Trata-se provavelmente da melhor série de “super heróis” já feita para a televisão. Pelo menos considerando-se fatores como público-alvo, produção, etc., e sem levar em conta séries vindouras como as que a Marvel promete para os próximos anos, ou Watchmen, que deve estrear em breve.

Se você ainda não viu, portanto, recomendamos muito – muito mesmo – que assista The Boys.

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A série adapta o brilhante material original dos quadrinhos de Garth Ennis, e se você conhece esse escritor, já sabe mais ou menos o que esperar da produção, que manteve o tom +18 como não poderia deixar de ser. Nas HQs, The Boys (2006 a 2012) é uma crítica ácida (ou uma “sátira”, mas a la Ennis…) aos super-heróis e seus status de celebridades mundiais, realçados por toda uma cultura de consumo e idolatria em seu entorno. Resumindo: são seres poderosos, egoístas, interessados mais em seus ganhos pessoais do que em ajudar os “humanos comuns”, e são bancados por grandes corporações que lucram com o seu heroísmo produzindo filmes, brinquedos, quadrinhos, etc.

The Boys é uma série que tem um público muito bem definido, é importante pontuar. E não é o mesmo – a princípio – público das séries de heróis da CW ou da Marvel – mesmo as mais “pesadas” como Demolidor e Justiceiro. Até por isso, The Boys não pode ser comparada com essas outras séries. São propostas tão distintas quanto as ofertadas, por exemplo, pelo leve e despretencioso Os Incríveis (The Incredibles – 2004) e o épico sombrio e dramático Guerra Infinita (Avengers – Infinity War – 2018), ou então, quanto os quadrinhos da Liga da Justiça e os quadrinhos de… The Boys, a antítese completa da visão mais lúdica e heróica dos super seres das HQs, que têm na Liga sua mais inspiradora representação. É tudo super-herói, no final. Mas são obras muito diferentes entre si, com propostas e públicos distintos. Ou não tão iguais.

Na série da TV (que adaptou muito bem o real e verossímil mundo que serve de cenário para os personagens criados por Ennis), vemos uma fiel retratação de toda sordidez que permeia a sociedade na qual os “heróis” estão mais preocupados com suas carreiras do que com a ajuda que podem levar aos que dela precisam. A Amazon mudou vários pontos da história das revistas, a começar pelo começo, que parece se dar em uma época anterior à das HQs, do ponto de vista da equipe dos protagonistas. Mas o cerne da história pesada e com altas doses de crítica à visão otimista que domina 99% dos comics foi mantida. O grafismo das cenas de lutas e mortes está todo lá, apesar da nudez – quem diria – ser mais tímida, pelo menos no que tange às personagens femininas, em um acerto que ficou na medida, sem pender para a militância, mas deixando bem claro que o modelo adotado na série é subversivo em relação aos padrões mais comuns, incluindo aqueles da obra original.

A produção merece outros elogios. Os personagens estão bastante fiéis aos quadrinhos, salvo algumas exceções. Os figurinos estão perfeitos, sendo inquietante inclusive tentar decidir se os enchimentos colocados no uniforme do “Superman” daquele mundo são perceptíveis de propósito ou não, mas o fato dos uniformes das heroínas mulheres, apesar de realçarem suas curvas, não serem colados como poderiam, mostrando-se “frouxos” ou pouco ajustados em locais específicos, ao contrário dos uniformes dos heróis homens, já dá sinais de que nada ali foi feito ao acaso. Também podemos notar diversas referências, às avessas, à atual safra de filmes de heróis, a idolatria dos fãs nas convenções, etc.

Com uma trama que prende desde o início, e que condensa os arcos iniciais das revistas, a série The Boys prima não só pela produção e o roteiro bem engendrado, mas também pela excelente atuação dos principais atores, destacando-se o ótimo Karl Urban (o Dr McCoy da nova série de filmes Star Trek), que retrata na medida todo o cinismo e o jeito amargo de Butcher – “Bruto”, na péssima tradução feita para o português, por fugir da essência da mensagem do nome original – encarar a vida.

The Boys é uma grata surpresa. A qualidade da série suplantou todas as expectativas e permite que a consideremos a melhor série de (anti)heróis já feita para a televisão. Mas não acredite em nós: confira por você mesmo. Vale muito a pena.

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AvatarRalph-150x150 Séries: a incrível The Boys

Ralph Luiz Solera

Escritor e quadrinhista, pai de uma linda padawan, aprecia tanto Marvel quanto DC, tanto Star Wars quanto Star Trek, tanto o Coyote quanto o Papaléguas. Tem fé na escrita, pois a considera a maior invenção do Homem... depois do hot roll e do Van Halen, claro.

9 thoughts on “Séries: a incrível The Boys

    1. Jackson a proposta é essa, vc não pode esperar uma coisa de algo que chega com outro objetivo. Do mesmo modo não pode esperar gore da série do Flash ou da Supergirl, pois as propostas são outras. Diante disso dá pra vc analisar a série com base justamente no que ela se propõe a fazer.

  1. nao sei se é a melhor mas sem duvida nenhuma é a que eu mais gostei de todas que ja assisti recomendo………!!

  2. realmente é muito boa, normalmente torço o nariz pra essas adaptacoes mas olha, talvez seja a melhor mesmo, mas gosto muito da serie do Demolidor, principalmente a segunda temporada!!!

    1. Tb gostei de Demolidor, mas pra mim, The Boys superou!

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