Crítica: O Predador – A Caçada (Prey)

20

Direção: Dan Trachtenberg

Elenco: Amber Midthunder, Dakota Beavers, Stormee Kipp, Michelle Thrush, Julian Black Antelope, Stefany Mathias, Harlan Blayne Kytwayhat e Dane DiLiegro

Anúncios

Admito que a figura do Predador, para mim, foi enfraquecendo com a medida do tempo. Não somente pelos péssimos filmes recentes, mas pelo personagem me soar covarde demais como todos os caçadores que agem por ego ou status; principalmente quando você tem uma tecnologia infinitamente superior à presa (incluindo a vantagem de ficar invisível). Algo que, por exemplo, não acontece nos filmes da serie Alien em que o bicho age puramente por um instinto selvagem.

Mas isso não tira os méritos dos dois primeiros filmes. No primeiro longa, estrelado por Schwarzenegger, tínhamos uma obra de ação típica dos anos 80 (testosterona e machismo), mas ainda assim tensa e claustrofóbica, dirigida por John McTiernan e com a excelente trilha sonora de Alan Silvestri; Depois, no subestimado segundo filme de 1990, dirigido por Stephen Hopkins, temos uma total mudança de contexto ao locar a ação para a “selva” de Los Angeles dos anos 90 ao acompanhar as ações de Danny Glover contra o invasor espacial, com uma dose de humor sombrio armamentista da população (a excelente cena do trem é o maior exemplo).

Dito isso, fico com um sentimento dúbio (surpresa e uma certa frustração) ao ver esse novo filme Predador: A Caçada (no original apenas Prey), pois é evidente que ele traz certo frescor à franquia praticamente destruída – sobretudo pelo último filme – mas perde uma imensa oportunidade de trazer maior qualidade à narrativa, coisa que conseguiria se evitasse fugir minimamente do óbvio em algumas questões, mas infelizmente algumas escorregadas em seu roteiro mostram que não.

Até chego a ver com bons olhos que esse novo filme tente recuperar a lógica dos dois primeiros ao ambientalizar-se dentro de um contexto sólido (nesse caso histórico) e tentando se afastar das desgraças recentes sobre o alienígena (leia-se Predadores de 2010 e O Predador de 2018); isso sem contar o crossover com o Alien em dois bisonhos filmes que tinham a intenção clara de agradar mais a uma geração de fãs de videogames, mas falharam clamorosamente. No caso desse Prey, podemos citar que o diretor Dan Trachtenberg demonstra uma irregularidade narrativa que me surpreendeu, se considerarmos que ele dirigiu o ótimo Rua Cloverfield, 10.

Isso sem contar com o fato de que o lançamento direto para streaming me incomoda, indicando que os realizadores sequer tinham confiança que a obra poderia render melhor nos cinemas (mesmo com a desculpa oficial de valorizar o canal “recém” inaugurado da Disney, nova detentora dos estúdios que abrigam a franquia).

Mas o problema não é somente esse, até porque como diria Scorsese “Não há um diretor que não queira lançar seus filmes no cinema”. Para mim, e aposto fielmente nisso, é pelo fato dos estúdios temerem um fiasco devido à repercussão por parte do que os ditos “fãs” fariam com um filme da franquia protagonizado por uma mulher e que parecem sentir saudades dos músculos militarizados pintados de lama do primeiro filme (e não me surpreenderia que fizessem o mesmo hoje com o segundo filme estrelado por Glover).

Ambientado no ano de 1719 nas Grandes Planícies do Norte, em Prey conhecemos a jovem comanche Naru (Midthunder, uma boa surpresa) – e sua simpática cadela – precisando provar sua importância para a tribo, ao mesmo tempo em que um rastro de mortes de animais revela-se algo maior. Assim, de cara o protagonismo feminino se sobressai em duas tangentes: a primeira e mais clara, provar dentro de um universo masculino sua capacidade além de afazeres domésticos e a segunda, ainda mais contextual, de que dentro daquele universo a violência (masculina) contra a natureza seja combatida simbolicamente por uma mulher; sendo assim é possível obter elementos que possamos nos identificar na escalada da jovem guerreira.

