick McCallum. Supostamente, a ação aconteceria com o Império já estabelecido como o grande poder da galáxia e os populares caçadores de recompensa, como Boba Fett, possuindo papel fundamental na trama.
Em outubro de 2005, o Entertainment Weekly divulgou que George Lucas iria financiar as produções da série de TV, seguindo a tradição de seus filmes independentes. Cada episódio da série com atores reais, por exemplo, custaria cerca de 1,8 milhão de dólares. Disse ele na época: “Vamos fazer 13 episódios [com uma hora cada] e tentar vendê-los. Se ninguém quiser comprar, tudo bem. Lançaremos em DVD”, declarou o criador, referindo-se ao improvável cenário de nenhuma emissora interessar-se pela série.
Em fevereiro de 2006, o diretor Kevin Smith falando na WonderCon, ao divulgar seu filme O Balconista 2, disse aos fãs que nunca foi procurado pela LucasFilm para conduzir o projeto (veja boato acima de Dezembro de 2004). No entanto, Smith disse que gostaria de falar “aguarde e verá” para todos os que perguntavam a ele sobre o rumor, já que ele nutria esperanças de que fosse convidado.
Em março de 2006, falando à revista Empire-UK, o produtor Rick McCallum falou sobre as séries de TV: “Não deve acontecer antes de um ano ou dois até que sejam finalizados os roteiros e tudo isso. Mas é um projeto fantástico. Temos escritores incríveis. Será bem mais sombrio, mais voltado aos personagens e acredito que será tudo aquilo que os fãs queriam que os prelúdios [Trilogia Prequela] fossem. Cada episódio terá uma hora e a ação se passará entre os Episódios III e IV. Todos os personagens são inéditos, talvez um ou outro caçador de recompensas pra começar as coisas”.
Em março de 2007, George Lucas falou no William S. Paley Festival, no Museu de Televisão e Rádio de Los Angeles, para divulgar o DVD da série do jovem Indiana Jones. Segundo ele, a série com atores de SW ainda estava “a anos de acontecer”. O produtor sugeriu que até uma segunda série animada podia surgir antes da produção em live-action.
Em setembro de 2007, falando ao TV Guide, George Lucas disse: “Vamos começar a escrever os roteiros daqui a um mês. A série em live-action se passa no universo de Star Wars, mas mostra e acompanha personagens que não apareciam muito na saga. Ambienta-se entre os episódios III e IV, quando o Império domina. É como no Episódio IV quando todo mundo fala do Imperador e de Darth Vader, mas ninguém os vê – os episódios se passam em outros locais. Teremos stormtroopers e tudo, mas nenhum jedi. Vai ser bom porque poderei explorar uma parte desse universo que não pude antes, porque era a história da vida de Darth Vader e eu não podia me desviar demais. Agora posso. Mas a série ainda irá demorar a acontecer.”.
Em outubro de 2007 o site Aint it Cool obteve um extenso relato sobre os planos da LucasFilm para a série de televisão de Star Wars. Segundo o informante do site, veríamos novamente as corridas de pod, onde reencontraríamos Thall Joben, um piloto que já apareceu na série animada Droids. Também encontraríamos dezenas de oficiais e operativos do Império – aliás, eles estariam por todos os cantos, todos temendo Lorde Vader. Rebeldes também não faltariam – e falava-se de um personagem chamado Naberre, que podia ter algum parentesco com Padme Amidala. Outro que devia aparecer era o General Durron, provavelmente o pai de Kyp Durron, personagem de vários romances de Star Wars. Além deles, pelo menos um guerreiro mandaloriano teria vez e até um certo General Papanoida podia encontrar seu espaço. Pra quem não se lembra, o Barão Papanoida foi a participação especial de George Lucas no último filme da Trilogia Prequência (na cena da ópera espacial). Mas personagens mais conhecidos do cinema também podiam aparecer, como Bib Fortuna (o braço-direito de Jabba) e Oola, a dançarina twi’lek (aquela que Jabba atira ao Rancor). A série de TV, com atores de carne e osso, segundo o informante, não devia sair antes de 2010 e seria totalmente financiada pela LucasFilm.
Em março de 2008, o site Collider publicou a notícia que George Lucas e sua equipe estavam lendo vários roteiros, fazendo observações detalhadas sobre personagens e pontos da trama. Ele saberia que a última trilogia dos Episódios I, II e III não tinha agradado tanto então ele queria que as histórias da série fossem muito mais próximas dos filmes originais (Episódios IV, V e VI). O seriado com atores seria totalmente focado nos fãs adultos e não trariam qualquer menção à família Skywalker. Como dito anteriormente, a série ainda iria demorar um longo tempo para acontecer, e os canais que poderiam exibia-las poderiam ser HBO ou Showtime, as negociações estavam em curso. Informações internas diziam que a serie seria “meio Sopranos, meio Deadwood, no mundo de Star Wars” e que ela poderia explorar mercenários ou outro tipo de escória atuando no submundo criminoso desse universo e com eventuais histórias fora desse núcleo. Seriam temporadas curtas, como a citada Sopranos, com 12 episódios e censura 13 anos, com temática sombria, personagens inéditos e um ou outro nome conhecido dos fãs… (nota do editor: seria The Mandalorian a evolução desse conceito?)
Um ano depois, em março de 2009, finalmente novas informações começaram a aparecer. Segundo informações da MTV americana, durante a divulgação do suspense Presságio, a atriz Rose Byrne deixou escapar que “vários dos meus amigos já fizeram testes para a série”. Como a atriz então estrelava o seriado Damages, ela não estava entre os candidatos a um lugar no espaço sideral.
Em setembro daquele mesmo ano, falando ao jornal da Rep. Tcheca, Mlada fronta Dnes, o cineasta George Lucas cogitou que as filmagens da série de TV de Star Wars poderiam acontecer naquele país. Ele tinha filmado lá o seriado As Aventuras do Jovem Indiana Jones e o filme Red Tails. O grande problema era a crise financeira que estava ocorrendo naquele período e ele havia pedido para que a Rep. Tcheca desse incentivos fiscais para que ele pudesse trabalhar lá. Ainda em setembro, durante a convenção Dragon Con, Steve Sansweet, diretor de relações com os fãs da LucasFilm, revelou ao jornal Examiner que a pré-produção do seriado começaria em breve e seguiria durante 2010, para filmagens em 2011. A ideia era colocar a série no ar no final de 2011 ou em 2012 (dois anos além do esperado) – e o formato foi mais uma vez confirmado como episódios semanais de uma hora de duração. Os escritores estavam trabalhando há algum tempo e a história permanecia um segredo da equipe de roteiristas, George Lucas e o produtor Rick McCallum. Sansweet também comentou que nenhum contrato havia sido fechado ainda com relação ao elenco, mas respondeu uma pergunta de fã na plateia, dizendo que alguns anos atrás, Rick McCallum comentou que estava considerando Daniel Logan – o garoto que viveu Boba Fett na nova trilogia – para reprisar o papel na TV. Apesar do retorno estar longe de garantido, aparentemente havia conversas em curso nesse sentido.
No mesmo mês, ainda em 2009, a versão australiana dos sites do canal Sci Fi publicou que “fontes internas” diziam que a produção não apenas ocorrerá por lá, como roteiristas australianos de premiadas séries locais, como Love My Way e Secret Life of Us também teriam sido procurados pelo produtor Rick McCallum para colaborar com a série de Star Wars.
Mais um ano se passou sem notícias sobre a série, até que em março de 2010, o jornal Chicago Tribune informou que a série de televisão live-action de Star Wars tinha finalmente novidades. Os roteiristas estariam terminando o desenvolvimento de todos os episódios da primeira temporada, já que George Lucas e o produtor executivo Rick McCallum queriam todos os textos prontos antes de marcar uma data para início das filmagens. O trabalho, que começara há dois anos, parecia bem avançado… O próximo passo depois do encerramento de todos os roteiros seria começar a escolher os atores que levariam a nova saga de Star Wars às telas.
Outro longo intervalo sem notícias ocorreu… até que em maio de 2011 o site io9 foi atrás de um boato de que George Lucas teria mais de “50 horas de material pronto” da série, com filmagens avançadas e tudo. Segundo o io9, jornalistas haviam entrado em contato com a Lucasfilm e descobriram que, na verdade, a produtora tinha 50 horas de “bons roteiros, prontos para serem filmados“…
O problema é que a série não conseguia ver a luz do dia… Mais um ano seguiu, e em janeiro de 2012 o produtor Rick McCallum foi entrevistado ao IGN. A série já tinha um título (Star Wars – Underworld). O título faz referência aos grupos que agem no submundo. “São os criminosos, as gangues. Acompanhamos o que acontece por baixo. É o período em que Luke está crescendo, mas a série não é sobre ele. É sobre o Império tentando dominar tudo”. Segundo ele, os roteiristas estavam adiantados, mas a série só começaria a ser filmada quando fosse economicamente viável fazer na televisão o conteúdo pesadamente digital que Lucas impôs à saga no cinema… E em outra entrevista ao Collider, McCallum falou das coisas serem realmente viáveis financeiramente para acontecer: “Imagine que teremos que fazer episódios semanais de uma hora com mais animação digital e mais efeitos visuais do que um filme de duas horas, encaixando tudo isso em um orçamento de US$ 5 milhões [por episódio]. Esse é o nosso desafio. [George Lucas] criou personagens digitais incríveis que aparecem [nos filmes] por 30, 40 minutos. O processo de realização de um personagem como Gollum ou Jar Jar custa quase o dobro que ter Tom Cruise em um filme. Como finalizar processos que levariam entre duas e três semanas em dois ou três dias?“, pergunta McCallum. No entanto, 50 roteiros já tinham sido entregues e seriam financiados uma vez que a série recebesse sinal verde. Sobre a trama, McCallum explicou: “É tudo bem mais sombrio [que os filmes]. Em termos de personagens e todas as situações pelas quais eles passam… Se George realmente quiser seguir em frente com o projeto, vai ser a parte mais incrível de toda a franquia. É uma versão turbinada de O Império Contra-Ataca.”.
Com tantos problemas como os apontados por McCallum, Underworld parecia não ter chances de sair do papel tão cedo. E o produtor concordou, na mesma entrevista: “[Esses] não são desafios que podemos solucionar dentro dos próximos dois anos. Acho que essa será uma meta um pouco mais demorada.”.
Julho de 2012: durante uma entrevista com o blog Den of Geek, Rick McCallum (que já havia falado com sobre o orçamento do programa no começo do ano) disse que a série de TV era “como Deadwood no espaço” – em referência à finada série de TV da HBO ambientada no Velho Oeste e conhecida por seu teor adulto e sua variedade de palavrões. Enquanto comentava sobre a possibilidade do programa ser exibido em uma emissora aberta dos EUA, McCallum explicou que o maior problema “é que essas são histórias para adultos (…) Nosso público alvo não são garotos de 8 a 9 anos”. Ele continuou, dizendo que eram histórias “diferentes de qualquer outra coisa já associada a George [Lucas] com relação a Star Wars”.
George Lucas vende LucasFim para Disney em 2012: parada total!
Agora aqui chegamos a um ponto de virada… a série estava sendo planejada a mais de uma década, mas ela acabava sendo adiada por vários motivos, que foram desde orçamentário até de ordem logística. Por fim, em outubro de 2012, houve uma mudança geral que abalou pra sempre a franquia Star Wars, e que é lamentada pelos fãs até hoje: o cineasta George Lucas vende a produtora LucasFilm e todos os seus ativos e franquias, como Star Wars, Indiana Jones, Willow, para a Walt Disney Co, pelo valor de U$ 4 Bilhões.
A Disney anuncia logo em seguida que iria produzir uma nova trilogia no cinema, continuando a saga finalizada em Episódio VI – O Retorno de Jedi. Os novos filmes, episódios VII, VIII e IX, iriam seguir o legado criado por George Lucas. A empresa do Mickey anunciava também que filmes spin offs baseados nos eventos e personagens clássicos também iriam ser produzidos.
O produtor Rick McCallum, que estava cuidando da série Star Wars – Underworld, e provável sucessor de Lucas, havia deixado a empresa e Kathleen Kennedy que havia acabado de ser nomeada por George Lucas para a Diretoria foi confirmada como CEO da LucasFilm pela Disney.
Então, como ficaria a questão da série de TV? Se as notícias sobre ela chegavam a conta gotas ao longo dos últimos anos antes da venda, depois elas simplesmente cessaram!
Em Janeiro de 2013, em entrevista ao EW, Paul Lee, presidente de programação da rede de TV ABC, ligada ao grupo Disney, informou que adoraria “fazer algo com a LucasFilm, apesar de ainda não ter certeza o quê”. Ele continuou, explicando que “ainda não discutiram nada com [a empresa], mas vamos dar uma olhada na série live-action e ver se ela combina conosco… mas acabamos de fechar [o contrato]. Definitivamente será parte de nossa conversa”.
E para tristeza geral ddo fandom, após 3 anos sem qualquer notícia, em Janeiro de 2016 Paul Lee, agora em entrevista ao TV Line, disse, sobre a série, que “o foco agora são os filmes [de cinema], então não temos nenhum plano nesse momento. Nosso foco está nas animações [como Star Wars Rebels]”, encerrou Lee. O diretor escolhido para Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força, J. J. Abrams, informou que não poderia se envolver em seu desenvolvimento: “Meu contrato para a TV é com a Warner, então é bem improvável que a Bad Robot se envolva em qualquer projeto televisivo de Star Wars”. Mesmo a CEO da LucasFilm, Katheleen Kennedy, em entrevista ao Slashfilm disse “SW: Underworld tem algo que gostaríamos muito de explorar”.
Então o epílogo disto tudo é que Star Wars, naquele momento para a Disney, era apenas foco nos cinemas. E todo projeto da série foi engavetado, pois o custo-benefício de fazer isto para a TV não era muito atrativo. George Lucas não havia conseguido e parecia que a Disney naquele momento também não tinha muito interesse real…
O que poderia ter sido a série?
Com o cancelamento do projeto Star Wars: Underworld pelos novos proprietários da franquia, a Disney, poucas informações surgiram ao longo dos anos.
Mas, algumas pessoas envolvidas em sua produção, chegaram a revelar alguns detalhes. Este foi o caso do roteirista Ronald D. Moore (Battlestar Galactica, Star Trek e Outlander). Ele foi um dos escritores escolhidos por George Lucas para escrever alguns episódios. Em entrevista ao site Collider em maio de 2020 ele revelou: “Eu era um dos vários (escritores), havia um monte de escritores internacionais que eles reuniam… nós nos reuníamos no Rancho Skywalker uma vez a cada seis a oito semanas, algo assim. E nós partilhávamos as histórias juntos, e logo depois saíamos e escrevíamos alguns rascunhos e os trazíamos de volta a George Lucas, e nós sentávamos para criticá-los, e depois fazíamos outro rascunho e dividimos mais histórias… Foi ótimo! Foi um baile, foi muito divertido. No final das contas, não aconteceu, nós escrevemos, eu diria, em algum lugar entre 40 e poucos, 48 roteiros, algo assim… a teoria era que George queria escrever todos os roteiros e terminá-los e então ele iria embora e descobrir como produzi-los, porque ele queria fazer muitas coisas tecnológicas de ponta com CGI e cenários virtuais e assim por diante. E então ele tinha uma coisa totalmente nova que queria realizar. E o que aconteceu foi, você sabe, nós escrevemos os roteiros e então George disse ‘Ok, isso é o suficiente por enquanto, e eu te avisarei. Quero examinar todas as coisas da produção.’ E então o tempo passou e, tipo, um ano ou algo assim, foi quando ele vendeu a LucasFilm para a Disney.”
Normalmente, os programas de TV não esperam que quatro dezenas de roteiros sejam escritos antes de entrar em produção, mas George Lucas claramente tinha uma visão específica em mente para criar uma série verdadeiramente massiva com um escopo não restrito pelos limites típicos do formato televisivo.
Ronald D. Moore, completou: “Foi uma tarefa extraordinária para alguém fazer. Não conheço mais ninguém que realmente aceitaria isso. Na época, George apenas disse ‘escreva-os do tamanho que quiser e descobriremos mais tarde’. Portanto, realmente não tínhamos restrições [orçamentárias]. Todos nós éramos roteiristas experientes de televisão e longas-metragens, então todos nós meio que sabíamos o que era teoricamente possível em um orçamento de produção. Mas nós apenas dissemos, ‘Para este caso, Ok, vamos apenas acreditar em sua palavra apenas para torná-lo louco e grande’ e houve muita ação, muitos sets. Apenas muito maior do que você normalmente faria em um programa de televisão.”
Moore indica que o grande número de episódios que ele e seus colegas escritores escreveram estariam todos conectados a um enredo abrangente: “Sim, acho que foi praticamente uma grande história. Foi um longo conto com coisas episódicas que aconteceriam. Você sabe, haveria certos eventos [que] aconteceriam neste episódio ou naquele episódio, então foi uma espécie de qualidade episódica para alguns deles. Mas estava contando uma narrativa maior, em termos da história daqueles personagens específicos, naquele cenário.”
Moore também disse que ficaria empolgado em trabalhar nas novas séries do Disney + atuais: “É sempre algo que está em minha mente, mas claramente, eles têm o prato de Star Wars cheio no momento. Não tenho certeza se este é o momento em que você entra e lança uma nova série de Star Wars lá. Eu adoraria fazer algo nessa franquia. Foi divertido ir trabalhar no live-action abortado que eu fiz há muito tempo. Fiquei muito emocionado ao escrever falas para Darth Vader em um episódio e seria divertido fazer isso de novo. Não é apenas a primeira peça de desenvolvimento que estou fazendo lá, mas espero ter permissão para fazer isso em algum momento. Eu tinha idade suficiente para ter assistido Star Wars no verão de 77 e visto originalmente e então você teve que esperar anos para ver o próximo. Eu costumava ler as novelizações e os quadrinhos entre os filmes e você sentia como era um universo rico e quantas histórias você poderia contar de tantas maneiras diferentes. A ideia de que agora eles estão espalhando a saga Star Wars não apenas como a linha principal da história Skywalker, mas fazendo coisas como The Mandalorian e todas essas outras séries… mal posso esperar para ver todas as diferentes possibilidades que serão abertas.”
Outra grande revelação tinha acontecido no final de janeiro de 2020, quando algumas cenas de um episódio de teste e respectivo making-off foi revelado em uma conta no Youtube. O vídeo de 10 minutos é dividido em duas partes, de modo que a primeira contém um pequeno trecho da história, enquanto a segunda traz detalhes dos bastidores de gravação. Nele podemos ver uma mulher misteriosa vestindo um manto com capuz que cobre parte de seu rosto. Ao descer de um veículo, no submundo de Coruscant, ela caminha até uma senhora, que lhe entrega um dispositivo. Durante esse tempo, um droide voador rastreia sua presença e avisa a stormtroopers locais sobre a chegada da suspeita, os quais começam a procurá-la. Confira abaixo:
Esta filmagem foi produzida pela Stargate Studios (cujo currículo VFX inclui Doctor Who, The Walking Dead, The Orville) em parceria com a LucasFilm. A tecnologia VFX exibida na parte do making-of é a impressionante tecnologia Virtual Backlot Live de renderização em tempo real da Stargate Studios. Informações mais detalhadas sobre a série, com concepção de arte, roteiros, desenvolvimento sobre todos os detalhes da atração, incluindo fotos de reuniões com George Lucas se encontram no link abaixo. O texto menciona, inclusive, que os personagens Han Solo, Chewbacca, Darth Vader e Lando Calrissian estariam confirmados para o enredo:
https://docs.google.com/document/d/1DdxDngZpm6acDGOjXTmj6YeFSMO9aI2fNnAc1lL5HOY/edit
Legado
Quase uma década de desenvolvimento (2004 a 2012), e a série não conseguiu ser produzida por George Lucas. A Disney também não encontrou uma equação de custo para seu desenvolvimento junto à sua emissora ABC, cancelando todo o trabalho de anos… mas deixou uma boa ideia no ar. Hoje, com os filmes para o cinema paralisados (por enquanto), as séries de TV ganharam vida com o canal streaming Disney +, que exibe desenhos como SW: Rebels e SW: Visions, ou séries como as elogiadas Andor e Mandalorian ou a criticadíssima Obi Wan Kenobi e em todas elas elementos do submundo da franquia, algumas se passando até no planeta Coruscant. Elementos que muitas vezes podem ter vindo deste material cancelado de Star Wars: Underworld.
Quem sabe algum dia eles voltem a desenvolve-la…
[RM-RS – The Force / MTV / IESB – Lucasfilm / TV Austrália / Sunday Herald Sun / The Daily Telegraph / USA Today / IGN / Entertainment Weekly / Kevin Smith / Time Magazine / Empire-UK / William S. Paley Festival / TV Guide / Aint it Cool / Collider / Mlada Fronta Dnes (Rep.Tcheca) / Examiner / Sci Fi (Austrália) / io9 / Den of Geek / TV Line / Slashfilm / Ronald D. Moore / starwars.fandom.com / Stargate Studios / Chicago Tribune]
Ricardo Melo
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Caro Ricardo Melo
Parabéns pela riqueza de informações e pela qualidade do texto. Realmente foi uma pena essa série não ter saído, mas como diz um amigo meu “o ótimo é inimigo do bom”. De vez em quando a pessoa planeja fazer algo tão grandioso, que acaba deixando de fazer algo realmente muito bom.
Um abraço.
Iuri Buscácio
Obrigado Iuri, e também queria parabeniza-lo pelo excelente trabalho com os textos sobre os jogos. São muito ricos. Abraços.
pelas suas descrições eu concordo com a teoria de que muito desse projeto foi aproveitado em Mandalorian heim
muito bom o texto meus parabens ao autor, Lucas era visionario mesmo, anteveu a era das séries de SW qd ninguem pensava nisso
ja falei uma vez vcs do Maxiverso tinham que publicar alguns desses tratados de vcs em formato de livro rs
Ficou grandinho, né ?
Foi um ano de pesquisas pra buscar lá no começo e a evolução do projeto….e pode ser que novas informações ainda apareça ao longo dos anos…
no fim a gente criticava o Lucas mas tudo que ele fez foi melhor que a Disney
excelente compilado historico sobre o tema muito bom mesmo
Valeu , foi praticamente um ano de pesquisas, revirando artigos de duas décadas pra conseguir tirar este artigo do papel. Obrigado pelo apoio e suporte.
praticamente um documentario sobre a serie kkkkkkkkkkk muito bom parabens