Análise: Além da Imaginação (The Twilight Zone) – Parte 3

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Mesmo falecido em 1975, Rod Serling deixou um legado de seu seriado antológico Além da Imaginação (Twilight Zone) para todas as gerações seguintes. Obviamente, que produtores de entretenimento do cinema, da TV, dos quadrinhos, e outra mídias, não deixariam passar em branco nos anos seguintes. Mostramos na segunda parte deste artigo que o cineasta Steven Spielberg, lançou nos cinemas, o longa metragem No Limite da Realidade (Twilight Zone: The Movie), em 1983, aproveitando várias ideias do seriado original, mas não foi apenas isto. A televisão viria novamente recriar novas versões do mesmo ao longo dos anos, em uma tentativa de repetir a fórmula de sucesso de Serling, mesmo que o resultado final, não chegasse a impressionar como o original.

Remake dos anos 80 –  Além da Imaginação (The Twilight Zone) – (1985-1989)

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Depois que a série clássica original encerrou a produção em 1964, o produtor e escritor Rod Serling vendeu os direitos da mesma para a emissora CBS, isto permitiu que os direitos da série permanecesse na mesma emissora na qual foi exibida originalmente e também foi importante para a emissora futuramente voltar a produzir a série, sem a necessidade de pagar outra produtora externa para isso.

Entretanto, mesmo dona dos direitos da série, a CBS demorou muitos anos para criar um novo projeto envolvendo Além da Imaginação, ignorando inclusive propostas dos próprios produtores Rod Serling e Buck Houghton e depois do cineasta americano Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão). A grande preocupação da emissora era que uma nova série não despertaria muita audiência, mesmo porque a original, mesmo se tornando um legado, não fora uma grande campeã de audiência.

Mas o tempo mudou este panorama, conforme falou o chefe do programa da CBS, Harvey Shepard: “Estávamos olhando para o sucesso da série original em syndication e a enorme popularidade dos filmes de Steven Spielberg. Muitos deles (como E.T. ou Poltergeist) lidam com elementos do programa. Talvez o público estivesse pronto para isso novamente.”

Apesar da resposta morna ao filme de cinema No Limite da Realidade (The Twilight Zone: the Movie), homenagem de Spielberg à série original, a CBS deu sinal verde à nova Além da Imaginação em 1984, sob a supervisão de Carla Singer, então vice-presidente de Desenvolvimento Dramático. “Além da Imaginação foi uma série que eu sempre gostei quando criança”, disse Singer, “E nesse momento pareceu um desafio interessante para mim pessoalmente”. Esses sentimentos foram apoiados por uma série de jovens cineastas ansiosos para deixar sua marca em uma série que provou ser influente em sua vida e obra – pessoas como os escritores Harlan Ellison, George R. R. Martin, Jerry Bertrand Finch, Paul Chitlik e os diretores Wes Craven e William Friedkin. Os atores convidados incluiu estrelas como Bruce Willis, Helen Mirren, Season Hubley, Morgan Freeman, Martin Landau, Jonathan Frakes e Fred Savage.

Para o remake, um novo tema foi criado pela banda The Grateful Dead e o ator Charles Aidman, que havia participado de dois episódios originais foi convidado para ser o narrador (papel que cabia a Serling). A nova série foi concebida com uma hora de duração por episódio, mas ocasionalmente (como a série original), apresentava duas ou três histórias dentro do intervalo de tempo de uma hora. Durante parte da segunda temporada, o programa apresentou episódios de meia hora.

1ª Temporada (1985-1986) – A série estreou em 27 de setembro de 1985, para uma audiência considerada calorosa. Entre os destaques desta temporada temos episódios adaptados de histórias de Harlan Ellison (cujo Shatterday lançou a nova série), Greg Bear, Ray Bradbury, Arthur C. Clarke, Robert McCammon e Stephen King. Um novo lote de scripts foi complementado com os remakes de episódios clássicos de Twilight Zone, como Dead Man’s Shoes, Shadow Play e Night of the Meek.  O aclamado diretor de terror Wes Craven (A  Hora do Pesadelo), dirigiu vários episódios.

Embora a equipe de produção estivesse convencida de que eles estavam tomando todas as decisões certas, a audiência começou a cair à medida que a novidade do programa passava. “Você não conhece a humilhação até ter sido espancado pelo programa Webster e Belvedere” disse o consultor executivo da série, Alan Brennert. A produção também teve problema com o escritor Harlan Ellisson (1934-2018). Grande crítico de programas de TV, Ellisson estava tendo problemas com seriados que tinha escrito, como Star Trek ou StarLost, teve um dos seus roteiros rejeitados pelos produtores de Twilight Zone, o que acabou levando a um processo dele contra a CBS. Mesmo com altos e baixos, a produção foi renovada para uma segunda temporada, sendo que a primeira foi finalizada com 24 episódios.

2ª Temporada (1986-1987) – A série retornou agora com episódios de uma hora, com um novo dia e horário, Sábado, decisão que fez perder mais audiência ainda. A CBS chegou a colocar a série em hiato, mas quando retornou em dezembro, os episódios eram de meia hora e geralmente continham apenas uma história. A série foi cancelada em fevereiro, com os episódios restantes sendo exibidos durante o verão. Esta temporada teve apenas 11 episódios. Com relação à escrita para o episódio The Girl I Married, o roteirista J. M. DeMatteis (famoso pela autoria da fase cômica da Liga da Justiça nos quadrinhos) comentou: “Eu tenho a impressão de que o episódio que aparece não terá muita relação com o que eu escrevi. Eu descobri é que nesta temporada – ao contrário da última, onde o roteiro era praticamente considerado sacrossanto – a produção está realmente interferindo muito […] Independentemente disso, eu sei que fiz um bom trabalho e foi uma experiência satisfatória e verdadeira.”

3ª Temporada (1988-1989) – Para ter episódios suficientes para vender posteriormente ao syndication, a CBS substituiu a equipe de produção original e começou a fazer trinta episódios de 22 minutos para a terceira temporada; Robin Ward substituiu Aidman como o narrador desses episódios produzidos no Canadá e também regravou a narração de Aidman quando os episódios da CBS foram editados para inclusão no pacote de distribuição. Para liderar a equipe de roteiristas, os produtores trouxeram um novo grupo chefiado pelo produtor executivo Mark Shelmerdine e apoiado pelos editores Paul Chitlik, Jeremy Bertrand Finch e J. Michael Straczynski (que depois também ficaria famoso nos quadrinhos). Straczynski foi o autor de mais episódios nessa temporada do que qualquer outra pessoa na equipe. Os produtores nomearam Straczynski como o único editor de roteiros. Harlan Ellison foi persuadido a volta a série na terceira temporada, e escreveu o que seria o último episódio da série, intitulado Crazy as a Soup Sandwich.

Ao todo foram produzidos 65 episódios destes remake dos anos 80. Ela chegou a ser exibida no Brasil por volta de 1986 após a novela, na Rede Globo. Veja abaixo um episódio completo desta série baseado no conto A Estrela (The Star) do renomado escritor de ficção-científica, Sir Arthur C. Clarke.

Twilight Zone: Rod Serling’s Lost Classics (1994) – Os episódios perdidos:

No ano de 1994, Carol Serling, a viuva de Rod, co-produziu um telefilme chamado Twilight Zone: Rod Serling’s Lost Classics, que foi exibido na TV americana CBS e posteriormente lançado em home-video. Este telefilme foi baseado em um material escrito por Rod Serling, que foi encontrado em um velho baú dentro da garagem da família. Todo este material permaneceu inédito por mais de 20 anos, para finalmente ser lançado. São duas histórias que fizeram parte do seguimento do filme.

O primeiro segmento foi  The Theatre, que teve a história expandida e roteirizada pelo antigo colaborador de Além da Imaginação, Richard Matheson a partir de um esboço inédito de Serling. Neste primeiro segmento é contado a história de Melissa (Amy Irving), que vai ao cinema ver um velho filme de Gary Cooper, His Girl Friday. Melissa se surpreende pois a história do filme é passada como se fosse a história futura dela e ela retorna ao cinema várias vezes, o que não é uma visão bonita vida.

O segundo segmento, que é maior, Where the Dead Are, tem ecos temáticos de histórias de horror baseadas em contos de  Oscar Wilde, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Nele um médico (Patrick Bergin) em meados do século XIX, descobre um velho homem (Jack Palance) com os meios para trazer os mortos de volta à vida. Esta história foi totalmente escrita por Serling.

Este telefilme tem introdução, narração e fechamento do ator James Earl Jones (a voz do Darth Vader), do mesmo modo que Serling fazia.

Remake dos anos 2000 – Além da Imaginação – The Twilight Zone  (2002)

alem_da_imaginacao_2002 Análise: Além da Imaginação (The Twilight Zone) - Parte 3As tentativas de relançar Twilight Zone não pararam ao longo dos anos. A terceira e última série foi lançada em 2002, pela rede a cabo  americana UPN, pertencente aos estúdios Paramount Pictures. Os produtores executivos foram John Watson, Mark Stern, Ira Steven Behr e Pen Densham. A música tema foi composta por Jonathan Davis (do grupo de rock Korn). O papel de apresentador da série, que originalmente era de Rod Serling, ficou para o ator Forest Whitaker.

A série nova manteve a sua linha de abordagem das questões contemporâneas polêmicas, atualmente representadas pelo terrorismo, racismo, gênero e sexualidade. Notáveis episódios podem ser destacados, tais como Jason Alexander na personificação da morte, Lou Diamond Phillips como um tratador de piscina baleado repetidas vezes em seus sonhos, Susanna Thompson como uma mulher cujo desejo declarado resulta em um “upgrade” de sua família, Usher Raymond como um policial incomodado por telefonemas do além-túmulo, e Katherine Heigl atuando como babá para uma criança que poderia ser Adolf Hitler.

A série inclui também os remakes e atualizações de histórias apresentadas na série original de 1959, incluindo o famoso The Eye of the Beholder. Uma das atualizações foi The Monsters Are On Maple Street, uma versão modernizada do clássico episódio semelhante chamado The Monsters Are Due on Maple Street. O episódio original era sobre a paranoia em torno de um apagão em toda a vizinhança, em cujo decorrer, alguém sugere uma invasão alienígena sendo a causa dos blecautes, e que um dos vizinhos pode ser um extraterrestre. A histeria anti-alienígena é uma alegoria para a paranoia anticomunista da época, e o remake de 2003, estrelado por Andrew McCarthy, substitui o alien por terroristas estrangeiros.

A série também contém um episódio que representa uma continuação dos eventos de It’s a Good Life, um episódio da série original e que inspirou um dos segmentos do filme de Spielberg. Bill Mumy personificou a versão adulta de Anthony, a criança com poderes mentais que havia interpretado na história original, e sua filha, Liliana Mumy, atuou como filha de Anthony, mais benevolente, mas ainda uma criança muito poderosa. Cloris Leachman também voltou como a mãe de Anthony. Mumy passou a ser roteirista de outros episódios no renascimento da série.

Essa nova série, transmitida em uma sessão de uma hora, apresentava dois episódios de meia hora, e foi cancelada depois de uma temporada, o que mostra que esse remake não obteve a mesma receptividade do público que as anteriores. Foram filmados ao todo 44 episódios.

Depois desta série, houve outras tentativas sem sucesso de refazer Além da Imaginação no cinema e TV, mas muitos projetos acabaram não indo pra frente. Mas, quem sabe um dia… se bem que muitos consideram que Black Mirror não só se inspira como continua o legado de Além da Imaginação, ainda que com uma temática mais restrita à tecnologia.

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AvatarRicardo-150x150 Análise: Além da Imaginação (The Twilight Zone) - Parte 3

Ricardo Melo

Profissional de TI com mais de 10 anos de vivência em informática. Tem como hobby assistir seriados de TV, ir ao cinema e namorar!!! Fã de rock'n'roll, música eletrônica setentista, ficção-científica e estudos relacionados a astronáutica. Quis ser astronauta, mas moro no Brasil... Os anos 80 foram meu playground!

11 thoughts on “Análise: Além da Imaginação (The Twilight Zone) – Parte 3

  1. tenho as temproadas originais, sao muito boas… a dos anos 80 tb é legal… a do Peele até que tem uns episodios bons tb

    1. Sim, mas sempre a original será melhor…IMO…

  2. adoro! um dos meus programas prediletos! pena que deram a nova serie na mao do Peele, que ta mais interessado em militar do que dirigir

  3. assisti o primeiro episodio da nova Alem da Imaginacao… achei legal, porem confesso que ao ver exatamente o mesmo formato, a sensacao nao foi das melhores… começa igual, com um pequeno prologo, depois um cara vem fazer as vezes do Rod Serling e faz a introducao, ai tem a continuacao do episodio e tals, e no final o apresentador volta e tb comenta algo… legalzinho, porem acho que, sinceramente, se a qualidade das historias nao subir muito, esta fadado ao esquecimento, assim como a versao dos anos 2000.

  4. Então vamos esperar uma nova versão que possivelmente será lançado pela CBS em um ou dois anos . Mas como você mesmo disse, nada se compara ao original.
    Meu episódio favorito da serie dos anos 80, foi o conto escrito por Sir Arthur C. Clarke, “A Estrela”.

  5. Alem da Imaginacao é incrivel. A maioria dos episodios sao cautionary tale, ou seja, têm um fundo moral, sao uma historia que tem por objetivo mostrar que determinadas acoes sao erradas. Isso qd nao sao metaforas de acontecimentos sociais e politicos, como os Monstros da Mapple Street, uma metáfora do macartismo da época. Alem da Imaginacao quebrou paradigmas e mudou a cultura pop para sempre, pena que hj em dia mal se ouviu falar dela.

    1. Tem uma nova versão sendo preparada, possivelmente será lançada em um ou dois anos. Sempre visite nosso site pois novas noticias serão divulgadas em breve. Abraços.

  6. Fechou com chave de ouro esse artigo. Li os 3. Parabens, fantastico!!! Acho que é o melhor artigo sobre Twilight Zone em portugues.

    1. J. M. DeMatteis então virou roteirista de quadrinhos de sucesso quem diria!!!

  7. o remake dos anos 80 no geral nao é lá muito bom, mas tem uns episodios bem bacanas, sobretudo os que refilmaram episodios dos anos 60… a musica tema ficou legal tb, honrando o legado do Goldsmith e engrandecendo-o… nao sei pq nao teve muito sucesso, tinha tudo pra ter grande audiencia sim… a dos anos 2000 foi raquissima, nada se salva, enraçado que o Whitaker apresentando deu um ar meio creepy pq ele é uma figura meio outside e querendo ou não aquele olho dele meio defeituoso da um visual meio estranho qd ele nao esta atuando como ator, mas só apresentando um programa mesmo… se a serie fosse retornar hj em dia seria complicado acho, tendo que enfrentar concorrentes de peso como Black Mirror por exemplo, maaaaas… se a produção fosse de alto nivel (como Black Mirror) talvez tivesse sucesso sim…

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