Roteirizado por Patrick Aison de maneira igualmente irregular, o filme nos deixa com a sensação que seria mais apropriado e eficiente um silêncio contemplativo no lugar dos expositivos diálogos e incomoda o fato de ver a história martelar na cabeça do espectador a lógica do escalonamento entre caça e caçados, como se não pudéssemos identificar automaticamente isso (um animal que caça um menor depois é caçado por um maior) e o claro simbolismo histórico sobre a subjugação dos nativos diante do homem branco; ou exemplo ocorre no momento que ela encontra uma manada de animais mortos para depois encontrar o autor da matança e dizer “foi você que matou”, mesmo isso sendo óbvio.

Interessante apontar que soa bem vindo o fato dos homens brancos do filme falarem um língua quase incompreensível, o que inclusive acaba comprovando que “menos é mais”, sendo uma pena que o diretor, provavelmente com receio de afastar o público, tenha optado pelos nativos falarem o inglês fluentemente em vez da língua original comanche; tanto que há uma versão do filme dublada nesse idioma – inclusive, fiz um rápido exercício imaginário de como esse filme sairia caso o universo histórico fosse mais parecido com aquele visto em O Regresso de Iñárritu ou até mesmo Apocalypto de Mel Gibson.

Para mim, um sinal claro da falta de segurança da produção é justamente o fato do diretor querer trazer elementos narrativos melhor trabalhados, como por exemplo a fotografia ressaltar através de longos planos, a paisagem ainda intocada pelo homem branco, ou um através de um plano sequência da protagonista chegando à aldeia, ou até mesmo um raccord sonoro da batida de uma pedra indicando o surgimento do alienígena. E se o Diretor se excede de maneira rotineira nas rimas visuais (armadilhas, treinamento da jovem denunciando o que virá, etc..), é interessante que as ações fluem diante dos cenários distintos, com destaque para a sequência que se passa numa floresta devastada; e mesmo que a edição evite os cortes rápidos (o que segue a lógica do diretor em ter inicialmente algo mais contemplativo), por momentos as sequências se destoam pelas acrobacias e excesso de artificialidade nos efeitos digitais das mortes, mas é orgânico que a direção consiga inserir até rápidas gags de humor quando os homens brancos perdem um tempo recarregando inutilmente as armas à base de pólvora enquanto o Predador os espera (como se dissesse: “Posso matá-los agora?”).

Aliás, essa cena tem elementos que trabalham de maneira funcional a tensão do filme, como no momento em que vislumbramos ação do Predador ao fundo de uma das vítimas, cujos cavalos correm dentro da neblina com assombrações. Até porque, a concepção do próprio Predador ressoa como um reflexo daquele cenário, pois mesmo ainda apresentando modernas armas (incluindo um escudo que seus precedentes não tinham), ele mantém uma aparência mais rústica sem uma armadura que se destaque, cujo capacete remete ao crânio de um animal.

Predador: A Caçada comete seus excessos dentro de acertos, mas é impossível não imaginar o que o filme poderia render como uma obra de ação em mãos mais habilidosas, que acabam cedendo a pressões externas de gente covarde; esses sim merecedores de um encontro com o caçador alienígena.

printfriendly-pdf-email-button-notext Crítica: O Predador - A Caçada (Prey)
The following two tabs change content below.
FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: O Predador - A Caçada (Prey)

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

20 thoughts on “Crítica: O Predador – A Caçada (Prey)

  1. assista desprendido de expectativas… o filme nao tem lacração nenhuma, pode ir na boa, tudo ali ta bem amarrado, a mina combate o alien de forma totalmente aceitavel… ficar postando hate nas redes sociais com base num meme com foto do schwarzenegger dizendo que no original um exercito tomou vrau do alien e hj em dia uma indigena femea derrota ele nao tem nada a ver, assista pelo menos pra ver como ela conseguiu fazer o que fez

  2. parabens pela analise, eu sinceramente nem ia ver o filme, mas agora que acabei lendo essa analise e parece que é um filme bom eu vou assistir

    1. Obrigado pelo elogio André, espero que possa apreciar o filme.

      Abraço

  3. uma bosta de lacração, a menina palito matando alien, cheio de lógica. Sou apolítico pros imbecis de plantão.

    1. um alien que tava no bico do corvo já, e que nao considerava ela ameaça, e que no fim caiu pela própria arma… diz ae pra gente que cena foi lacradora no filme, qual foi o absurdo que vc viu la?

  4. bom filme… como era esperado, foi odiado por direitistas e endeusado por esquerdistas, quando nem é lacrador e nem é excelente… maldito mundo polarizado

    1. O nome significa, “presa”… então fica dúbio…quem será a presa, a caça ou a caçadora ???

  5. esse comentario tem spoilers ta ————- o filme é bem legal… nem achei forçado o lance da comanche matar o alien, porque ele ja tava no bico do corvo, achei mais forçado ela rapidamente entender o funcionamento de uma arma de fogo e depois, do capacete do alien… nem eu entendi direito como aquilo funciona no automatico, mas ela ja pegou as manhas… a droga que “congela” o sangue é bem paia, de cara da pra ver que ia ser usada por ela pra se camuflar, mas blz no geral o filme é divertido, tem seus lances loucos (ue, tamo num filme de alienígena caçador, queriam o que???) mas nada que compromete

  6. sinceramente, nao vi lacração nenhuma no filme!!! tem um defeito sim que é a mina índia ser noob total mesmo pros lances indigenas de caçar e tal mas do nada vira uma eximia guerreira capaz de matar um predador que ja vimos ser alguem capaz de dizimar um pelotao de elite, mas fora isso nao tem nada de mais o filme no geral é bem legal da pra ver de boas

    1. mesmo isso que vc falou, tem que considerar que o predador tava ja nas ultimas qd ela pegou ele, ja tava todo detonado pelos confrontos anteriores, da pra relevar

    2. O principal lance que poucos viram…a mina índia NÃO ERA uma ameaça ao Predador, se não ele já teria dado fim dela lá no começo…, e sim, o Predador estava todo arrebentado e detonado quando ela finalmente conseguiu dar um fim nele. Em outras palavras, os homens fizeram 60% do serviço ali, ela só finalizou muito bem no final…

  7. Eu percebi que a grande maioria dos defensores (leia-se militantes) do filme PREDADOR: A CAÇADA, usa a mesma resposta para criticar aqueles (eu incluído) que consideram o filme um claro exemplar da militância atual. A tal da lacração.
    Quando alguém comenta contra o filme em questão, a resposta é quase que uníssona: “Ah, esse povo gosta é de ver macho sem camisa nos filmes”.
    É só dar uma procurada nas postagens do filme e é certeza que vão encontrar respostas do tipo. É a resposta preferida deles.

    A questão é que sim, eu gosto mesmo! Adorava os filmes do Rambo e do Schwarzenegger, onde o tal “macho sem camisa” salvava o dia depois de exterminar o inimigo. E isso faz de mim o quê exatamente? Ué, se alguém me diz que eu gosto de filmes de macho sem camisa num tom pejorativo, trata-se de uma crítica à minha sexualidade, não é? Engraçado, porque são essas mesmas pessoas que pregam a igualdade entre gêneros, a liberdade de expressão. Ora, se eu gosto de filmes de ação com protagonistas masculinos, então eu tenho um problema de afirmação sexual, é isso? E se eu realmente tivesse? Qual o problema nisso? Então vocês defensores da ideologia de gênero estão classificando a mim (e todos os detratores do filme) como homossexuais de forma pejorativa? É por essas e outras hipocrisias que você enxerga o real nível do problema mental que esses lacradores possuem.

    Esse tipo de raciocínio doentio e demente, é da mesma laia de “críticos” que associavam os jatos de TOP GUN: MAVERICK, ao órgão reprodutor masculino. São pessoas doentes, e que pior, estão espalhando sua doença pelo mundo. Não tenho nada contra protagonistas femininas em um bom filme de ação. Sigourney Weaver, Uma Thurman, Linda Hamilton, entre outras, já mostraram o poder feminino em cena, sem se apoiarem em uma agenda progressista, que diminui o homem, ao invés de considerá-lo um aliado. Tudo o que tais indivíduos doentes querem é colocar uns contra os outros, homens versus mulheres, filhos contra pais, e por aí vai. O que querem é a anarquia.

    1. ate vejo razao em um ou dois pontos seus (quererem te chamar de gay pq vc gostaria de homens musculosos e as mulheres protagonistas mostrando empoderamento em outros filmes), mas no geral vc viajou na maionese

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *