Crítica: Retratos Fantasmas
Direção: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Kleber Mendonça Filho, Rubens Santos e Maeve Jinkings.
O diretor Kleber Mendonça possui uma habilidade de nos cooptar pelo invisível em seus filmes. Esses invisíveis são legados da história; ora pessoal ora coletiva. Sendo assim, como visto em Aquarius e O Som ao Redor, por exemplo, temos a certeza de que aqueles universos estão mais próximos do que imaginamos. Tendo em vista, principalmente, ao trazer um cenário fora do eixo Sudeste; algo importantíssimo como um exercício de brasilidade e estudo social.
Assim, o documentário – contando com pequenas doses de fantasia e suspense, algo comum em sua filmografia – Retratos Fantasmas inicialmente se apresenta como um exercício autobiográfico do diretor, uma vez que o Kleber surge com narrador e ator do filme. Dividido em três partes, o longa foca inicialmente na herança de sua mãe – historiadora e especialista em Castro Alves – relacionada ao apartamento tantas vezes reformado, ao mesmo tempo em que acompanha as mudanças sociais e arquitetônicas do centro de Recife.
O diretor fala de espaço, antes ocupados por ideias e vidas, que aos poucos vai cedendo às lembranças de um passado que jamais voltará. Logradouros mudando de acordo com as aspirações econômicas que não levam em conta mais as tradições. Nada que não tenhamos visto no próprio Aquarius, mas que acaba fazendo de Retratos Fantasmas quase um bastidor de Aquarius e O Som ao Redor ao vermos o ambiente de vizinhos e da casa que funcionaram como elemento em cena para os filmes de 2017 e 2012; onde o realismo se mistura ao exercício de metalinguagem com o narrador assumindo a forma da excelente Maeve Jinkings como aquele personagem preso naquelas memórias.
Mas são as memórias coletivas que realmente definem o filme.
E artisticamente coletivo, nada mais relevante que uma sala de cinema; reafirmando sala DE cinema, não uma sala PARA cinema. Uma diferença de preposição que faz toda a diferença, uma vez que as experiências de uma sala DE cinema são inigualáveis. Lugares cheios de personagem que ajudaram na formação de Kleber Mendonça como cinéfilo e cidadão, não sendo à toa ser elogiável o acervo de imagens pessoais em VHS que o colocam no centro das mudanças do final dos anos 80 e início dos anos 90 quando os cinemas de ruas foram sendo aniquilados pela especulação mobiliaria e mudança de perfil dos espectadores que mudaram do centro da capital para a zona sul e seus shoppings – algo completamente intrínseco as grandes capitais brasileiras que também sofreram com isso.
Particularmente cito cena do então jovem diretor no último dia de exibição de um deles e sua inocente preocupação em manter tudo limpo, assim como a esperança de um dia retornar as suas atividades é tocante. E como é emocionante e engraçada a entrevista com o antigo responsável pela sala de exibição, trabalhando em parcas condições e calor para exibir, por exemplo, O Poderoso Chefão dezenas e dezenas de vezes. As imagens de arquivo em junção a uma eficiente edição invocando ares de inconformismo daqueles locais hoje irreconhecíveis para quem não presenciou a época é um misto de tristeza e boas recordações.
Mas os cinemas não são apenas resgate daqueles locais – onde o cinema São Luiz é o único representante ainda vivo de maneira não tão comercial (leia-se dominados por blockbusters) – e sim um reflexo da nossa sociedade como somente o cinema pode fazer. Tanto o fato das imagens de arquivos das fotos de desconhecidos tiradas em frente aos letreiros dos filmes rendem uma análise sobre como esses filmes (hoje vistos como “cult”) estavam tão próximos da população, ou o fato desses mesmos letreiros servirem como legendas para nosso momento político quando os militares foram às ruas e deram o golpe que instalou a ditadura em 64.
Como alguém que frequentou as salas de cinema do Rio de Janeiro, principalmente as localizadas no subúrbio carioca (leia-se as salas Madureira 1, 2 e 3 e Art Madureira 1 e 2, todos do grupo mesmo grupo do Cinema São Luiz em Recife), é instantâneo o sentimento de nostalgia que o diretor insere no espectador. Sendo inevitável que, ao fazer uma pesquisa para escrever o texto, acabei procurando imagens desses cinemas e fui tomado pelas doces lembranças que aqueles momentos me trouxeram e como eles me ajudaram a criar consciência cinematográfica. E sim, dói muito, ao ver fotos atuais, reparar no estado de degradação que tais locais se tornaram; seja pelo abandono desses locais fechados por tapumes escondendo seus corredores que um dia foram frequentados por milhares de pessoas ou mesmo ou fato de se tornarem templos religiosos, cujo adestramento da fé alheira vai de encontro à visão de mundo que o cinema oferece.
Esses fantasmas são apenas recordações em fotos, muitos estão ainda presos naqueles corredores que permeiam nossas memórias. Eles pedem nosso esforço, não para revivê-los como aqueles tempos, até porque é impossível, mas para jamais esquecermos ao olharmos o passado e nos adaptarmos aos novos tempos de maneira consciente.
Pode até parecer simples, mas o que esta sempre em jogo é a alma de pessoas que participaram desse processo e do próprio Cinema!
Rodrigo Rodrigues
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filme pra cinefilo… passo longe
todo mundo falando desse filme deu ate vontade de assistir
vale muito a pena se vc curte filme que nao seja apenas tiroteio e pancadaria, vai gostar bastante!
Sentimento dúbio ao ver o filme, acho que mais descurti do que curti
muito curioso pra assistir… vou dar uma chance!
bonita e singela homenagem a um tempo que nunca mais voltará
interessante de assistir
Bem vindo Grafeninho
Sim , é um bonito documentário. Assiste por favor.
Abraços
sem o elemento nostalgia… vale a pena?
nao, nao perca seu tempo
Davi
bem vindo
Quais foram os motivos que o fez não gostar do filme?
Obrigado
Sergiao
Obrigado pelo comentário.
Nessa caso, a nostalgia é o filme. Seria cruel e impossível tirar esse elemento.
Em alguns filmes , depender somente da nostalgia seria um equivoco, mas aqui não.
Ou seja, vale a pena sim.
Obrigado
prezado autor, o filme simplesmente não conversa comigo… sou mais novo que vcs pelo jeito, nao tenho a bagagem cultural historica pra me identificar com qualquer coisa do filme, nao sou do RJ entao nao conheço nada ai e tudo que é mostrado simplesmente pra mim é igual se fosse Tibuktu ou Nassau… como 100% do filme gira em torno disso, nao restou nada pra apreciar, pq a historia em si sem esses elementos que vc cita na critica é só mais uma historia legalzinha (e olha lá heim) sem nada de mais, sem nada que a faça interessante ou diferente… ok o filme tem uma fotografia legal devo admitir, mas é só isso que eu apreciei, de resto mais nada, sem falar que por nao me identificar com nada e nao sentir nada por ninguem ali, o ritmo me pareceu lentissimo e me pegava toda hora torcendo pra acabar logo o filme é isso me desculpe mas pelo jeito o filme so funciona pra quem tem algum sentimento envolvido no que é mostrado