Pequena “Enciclopédia” Sobre Board Games de Horror – Parte 3
Essa é a terceira e última parte da pequena “enciclopédia” sobre board games de horror, que aborda os jogos focados nos monstros clássicos. Esse texto também trata de outros jogos que não se encaixam, exatamente, nas categorias abordadas anteriormente. Como de costume, é altamente recomendável a leitura dos dois primeiros textos que envolvem o universo lovecraftiano, mansões mal assombradas, apocalipses zumbi e jogador/traidor. Os dois primeiros textos podem ser acessados através dos seguintes links:
https://maxiverso.com.br/blog/2022/12/01/pequena-enciclopedia-sobre-board-games-de-horror-parte-1/
https://maxiverso.com.br/blog/2022/12/12/jogos-com-mansoes-assombradas-e-zumbis/
Só para não deixar nenhuma dúvida, as informações sobre peso e colocação dos jogos citados nesse texto são referentes ao momento em que ele foi publicado. Por isso podem ocorrer variações, nesses números, em relação ao momento em que o texto for lido
Esse texto final trata dos monstros clássicos de livros e filmes de terror. Os board games são os seguintes:
21) FURY OF DRACULA
O Fury of Dracula é um jogo para 2 a 5 jogadores de 2015 (3ª Edição) dos designers Frank Brooks, Stephen Hand e Kevin Wilson, com arte de Chris Beck e Samuel Shimota. O tempo de partida indicado é bem longo ficando entre 120 e 180 minutos, em média. O peso do jogo no BGG é 3.27 e sua posição no ranking geral é 273 (267 no Ludopedia). As principais mecânicas utilizadas são posicionamento secreto, diferentes habilidades, movimento ponto-a-ponto e gerenciamento de mão.
O jogo funciona no esquema “todos contra um”, em conjunto com a mecânica de posicionamento secreto. Desse modo, um jogador assume o papel do vilão (Dracula), seu objetivo é aumentar sua influência e só ele sabe a sua localização e o trajeto que fez. Já os jogadores jogam sem saber onde Dracula está e tentam ou escapar com vida ou localizá-lo e derrotá-lo.
O jogo é dividido entre dia e noite, e algumas ações só podem feitas em um período ou em outro. Quando os caçadores e o Drácula se encontram, eles combatem não através de dados, como é comum nos board games, mas sim com o uso de cartas, o que é um diferencial. A rejogabilidade é alta, porque em cada partida o Drácula pode fazer um trajeto diferente.
Imagem: BGG – Fury of Dracula
Essa mecânica de posicionamento secreto, que é a base do Fury of Dracula, foi consagrada no jogo clássico Scotland Yard, campeão do Spiel de Jahres de 1983. Uma curiosidade sobre esse jogo é que a Grow o lançou no Brasil, ainda nos anos 80, com grande sucesso. Porém, ela precisou trocar o nome para Interpol, porque a empresa já possuía no catálogo outro jogo anterior, chamado Scotland Yard, muito conhecido dos brasileiros. Isso sempre gera dúvidas quando alguém vê o Scotland Yard (nosso Interpol) na listagem de vencedores do Spiel des Jahres.
Imagem: BGG – 221B Baker Street
Na época a Grow queria lançar o “221B Baker Street”, que para quem não sabe é o endereço fictício do famoso detetive Sherlock Holmes. Como a Grow imaginou que esse nome não seria muito “vendável”, a empresa optou por lançar o jogo com o nome de Scotland Yard. De certa forma, isso não faz o menor sentido porque, pelo menos até onde se sabe, mesmo ajudando bastante a instituição, Sherlock Holmes nunca fez parte da Scotland Yard. Quase dez anos depois, em 1983, surgiu o “Scotland Yard” original. Isso acarretou um problema, porque a Grow também lançou esse jogo. Mas, como a empresa já possuía outro jogo chamado Scotland Yard no catálogo, acabou mudando o nome para Interpol.
Uma curiosidade sobre o Fury of Dracula é que ele tem uma história semelhante à do Arkham Horror, em termos de lançamento. Os dois são jogos originalmente bem antigos, e a primeira edição dos dois ocorreu na década de 80, ambos em 1987. Coincidentemente, a segunda edição dos dois jogos também saiu no mesmo ano em 2005. O mesmo não ocorre com a terceira edição, porque há uma diferença de três anos, sendo a do Fury of Drácula de 2015 e a do Arkham Horror de 2018.
Os links de vídeos de jogatina são os seguintes:
Fury of Dracula – Gameplay – Jack Explicador:
https://www.youtube.com/watch?v=nHbeWK88jG4 – 1/2
https://www.youtube.com/watch?v=EG4x1fjViC4 – 2/2
22) LAST FRIDAY
O Last Friday é um jogo para 2 a 6 jogadores de 2016 dos designers Antonio Ferrara e Sebastiano Fiorillo, este último também responsável pela arte. O tempo de partida indicado pode variar bastante, ficando dentro de uma média de 30 a 120 minutos. O peso do jogo no BGG é 2.26 e sua posição no ranking geral é 3.480 (840 no Ludopedia).
O Last Friday usa o mesmo esquema de “um contra todos” e a mesma mecânica de posicionamento secreto do Fury of Dracula. Em outras palavras, um jogador assume o papel do “Maníaco” e os demais jogadores são os campistas. O objetivo do Maníaco é matar os campistas e o dos campistas é sobreviver e matar o Maníaco. Os jogadores não sabem em que local o Maníaco está, nem qual o seu trajeto. Porém, diferentemente do Fury of Dracula, o Last Friday é dividido em quatro capítulos, e em dado momento, o caçador pode se tornar a presa. Para ficar bem temático, o maníaco pode retornar da morte para se vingar dos campistas.
Imagem: BGG – Last Friday (edição de 2016)
Uma curiosidade do Last Friday fica por conta do cenário e da ambientação do jogo. Para qualquer um, que tenha visto algum filme da série de terror Sexta-Feira 13, é óbvio que o Last Friday é uma “versão board game” desses filmes. Mas como a editora não consegui o licenciamento dos direitos autorais, o jogo não pôde utilizar os elementos específico do filme, mas apenas uma mesma ambientação genérica.
Por conta disso, no Last Friday o assassino é chamado apenas de “Maníaco” e não Jason Vorhees. Além disso, o acampamento é Camp Apache e não Camp Crystal Lake. Nem mesmo a icônica máscara de hockey pode ser utilizada. Dessa maneira, na capa da primeira edição do jogo (2016), “o Maníaco” está de costas, e na capa da expansão (2017), mesmo aparecendo de frente, e com uma máscara, seu rosto está escondido pela sombra.
Imagem: BGG – Last Friday (expansão de 2017)
Existe uma adaptação oficial da série de filmes (Friday the 13th: Horror at Camp Crystal Lake), mas que não despertou o interesse de nenhuma editora nacional, e há pouca chance disso ocorrer. Curiosamente o produto genérico deve ser melhor que o original, porque o Last Friday ocupa a posição 3.457, e o Friday the 13th a posição 14.955, no ranking BGG.
Outra coisa interessante é que pesquisando na Internet é possível encontrar pessoas que realmente entram no clima tanto do Fury of Dracula, quanto do Last Friday. Com isso eles acabam jogando usando a icônica máscara de hóquei e o facão do Jason Voorhess ou com a capa e os dentes pontiagudos do Drácula.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Last Friday – Gameplay – Tabula Quadrada:
https://www.youtube.com/watch?v=Gywo6VH6LyY
23) LETTERS FROM WHITECHAPEL
O Letters From Whitchapel é um jogo para 2 a 6 jogadores de 2011 dos designers Gabriele Mari e Gianluca Santopietro que também é o responsável pela arte. O tempo de partida indicado é longo, ficando entre 90 e 120 minutos. O peso do jogo no BGG é 2.65 e sua posição no ranking geral é 313 (359 no Ludopedia). As principais mecânicas são posicionamento secreto e movimento ponto-a-ponto.
Juntamente com o Fury of Dracula e o Last Friday, o Letters From Whitechapel fecha a trinca de jogos “todos contra um” combinado com posicionamento secreto. No geral, esse jogo funciona de forma muito similar aos outros dois. Só que nesse caso, um dos jogadores fará o papel de Jack Estripador. O nome do jogo inclusive se baseia nas cartas que o próprio Jack Estripador enviava para a Scotland Yard, oriundas do local onde ele fazia as suas vítimas.
Imagem: Ludopedia – Letters From Whitechapel
No início do jogo, o personagem que interpreta Jack Estripador precisa escolher o local do mapa onde fica seu esconderijo. O jogo é dividido em quatro noites, e em cada uma delas, Jack Estripador precisa cometer um assassinato e retornar ao seu esconderijo em segurança. Se ele conseguir matar suas vítimas nas quatro noites, sem ser capturado, ele vence a partida.
Os outros jogadores, por sua vez, são policiais que tentam capturar Jack Estripador e terminar com sua onda de crimes. A cada noite, um dos demais jogadores assume o papel de encarregado pela investigação, e posiciona os marcadores dos outros jogadores (os policiais) pelo tabuleiro. Uma coisa interessante é que no Letters From Whitechapel, tanto o Jack Estripador, quanto os policiais possuem peças com indicações falsas para tentar ludibriar uns aos outros.
Outra diferença, é que o Letters From Whitechapel não foi e muito provavelmente jamais será lançado nacionalmente. Isso porque já existem outros jogos desse estilo posicionamento secreto. Além disso, o jogo já tem mais de 10 anos de lançamento, o que faz dele um jogo antigo, conforme os atuais parâmetros do mercado nacional de board games.
Os links de vídeos de jogatina são os seguintes:
Letters From Whitechapel – Gameplay – Meu Turno:
https://www.youtube.com/watch?v=0v6062NLNQ4 (Noite 1)
https://www.youtube.com/watch?v=MTbVQcx88gc (Noite 2)
https://www.youtube.com/watch?v=MFUzazkR2U4 (Noite 3)
https://www.youtube.com/watch?v=iG6Qs0B2Ps0 (Noite 4)
24) ABOMINATION: THE HEIR OF FRANKENSTEIN
O Abomination: The Heir of Frankenstein é um jogo para 2 a 4 jogadores, de 2019, do designer Dan Blanchett e com arte de Mikhail Palamarchuk e Tony Sart. O tempo de partida indicado é longo, por volta de 120 minutos. O peso do jogo no BGG é 3.26 e sua posição no ranking geral é 930 (650 no Ludopedia). O jogo tem como principais mecânicas alocação de trabalhadores, rolagem de dados e coleção de conjuntos.
Esse jogo foge um pouco do padrão cooperativo dos jogos de horror em geral. Ao invés disso, ele é competitivo e envolve alocação de trabalhadores. Os jogadores assumem o papel de cientistas que disputam recursos para ver quem consegue obter mais criaturas ao final da partida. O Abomination: The Heir of Frankenstein não depende de cenários, mas apenas do quanto se gosta do jogo, por isso a rejogabilidade é muito grande.
Imagem: BGG – Abomination: The Heir of Frankenstein
Mesmo sendo um jogo recente, de 2019, é pouco provável que ele tenha um lançamento nacional. Isso porque o Abomination: The Heir of Frankenstein utiliza a alocação de jogadores como mecânica básica, e ela é a mais popular atualmente. Com isso, existem diversas opções de jogos de alocação de trabalhadores no mercado, muitos deles verdadeiros clássicos, e bem superiores ao Abomination: The Heir of Frankenstein. Por isso, não faz sentido para as editoras o lançamento de mais um jogo de alocação de trabalhadores, quando o mercado está mais do que saturado de jogos com essa mecânica. Até porque o sucesso internacional do jogo também não foi tão grande assim. Entretanto, a esperança é a última que morre.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Abomination: The Heir of Frankenstein – Gameplay – CasaNERDLol:
https://www.youtube.com/watch?v=r0RL76Rh87U&t=248s
25) HORRIFIED
O Horrified é um jogo para 1 a 5 jogadores de 2019, do designer Prospero Hall, que também é o responsável pela arte. O tempo de partida indicado não é muito longo, ficando em torno de 60 minutos. O peso do jogo no BGG é 2.06 e sua posição no ranking geral é 132 (437 no Ludopedia). O jogo tem como principais mecânicas movimento ponto-a-ponto, pegar e entregar, rolagem de dados, e diferentes habilidades.
Apesar de ser um jogo bem leve, o Horrified é um excelente jogo, muito bem colocado no ranking do site BGG. Não é qualquer jogo com peso 2.06, que figura entre os 200 melhores jogos de todos os tempos, produzidos no mundo todo.
Imagem: BGG – Horrified
No Horrified, o diferencial é que ao invés de personificar um dos monstros, os jogadores jogam contra eles. Por isso o jogo é cooperativo e os jogadores precisam livrar uma vila, dos monstros clássicos do gênero horror. A estrutura do jogo também prevê um modo solo, o que é sempre um bom diferencial, para quem tem dificuldade para montar um grupo de jogatina.
Cada monstro tem características únicas e, por isso, as estratégias para vencer cada um deles é diferente. A alta qualidade das miniaturas do jogo também é um ponto de destaque. Outro ponto positivo é que o jogo é divertido e fácil de aprender. Vale destacar também que o jogo tem um sistema de ajuste do grau de dificuldade, para jogadores iniciantes e para mais experientes.
Imagem: Ludopedia – Horrified: American Monsters
Além do jogo base, existe também uma versão específica, com base nos monstros tradicionais da cultura da América do Norte, como o Pé Grande e o Chupacabra. As duas versões funcionam basicamente da mesma forma, mudando apenas os monstros que trazem.
Muita gente está na torcida para que o Horrified tenha uma versão nacional, mas até o presente momento nenhuma editora local revelou interesse. Porém, como o Horrified é um jogo bem recente (2019), e o tema muito atraente, ainda há alguma esperança do lançamento de uma versão nacional, em português.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Horrified – Gameplay partida Solo – QG Bustilho:
https://www.youtube.com/watch?v=eKfyeiM1zLE
26) VALE DOS MONSTROS
O Vale dos Monstros é um jogo para 2 a 5 jogadores, de 2011, do excelente designer brasileiro Marcos Macri (do Chaparral e do Jester), com arte de Diego Sanchez. O tempo de partida indicado é médio, por volta de 60 minutos. O peso do jogo no BGG é 1.91, e sua posição no ranking geral é 8.760 (1.304 no Ludopedia).
Esse jogo é um dos nossos bons representantes nacionais, dentro do gênero. Ele se passa em um vale, onde os maiores ícones das histórias de terror (vampiros, múmias, bruxas, esqueletos, fantasmas e lobisomens) procuram aterrorizar um acampamento, cheio de vítimas indefesas. Aquele que conseguir assustar a maior quantidade de barracas do acampamento vence a partida.
Imagem: Ludopedia – Vale dos Monstros
Em um primeiro olhar, o jogo passa uma impressão infantil, inclusive pela escolha da arte. Porém, o jogo é bastante estratégico, e envolve a necessidade de uma boa leitura da mesa, e das opções dos outros jogadores, para se vencer a partida.
Além disso, esse clima mais infantil é um elemento muito importante, para atrair as crianças para o mundo dos jogos de tabuleiro, o que é um grande diferencial para quem tem filhos. Isso ocorre porque ele não é tão assustador, quanto os demais jogos do gênero, e desse modo pode ser jogado pelas crianças, sem nenhum receio.
O Vale dos Monstros está esgotado há muitos anos, mas existem diversas cópias no Mercado de Usados do Ludopedia, e com um preço excelente.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Vale dos Monstros – Regras – aBoard Games:
https://www.youtube.com/watch?v=FeY4_vWkuMY
27) A TOUCH OF EVIL: THE SUPERNATURAL BOARD GAME
O A Touch of Evil: The Supernatural Board Game é um jogo para 2 a 8 jogadores de 2008 do designer Jason C. Hill, que também assina a arte do jogo juntamente com Jack Scott Hill, Gael Goumon, James Ma e Matthew Morgaine. O tempo de partida indicado é bem variável, durando entre 60 e 120 minutos. O peso do jogo no BGG é 2.56 e sua posição no ranking geral é 1.164 (1.084 no Ludopedia). O jogo utiliza, como principais mecânicas, rolar e mover, diferentes habilidades, rolagem de dados e movimento de área.
Imagem: BGG – A Touch of Evil
A editora, o designer e os principais artistas são os mesmos do Last Night on Earth, que consta na 2ª parte da enciclopédia. Por isso, como não poderia deixar de ser, esse jogo também utiliza o recurso de fotos de atores reais, no lugar das ilustrações das cartas.
Apesar da semelhança e características comuns, o Last Night on Earth e o A Touch of Evil são jogos bem diferentes. O primeiro é totalmente cooperativo, enquanto que o segundo possui tanto o modo cooperativo quanto o competitivo. No modo cooperativo, os jogadores fazem parte da mesma equipe, tentando derrotar os monstros. No modo competitivo os jogadores jogam uns contra os outros para ver quem derrota os monstros primeiro, vencendo a partida.
Imagem: BGG – Last Night on Earth
Além disso, o A Touch of Evil comporta grupos maiores que o Last Night on Earth, de até 8 jogadores, tal qual o The Thing Board Game. Isso é muito raro no universo dos board games. De uma forma geral, os jogos de tabuleiro modernos são quase sempre para grupos de até 4 jogadores. Jogos para grupos maiores que 6 jogadores são quase sempre party games. Por isso, jogos mais robustos como A Touch of Evil, e que ao mesmo tempo comporte grandes grupos, são muito poucos.
Infelizmente a dependência de idioma é bem alta e a possibilidade de lançamento nacional também é praticamente nula, tanto para o Last Night on Earth, quanto para o A Touch of Evil. Apesar de ambos possuírem edições especiais comemorativas de 10 anos, de 2017 e 2020, respectivamente, na verdade eles são jogos antigos, com aproximadamente 15 anos de lançamento. Além disso, são jogos obscuros, mesmo no mercado internacional, e de uma editora de jogos pequena (Flying Frog Productions). Só para se ter uma ideia, as fichas do Ludopedia dos dois jogos indicam que, atualmente, somente 277 pessoas possuem o Last Night on Earth, número que cai para 75 pessoas, no caso do A Touch of Evil. Por isso, não se deve pensar duas vezes se aparecer alguma chance de experimentar qualquer um dos jogos.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
A Touch of Evil – Gameplay – Ismael Descolado:
https://www.youtube.com/watch?v=-xhQ_Ft_ExI
28) LUCIDITY: SEIS FACES DO PESADELO
O Lucidity: Seis Faces do Pesadelo é um jogo para 1 a 4 jogadores de 2018 (2020 no Brasil) da designer Shannon Kelly, com arte de Stephanie Gustafsson, Tyler Johnson e William Web. O tempo de partida indicado é curto, aproximadamente entre 20 e 30 minutos, o peso do jogo no BGG é 1.91 e sua posição no ranking geral é 4.776 (1.574 no Ludopedia).
O jogo utiliza a mecânica “force a sua sorte”, que funciona com os jogadores efetuando ações, seja comprando cartas ou rolando dados, até que ele decida parar. Parar antes é mais seguro, mas rende menos símbolos, continuar jogando rende mais símbolos, mas é muito mais inseguro. No caso do Lucidity isso funciona na obtenção dos dados, ou seja, o jogador compra os dados de uma sacola, retorna dois e rola o restante. Após isso o jogador sofre os efeitos dos dados rolados.
O Lucidity está ambientado no mundo dos sonhos, e os jogadores precisam conseguir 15 símbolos de poder, e escapar da influência dos sonhos. O jogador consegue esses símbolos rolando dados, mas se forem coletados símbolos errados demais, o jogador pode se corromper e até virar um Pesadelo. Caso isso ocorra, o objetivo deixa de ser escapar do mundo dos sonhos e passa a ser impedir a fuga dos outros jogadores, bem com se tornar o Pesadelo mais poderoso.
O lançamento do Lucidity foi um verdadeiro desastre, afetando profundamente a reputação do jogo. Isso, não porque o jogo fosse ruim, mas porque ele esteve envolvido em um dos maiores fiascos da história do board game nacional.
Imagem Ludopedia: Lucidity: Seis Faces do Pesadelo
Uma editora brasileira, que nem existe mais, ficou responsável pelo lançamento dos jogos Lucidity e Moa. O problema é que, aparentemente, os sócios da editora eram muito apaixonados por jogos, mas não entendiam muito de administração. Além disso, eles contavam com o dinheiro da pré-venda para cobrir os custos de produção e distribuição dos jogos. E aí se iniciaram os problemas, porque quase ninguém comprou os jogos na pré-venda, principalmente porque eles eram bem desconhecidos.
Para piorar, os sócios da editora não souberam se organizar muito bem, atrasando bastante o projeto. No período entre o fechamento dos contratos e a chegada do jogo ao Brasil, que acabou demorando mais do que a editora esperava, houve uma grande valorização do dólar. Isso fez com que as taxas alfandegárias e o custo do imposto de importação subissem muito mais do que a previsão da editora.
Com isso, os sócios ficaram com apenas duas opções. A primeira era gastar ainda mais dinheiro com os impostos e taxas, e tentar vender os dois jogos com baixíssimo apelo junto ao mercado nacional para diminuir o prejuízo. Mas, isso implicava um grande risco de aumentar ainda mais as perdas. A segunda opção era entubar o prejuízo, não gastar mais dinheiro com o pagamento dos impostos e custos de armazenagem, e simplesmente abandonar os jogos no porto. Os sócios escolheram essa segunda opção, abandonando os jogos no porto, inclusive as cópias já vendidas. Com isso, a editora fechou, praticamente antes mesmo de começar suas operações. Pelo menos, o dinheiro dos poucos apoiadores que embarcaram no projeto foi devolvido.
Isso gerou certa comoção dentro da comunidade boardgamer, porque a notícia foi de que as cópias seriam destruídas, caso não fossem arrematadas em leilão. Para maiores detalhes, basta acessar a ficha do Lucidity no Ludopedia.
Imagem Ludopedia: Lucidity: Seis Faces do pesadelo – Tabuleiros Individuais
Até mesmo a editora australiana do Lucidity se pronunciou, lamentando esse possível e trágico destino da versão brasileira do jogo. Entretanto, um sujeito que trabalhava com venda de mercadorias abandonadas na alfândega se interessou, e arrematou o lote de jogos no leilão. Esse sujeito não tinha nada a ver com board games, nem com a editora nacional. Atualmente, ele é o responsável pela venda, tanto do Lucidity, quanto do Moa. Na ficha dos jogos no Ludopedia aparece o nome da editora nacional e logo em seguida a indicação de “independente”, como se não houvesse uma editora responsável.
Esse foi um episódio emblemático, que comprova como o mercado nacional de board game ainda é amador, e como existem pessoas totalmente despreparadas atuando no setor. Claro que o mercado brasileiro de board games evoluiu bastante, mas muito menos do que se imagina. Uma prova disso é que ainda hoje, surgem diversos lançamentos de jogos de enorme sucesso internacional, caríssimos e de editoras locais grandes, mas recheado de erros de produção e traduções mal feitas. Isso demonstra a total ausência de investimentos sérios em revisão e controle de qualidade. Uma lástima, mas é a nossa realidade.
No caso do Lucidity, toda essa novela prejudicou sobremaneira as vendas do jogo. Primeiro porque ele ficou marcado e associado, ao amadorismo da editora que pretendia lançar o jogo. E segundo porque se alguém comprar uma cópia mofada, ou se faltarem peças, não haverá reposição. Desse modo, para aqueles que se interessarem pelo jogo, é aconselhável levar essas questões em consideração, antes de efetuar a compra.
Os links de vídeos são os seguintes:
Lucidity: Seis Faces do Pesadelo – Review – 3dus:
https://www.youtube.com/watch?v=5F_HaQbgPpU
https://www.youtube.com/watch?v=NICe848SquA
29) ANCIENT TERRIBLE THINGS
O Ancient Terrible Things é um jogo para 2 a 4 jogadores de 2014 (2019 no Brasil) do designer Simon Mcgregor, com arte de Rob van Zyl. O tempo de partida indicado é de 60 minutos, em média. O peso do jogo no BGG é 2.05 e sua posição no ranking geral é 2.184 (723 no Ludopedia).
O jogo tem uma pegada meio “Indiana Jones”, e os jogadores são aventureiros explorando um rio, em uma selva tenebrosa e cheia de segredos e perigos. Assim sendo, ao longo da partida, acontecem “encontros” que os jogadores devem vencer, e para isso eles usam uma combinação de dados e cartas. O objetivo é ser o jogador com a maior quantidade de segredos antigos conquistados, ao final da partida.
Imagem Ludopedia: Ancient Terrible Things
O Ancient Terrible Things também faz uso de fichas com diferentes efeitos e que são divididas nas seguintes categorias: Foco, Talento, Tesouro e Coragem. O jogador usa as fichas de Foco para re-rolar os dados, após um resultado ruim. Já as fichas de Talento permitem ao jogador descer cartas de sua mão, para gerar efeitos únicos. As fichas de Tesouro servem para comprar cartas de efeito permanente no Posto Comercial. Por fim, as fichas de Coragem servem para que o jogador vença um encontro, sem a necessidade de rolar os dados.
Esse é outro jogo que sofreu muito, e injustamente porque ele é bom, devido a sérios equívocos empresariais, cometidos pela editora responsável pelo lançamento nacional. Foi feito um financiamento coletivo em 2017, que obteve grande sucesso. Porém o lançamento teve um atraso de mais de dois anos, que só ocorreu em 2019. Isso levou muitas pessoas a não apenas pedirem o dinheiro de volta, mas a reclamarem com toda a razão nos fóruns de board games. Por conta disso, para compensar o atraso, a editora ofereceu “brindes” aos apoiadores, mas aparentemente nem todos receberam, e a emenda foi pior que o soneto. Não ficou claro quem receberia o brinde, nem qual seria o processo necessário para isso. Para piorar, os responsáveis pela editora quase não davam notícias sobre o andamento do projeto, e quando faziam, era de modo para lá de vago.
Imagem BGG: Ancient Terrible Things – Tabuleiro
No final, a editora ficou com a reputação muito manchada, principalmente depois do desastre do Tsukiji também financiado pela mesma editora. Para maiores informações basta pesquisar a ficha dos dois jogos no Ludopedia. Com isso, os sócios da editora nacional acabaram desistindo de uma marca com anos de tradição, principalmente em RPGs, e a empresa foi absorvida por uma editora estrangeira, se tornando uma mera filial brasileira. Esses dois fiascos, entre outros, fizeram com que muitas pessoas desistissem, totalmente, de apoiar financiamentos coletivos nacionais (inclusive de outras editoras). Várias pessoas preferem comprar os jogos após eles chegarem às prateleiras das lojas especializadas, mesmo que mais caro, porque isso é mais seguro.
Isso foi realmente uma pena, porque o Ancient Terrible Things é um jogo muito legal e divertido, para quem não se importa com lançamento de dados, e que possui inclusive uma expansão lançada aqui em 2015 (Lost Chapter), e uma mini-expansão lançada em 2017 (A Loucura de Mcguffin).
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Ancient Terrible Things – Gameplay – CasaNerdlol:
https://www.youtube.com/watch?v=ux4FaphZeUY&t=635s
30) TRIORA: CIDADE DAS BRUXAS
O Triora: Cidade das Bruxas é um jogo para 2 a 4 jogadores de 2019 do designer Michael C. Alves e com arte de Marcelo Bissoli. O tempo de partida indicado é de 100 minutos, em média. O peso do jogo no BGG é 3.10 e sua posição no ranking geral é 10.348 (223 no Ludopedia). As principais mecânicas são alocação de trabalhadores, coleção de conjuntos, controle de área e ordem de fases variável.
Esse jogo é mais um representante nacional dentro do gênero dos jogos de horror. Por isso é fundamental não se deixar levar pela baixa posição que ele ocupa no ranking do BGG. Isso porque o Brasil não está entre os grandes países produtores de board games, e o mercado nacional tem um consumo mínimo, sendo praticamente inexistente em termos mundiais. Assim sendo, é muito natural que um jogo brasileiro não seja tão conhecido por jogadores de outros países, e é a opinião destes que determina a posição no ranking BGG.
Além disso, é preciso destacar que talvez não seja politicamente correto, hoje em dia, falar de “bruxas” como um elemento de horror. Isso porque é preciso considerar que, atualmente, um número crescente de pessoas praticam a religião Wicca, que merece tanto respeito quanto qualquer outra religião. Por isso o tema deve ser explorado com bastante cautela, para não ofender a quem quer que seja.
Imagem Ludopedia: Triora: Cidade das Bruxas
Nos últimos anos a palavra “bruxa” perdeu muito do seu efeito assustador de outrora. Isso porque atualmente, esse termo (bruxa) está mais atrelado a uma maior relação com a natureza, e muitas pessoas se identificam com isso, nos dias de hoje. Por outro lado, é inegável que quando se fala no gênero horror, pelo menos no aspecto cultural, as bruxas continuam ocupando um lugar de destaque.
Da mesma forma que o Abomination: Heir of Frankenstein, o Triora: Cidade das Bruxas também é um jogo competitivo, com alocação de trabalhadores. O fator sorte é mínimo, assim como a interação direta entre os jogadores, salvo evidentemente, o bloqueio dos locais para alocação dos meeples. Apesar disso, se os jogadores não interagem diretamente, a opção de cada um influencia a estratégia dos demais, principalmente por conta do Inquisidor. Esse personagem exerce o papel de “caçador de bruxas”, e percorre o tabuleiro sempre atrás daquela que tiver a maior contagem na Trilha da Inquisição. Como diversas ações alteram essa contagem, em dado momento uma bruxa que esteja na mira do Inquisidor, pode realizar uma determinar ação, diminuir a sua própria contagem e tornar outra bruxa o “alvo” do Inquisidor. Por isso é preciso prestar muita atenção ao que cada um está fazendo, durante a partida.
Imagem: BGG – Triora: Cidade das Bruxas – Tabuleiro
O jogo está ambientado na cidade italiana de Triora. Isso porque ela é famosa por ter queimado diversas mulheres sobre a acusação de bruxaria, durante a fase mais violenta da Inquisição. No cenário do jogo, uma dessas bruxas executadas foi a famosa Morgana. Por isso, os jogadores encarnam bruxas seguidoras de Morgana, em busca de vingança pela execução de sua mentora. O objetivo é destruir a maior quantidade de locais da cidade.
O Triora: Cidade das Bruxas é um ótimo jogo de alocação de trabalhadores, e tem um excelente custo benefício, custando atualmente (dezembro de 2022) cerca de R$ 200,00 (cópias usadas). Esse é um excelente preço, considerando toda a estrutura e quantidade de componentes que o jogo trás.
O link do vídeo de jogatina é o seguinte:
Triora: Cidade das Bruxas – Gameplay – Covil dos Jogos:
https://www.youtube.com/watch?v=3AofaojsOy4
Com essa última e terceira parte chega ao fim a Pequena Enciclopédia de Jogos de Horror. Infelizmente muitos jogos ficaram de fora, para que os textos não ficassem muito longos. Porém, todos aqueles citados nos três textos são bons jogos, alguns melhores que outros, e merecem no mínimo uma jogatina para experimentar.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Iuri Buscácio
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que coisa estranha o Last Frdaiy, pq raios nao iriam querer ceder direitos pro jogo??? a franquia “morreu” entao qualquer dolar que entrasse seria bem vindo… o amadorismo nao ocorre so em terras brasileiras hahaha
Caro Josef Kalha
Muitas vezes o preço para licenciar um produto é tão alto, que a empresa prefere não pagar, ou não tem condição de pagar tanto, e acaba lançando um produto genérico, sem pagar a licença.
Além disso, é preciso considerar que talvez a empresa detentora dos direitos autorais do filme já tivesse planos de lançar o jogo “oficial”, o que só ocorreu quatro anos depois, e não quisesse nenhuma concorrência. O pior de tudo isso, é ver que o produto genérico acabou saindo bem melhor, que o produto oficial.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio